Nossa sociedade precisa acordar e se conscientizar de uma epidemia que existe há cinco séculos, e que até hoje não existe vacina | Foto: Pedro Luiz | Empoderamente
Muito se falou sobre antirracismo em 2020. Principalmente em junho, quando foi criado o #BlackOutTuesday, uma ação organizada para protestar contra o assassinato de George Floyd, Ahmaud Arbery e Breonna Taylor. O que se viu nessa época foram várias pessoas, inclusive brancas, postando fotos pretas em seus perfis e seguindo criadores de conteúdo negros.
Foi então que o antirracismo tornou-se a “pauta do momento” (com muitas aspas, pois sabemos que essa mobilização não causou tanto impacto em alguns pontos) e o que se viu foram pessoas brancas se permitindo conhecer e tentar entender a pauta racial. Mas até onde vai o antirracismo das pessoas brancas? Afinal, não foram poucas as vezes que essas mesmas pessoas, das fotos pretas no Instagram e interessadas em seguir criadores negros, questionaram muitos discursos, justamente por não conseguir se colocar no lugar de pessoa que contribui com essa opressão. Sim, pois é, para ser antirracista é preciso entender algumas coisas básicas, como: 1) o racismo foi criado pelo branco; 2) todo branco é racista, pois se beneficia de alguma forma dessa estrutura; e 3) é preciso questionar privilégios.
Costumamos chamar novembro de “mês da paciência negra”, pois, incomodados com uma época para celebrar a resistência da população negra, muitos costumam retornar ao discurso de que deveria existir um “dia da consciência humana”, ou que “todas as vidas importam”. Mas é preciso reforçar sempre o quanto o discurso da democracia racial e de que “somos todos iguais” é uma grande falácia, em um país que até hoje nega a existência do racismo, mesmo diante de tantos dados sobre este problema.
Não somos iguais justamente porque existe um sistema que todos os dias mata várias pessoas pretas por conta da cor de pele e/ou lugar onde vive. Se todas as vidas importassem, as vidas negras não teriam tanto pouco valor na nossa sociedade, que vulnerabiliza diariamente a nossa comunidade. Como é que todas as vidas importam se pessoas brancas não aceitam políticas públicas que equiparem esses problemas e deem oportunidades às pessoas que são, historicamente, excluídas da maioria das opções e direitos?
Não dá para ser antirracista sem questionar os próprios privilégios., sem pensar, minimamente, nos porquês de nossos gritos. Estamos gritando que Vidas Negras Importam, pois a vida que é tratada como se não tivesse valor é a negra. E a consciência negra serve não só para empoderar pessoas pretas, mostrá-las a importância de conhecer sua própria história e se autoafirmar com orgulho, mas também para falar que a nossa sociedade precisa acordar e se conscientizar de uma epidemia que existe há cinco séculos, e que até hoje não existe vacina.
*Ashley Malia é repórter do Portal A TARDE, influenciadora digital e criadora do Papo Afro. Na internet escreve sobre raça, autoestima, literatura e comportamento.