Foto: Laryssa Machado | Ag. A TARDE
Os idosos têm desafiado as recomendações de isolamento domiciliar e seguem nas ruas de Salvador. Adotada pelos órgãos de saúde pública como a principal forma de prevenção ao contágio pelo coronavírus, a medida é essencial para garantir a segurança da população idosa, considerada pelos especialistas médicos a mais vulnerável às formas graves da Covid-19.
Em diferentes bairros da cidade, a presença significativa de idosos é constatada em espaços como bancos, lotéricas, farmácias e supermercados. Na Bahia, cerca de 20,8 % dos infectados pelo coronavírus são pessoas que têm entre 65 e 74, mais da metade (53,9%) tem mais de 50 anos, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados no final do último mês. As duas últimas mortes no estado são de pessoas de 63 e 72 anos, residentes de Ipiaú e Uruçuca. Os dados são da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), divulgados na tarde desta quarta-feira, 8.
Em meio ao medo, na longa fila de uma lotérica localizada em Itapuã, formada na manhã de ontem, o aposentado Ednaldo Lemos, de 76 anos, disse que a atitude de enfrentar o risco de deixar o isolamento ocorre por não ter ninguém que possa resolver determinados problemas financeiros.
‘“O pior é se o ‘bicho” pegar alguém da fila. Por isso, estou saindo só quando é preciso. Como estou necessitando de dinheiro e minha irmã não pode sair de casa, por ser diabética e entrar no grupo de maior cuidado, tive que sair”, conta Ednaldo.
Medo
Ao lado da lotérica, com máscara no rosto, a aposentada Edna Ribeiro, de 80 anos, esperava a aglomeração de pessoas ficar menor para entrar no estabelecimento. “Nem sei se vou conseguir resolver as minhas coisas. Eu achava que as filas eram mais organizadas. Ficar exposta assim gera um medo de pegar o vírus”, disse Edna. Apesar do medo, Edna ignora o fato de ter pessoas da família que possam ajudar em questões que precisam ser resolvidas de forma presencial. “Gosto de resolver as coisas”, revela.
Para a geriatra Mônica Hupsel, diretora do Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (Creasi), unidade da Sesab, é fundamental que os parentes e as pessoas próximas insistam para que os idosos permaneçam em casa. Além disso, a participação dos familiares é importante para resolver questões como compras de mercado ou pagamento de contas, dentre outras.
“O idoso é grupo de risco para a Covid-19, pois são frágeis, alguns têm doenças crônicas. Daí a necessidade do isolamento. Porém vale lembrar que o idoso está isolado, não abandonado. Para ajudar, o parente ou pessoa próxima pode resolver coisas como o pagamento online de contas, fazer as compras que precisam ser feitas e podem ser deixadas na porta dos idosos isolados”, diz geriatra.
Jovem ou idoso
Ainda sobre o isolamento, a infectologista da Secretaria Municipal da Saúde, Adielma Nizarala, reforça a importância de se manter o isolamento total.
“O risco de contaminação é o mesmo, seja jovem ou idoso. A questão é que os idosos podem sofrer alterações mais graves de saúde, pois geralmente apresentam outros quadros clínicos. Por isso a ideia de isolamento vertical, situação em que se afasta apenas determinados grupos, não tem lógica”, explica Nizarala.