O controle da vazão do Lago de Sobradinho vem gerando conflitos de interesses entre usuários da região
Os testes de redução da vazão defluente do Lago de Sobradinho, no rio São Francisco, para 600 m³ por segundo (m³/s) começaram nesta segunda-feira, 29. A redução é a mais baixa de toda história do reservatório, construído na década de 1970.
Esse patamar de vazão, que vem gerando conflitos de interesses entre os usuários, é reflexo da severa estiagem que atinge a região do semiárido brasileiro, considerada pelos pesquisadores a pior do último século, e que vem se agravando nos últimos sete anos.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), entre outubro de 2016 e maio de 2017, choveu em média 51% abaixo do esperado para o período na região, afetando também os reservatórios de rios que não são perenes.
Nos 452 açudes de fontes intermitentes monitorados pelo Sistema Olho N'Água, o total acumulado até ontem era de 5.610 bilhões de metros cúbicos (m³), representando 16,9% da capacidade total de armazenamento.
Mantido em parceria entre o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no estado da Paraíba, o sistema está disponibilizando o resultado de mais de 10 anos de pesquisas nos estados que fazem parte do semiárido.
De acordo com o diretor do Insa e pesquisador da área de recursos hídricos, Salomão Medeiros, no semiárido as estiagens severas são cíclicas. “Entretanto, nos últimos sete anos tivemos uma redução drástica das chuvas, o que levou ao quadro atual”, disse.
“O agravante é que em praticamente todos os estados que formam o bioma, o quadro de chuvas para o período está finalizando, o que significa que só na próxima temporada chuvosa vão receber águas”, afirmou Medeiros, ressaltando que não há previsão de chuvas atípicas na área por parte do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Além da Bahia, que até ontem estava com 218 municípios com decreto reconhecido pelo estado por causa da seca, fazem parte do semiárido e do monitoramento os estados de Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Pernambuco
Segundo dados do sistema Olho N´Água, no vizinho estado do Pernambuco a água armazenada, até ontem, era de 4,5% da capacidade total, sendo um dos quadros mais graves dos nove estados atingidos.
Entretanto, para o diretor de Águas do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema), Eduardo Topázio, “a porção norte do semiárido baiano, que sempre é o mais atingido pelas secas, este ano está em situação mais grave ainda”.
Ele ressaltou que a principal recomendação para a população, irrigantes e indústrias é a economia drástica de água, “porque estamos enfrentando um período de seca excepcional”.
Dentro desta proposta, usuários do rio São Francisco e seus afluentes farão no dia 14 de junho o primeiro Dia do Rio deste ano, com suspensão completa das captações, exceto para abastecimento público, “com a adesão já confirmada dos irrigantes baianos”, explicou Topázio.
O rio é a principal fonte hídrica para moradores ribeirinhos e também populações que moram distante, através dos sistemas de captação, tratamento e distribuição construídos em diversas regiões do estado.