Comércio abriu mas moradores ainda se dizem comovidos com a perda
Um dia após o enterro de dona Canô Veloso, a população de Santo Amaro da Purificação (a 72 km de Salvador) retomou a rotina. Apesar de o governador Jaques Wagner ter decretado luto oficial no Estado por três dias, na manhã desta quinta-feira, 27, o comércio da cidade abriu as portas e o movimento era intenso. Mesmo retornando às atividades, os moradores ainda se mostravam comovidos com a perda da cidadã mais ilustre do município.
"Ela era um exemplo de caridade e força, por isso resolvi voltar ao trabalho. Ela era uma pessoa boa, maravilhosa, que Santo Amaro sempre vai lembrar com muito carinho", afirmou o comerciante Paulo Carvalho, 51 anos. No cemitério Campo da Caridade, onde a matriarca dos Velloso foi enterrada quarta-feira, centenas de flores enviadas por amigos, parentes e admiradores cobriam o jazigo da família.
Sob forte sol, o auxiliar funerário Joildo de Freitas, 41, cuidava do túmulo com esmero. "Não quero desmerecer ninguém, mas o túmulo de dona Canô é diferente, merece um carinho especial", disse. Na função há 21 anos, Joildo contou que o sepultamento de dona Canô foi o mais emocionante que já presenciou. "Foi uma cerimônia bonita, do jeito que ela merecia. Nunca vi esse lugar tão cheio. Todo mundo veio prestar a última homenagem, foi muito bonito", afirmou, comovido.
Apreensão - Além de mãe de dois grandes nomes da música brasileira, dona Canô era responsável por movimentar o município em eventos como a lavagem da Igreja Matriz da Nossa Senhora da Purificação e o próprio aniversário. Sempre cercada de artistas e políticos, as festas eram alvo de cobertura da imprensa local. Por conta disso, os moradores estão apreensivos sobre o futuro de Santo Amaro.
"A cidade não está em boas condições atualmente, mas só não está pior porque dona Canô se preocupava muito com a preservação do patrimônio", afirmou a vendedora Érica Silva de Jesus, 21.
Outra questão que aflige os moradores do local é a situação de abandono em que se encontra o Rio Subaé, que corta a cidade. Ao longo dos anos, dona Canô tornou-se uma ativista do meio ambiente, reivindicando a despoluição do rio.
"A esperança para a despoluição do rio era a influência dela. Agora, parece que a cidade ficou órfã, tenho medo do que será dos nossos filhos e netos que vivem aqui. Dona Canô era bem relacionada e, sempre que possível, trazia apoio para a cidade", desabafou a aposentada Carmen Oliveira, 52.