Moradores querem atrair turistas para Alameda da Lua
Um desbravador estrangeiro descobre um lugar paradisíaco, até então desconhecido das grandes metrópoles e com difícil acesso. Lá, ele encontra uma população local, que vivia em harmonia com a natureza e dela tirava o seu sustento. Esta poderia ser a narração da história do Brasil. Mas, no lugar de caravelas, índios e Pedro Álvares Cabral, estão os pescadores, a Praia do Forte e seu "descobridor", o empresário Klaus Peters.
A partir da década de 1970, com a compra das terras e a construção de um eco resort pelo paulista Klaus Peters, a Praia do Forte - que atualmente pertence ao município de Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS) - ganhou um plano diretor de desenvolvimento e se transformou em um dos principais destinos turísticos do País. Entretanto, apesar da intensa atração de grandes lojas e marcas nacionais e internacionais, o investimento se concentrou apenas na Alameda do Sol, atualmente a principal rua da localidade, paralela à faixa litorânea. Agora, um projeto criado por moradores e comerciantes pretende intensificar a economia da região e oferecer mais opções aos visitantes.
A partir de seis tópicos de reivindicação - que incluem melhorias na iluminação, poda de árvores, instalação de lixeiras e câmeras de segurança, proibição de veículos automotores e ronda policial a partir das 22h -, o projeto "Na rua de trás tem muito mais" tem a proposta de aumentar a circulação de consumidores na Alameda da Lua que, apesar da ligação direta com a rua principal, não possui a mesma visibilidade em relação aos turistas.
A ação vai beneficiar cerca de 30 estabelecimentos - lojas de roupas, salão de beleza, lan house, tapiocaria, pousadas, restaurantes e delicatessen, entre outros -, sendo que 90% são administrados por moradores. "O projeto vai proporcionar mais diversidade na oferta de serviços, além de desafogar a rua da frente, dando mais conforto ao cliente para trafegar pelos estabelecimentos. Para o nativo, vai gerar emprego e renda, não só para quem é dono do negócio, mas também para aqueles que alugam os imóveis onde as empresas se estabelecem", explica o empresário Vítor Specht, criador do projeto em parceria com a associação comercial da localidade.
A maioria das solicitações feitas à prefeitura já foram realizadas, como iluminação, poda das árvores e ronda noturna para inibir os casos de violência e tráfico de drogas no local. A única ação pendente é a instalação das câmeras de segurança, que depende de um processo de licitação previsto para janeiro de 2014. Vítor ressalta que, após a execução das melhorias, começa a segunda etapa do projeto, com a implantação de totens na rua principal, onde serão fixadas as marcas de cada estabelecimento, convidando os transeuntes a visitarem a rua de trás. A terceira etapa, prevista para março, é a pintura da fachada de todos os estabelecimentos com cores diferentes, semelhante à ação realizada no Pelourinho.

Restaurantes da Alameda da Lua oferecem preços mais acessíveis (Foto: Thaís Seixas | Ag. A TARDE)
Aumento nas vendas
Com as mudanças, a expectativa dos comerciantes é que haja um crescimento considerável nas vendas. É o que revela Fábio de Paula, nativo de Praia do Forte e dono de um restaurante na Alameda da Lua. "A média de preço dos pratos que servimos aqui na Alameda da Lua é de 20% a 30% mais barata do que os restaurantes da rua da frente. Com as melhorias e esse crescimento ordenado, nós esperamos um aumento de 50% nas vendas".
A representante da Secretaria de Cultura e Turismo de Mata de São João, Rafaella Pondé, destaca a implantação do Conselho de Segurança de Praia do Forte como umas das ações de apoio à iniciativa. "O projeto é muito bom e importante para a Praia do Forte, que vem crescendo a cada ano em número de visitantes e que tem muito a mostrar não só na Vila Principal, mas também nas ruas paralelas", opina.
História
O comerciante Antônio Queiroz lembra que a Praia do Forte já foi bem diferente do que é hoje. Ele revela que o desenvolvimento da região começou na década de 1980, com a construção de uma ponte que ligava a Estrada do Coco ao local. A chegada do Projeto Tamar também foi um dos acontecimentos que contribuíram para o crescimento e a atração de turistas, mas Antônio ressalta que os moradores ocupam apenas funções menos remuneradas.
"O Tamar dá emprego, mas quem ocupa o primeiro escalão são profissionais que vêm de fora, do sul do País. O máximo que um nativo chega é ao cargo de secretária, atendente de loja e serviços gerais. Eles deveriam dar mais apoio para os jovens fazerem uma faculdade de biologia, por exemplo", enfatiza o morador.
A esposa de Antônio era uma das funcionárias do Projeto Tamar, mas optou por sair do emprego e apostar no empreendedorismo juntamente com ele, que trabalhava na construção civil. Os dois montaram um restaurante na Alameda da Lua e acreditam que o projeto "Na rua de trás tem muito mais" também irá atrair mais clientes para o estabelecimento. O comerciante destaca que esta também será uma oportunidade para o aluguel dos imóveis.
"A rua da frente foi mais priorizada porque era a maior. O calçamento chegou lá primeiro e a energia também, então se desenvolveu mais rápido do que aqui. Mas o turismo foi crescendo e as pessoas passaram a alugar quartos e salas para fazer pontos comerciais, indo morar na parte de trás dos imóveis. Se você observar, todas as lojas da frente têm residência fixa no fundo", conclui o comerciante.
* Especial para o portal A TARDE