Documentos recolhidos em malotes podem apontar ainda mais participantes
A Operação Hollerith, deflagrada pela Polícia Federal no sudoeste baiano, apura o desvio de R$ 745.756,94 em recursos públicos federais na cidade de Caatiba, distante 596 km de Salvador.
Agentes federais de Vitória da Conquista (a 509 km de Salvador) cumpriram seis mandados de busca e apreensão e sete mandados de condução coercitiva.
"Nós começamos a investigação a partir de denúncia levada ao Ministério Público Federal (MPF), do resultado de uma sindicância interna aberta na prefeitura para apurar as irregularidades quando se tornaram públicas, cuja conclusão responsabilizou dois servidores", disse o coordenador da PF em Conquista, delegado Marcelo Siqueira, sem citar nomes.
Ele adiantou, no entanto, que no material apreendido nesta quinta-feira, 22, os investigadores devem encontrar a comprovação sobre o envolvimento direto de mais pessoas. "O número de envolvidos na fraude deve crescer com as provas documentais e os depoimentos", afirmou Siqueira.
A PF não descarta a participação do prefeito de Caatiba Joaquim Mendes de Souza Jr. no esquema. Este disse que abrirá processo administrativo para apurar o fato.
O delegado que dirige o inquérito destacou que entre janeiro de 2013 e janeiro deste ano o grupo investigado atuou na contabilidade e no setor de recursos humanos da prefeitura municipal de Caatiba aumentando os valores dos salários de alguns servidores e incluindo funcionários-fantasmas na folha de pagamento do município.
Fundeb
As investigações apontam que estes "fantasmas" residem em municípios vizinhos (Poções, Planalto e Ibicuí), que nesta quinta também foram alvo da operação e teriam recebido recursos públicos ilegalmente, sobretudo aqueles oriundos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Os policiais querem provar a ligação entre as pessoas investigadas, buscando se certificar da existência da organização criminosa, a função que cada uma delas exercia, apontando valores e bens adquiridos com os recursos públicos que foram desviados.
O delegado salientou também que os fatos apurados se configuram, em tese, em crimes de constituição e integração de organização criminosa, peculato e de inserção de dados falsos em sistema de informações.
Denominação
A operação foi denominada de Hollerith numa referência a Herman Hollerith, empresário americano que a partir do final do século XIX impulsionou a utilização de máquinas leitoras de cartões perfurados para o processamento de dados em massa.
A partir do seu nome, surgiu o termo holerite, "que é o demonstrativo impresso de vencimentos de um trabalhador pertencente ao setor público ou privado (o mesmo que contracheque)", enfatizou o delegado Marcelo Siqueira.