Estudante no laboratório do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde o arrocho de verbas para pesquisa tem ocorrido desde 2015
Na data em que se comemora o Dia Nacional do Pesquisador e o Dia Nacional da Ciência, ambos celebrados neste domingo, 8, pesquisadores e representantes de universidades ouvidos por A TARDE afirmam que não há muito o que se comemorar.
>>Criada há quatro anos, UFSB diz ser uma das mais prejudicadas
Eles estão preocupados com os impactos dos cortes orçamentários ocorridos nos últimos cinco anos nas pesquisas científicas, que vão desde a compra de equipamentos e materiais até a diária e passagens dos pesquisadores.
A TARDE solicitou às universidades públicas na Bahia que fizessem um levantamento da situação. Nenhuma delas, no entanto, conseguiu mensurar quantas pesquisas foram impactadas, reduzidas ou até mesmo canceladas. No entanto, todas elas informaram que as consequências são negativas e ameaçam o desenvolvimento das pesquisas realizadas.
O pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Aristeu Vieira, afirmou que pesquisas em diversas áreas têm sido impactadas, principalmente as que demandam equipamentos e materiais de consumo específicos como reagentes de laboratório.
“Estudos importantes sobre o semiárido, seja em sua constituição de flora, seja da fauna, pesquisas sobre o potencial biotecnológico de produtos vegetais, pesquisas sobre a saúde e controle e prevenção de enfermidades têm sido particularmente afetadas”, disse Vieira
Recurso retido
Segundo o pró-reitor, em maio de 2017, em levantamento feito com pesquisadores da Uefs foi detectado que R$ 5,2 milhões em projetos de pesquisa aprovados desde 2014 não havia sido repassados pela Fundação de Apoio à Pesquisa no estado da Bahia (Fapesb), uma das principais agência de fomento da pesquisa.
“Até hoje, alguns pesquisadores foram contatados e recursos liberados, entretanto, um passivo importante ainda está por ser vencido. Com relação às agências de fomento, seja a Fapesb, sejam as agências federais, o número de editais de apoio à pesquisa vem sendo apresentados em número incipiente, comparado com anos anteriores”.
A Fapesb foi procurada, mas não respondeu à solicitação. Ela está vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) que também foi contatada pela reportagem, mas não houve resposta.
Mudança de cultura
Coordenador de Pesquisa da Ufba, Thierry Lobão informou que os impactos do arrocho atingem desde o estudante que está na iniciação científica até o pesquisador que está na outra ponta e que já tem um laboratório. Segundo ele, os cortes ocorrerem desde 2015 nas esferas estadual e federal.
“O que a gente precisa é de uma mudança de cultura. Entender que investimento em pesquisa não é gasto. Dá retorno em médio e longo prazo. Países da Europa, os EUA, Canadá, China investem maciçamente em ciência e tecnologia”, disse.
Lobão destacou que, a depender da agência de fomento à pesquisa, os cortes chegam a até 40%. “No caso da Fapesb, temos projetos em execução e ela tem alegado que os repasses dos recursos que vêm do Estado não estão sendo honrados. Uma vez que ela não recebe, fica sem caixa para editais já abertos e os futuros”, diz.
Corte de 34%
O reitor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb), Sílvio Luiz Soglia, afirmou que as consequências dos cortes vão desde a aquisição de equipamentos até a restrição de diárias e passagens para pesquisadores e estudantes.
“A situação compromete o avanço da pesquisa, que fica limitada aos poucos recursos disponibilizados, o que muitas vezes não atinge todo o potencial de desenvolvimento de produtos e tecnologias de interesse direto para a sociedade”, disse.
Segundo ele, não há recursos para atender toda a demanda de manutenção de equipamentos nos laboratórios. A redução de bolsas para o Programa de Iniciação Científica (Pibic) é de 34%.
“Especificamente na Bahia, se compararmos o que tínhamos antes da criação da Fapesb e o que temos hoje, o avanço foi fenomenal em diferentes áreas da ciência. Contudo, muitas dessas conquistas estão ameaçadas”, ressaltou Soglia.
Na esfera federal, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações informou que reduziu o orçamento em 12% de 2017 para 2018. Saiu de R$ 5,2 bilhões para R$ 4,6 bilhões.