Moradores protestam contra Estação Elevatória de Esgoto (EEE) às margens da Lagoa do Abaeté
Moradores do bairro de Itapuã, em Salvador, realizaram, na manhã desta sexta-feira, 28, o sexto protesto, no mês, contra a contrução de uma Estação Elevatória de Esgoto (EEE) às margens da Lagoa do Abaeté.
Durante a manhã, com cartazes, instrumentos musicais e palavras de ordem, os manifestantes ocuparam a Avenida Octávio Mangabeira, na altura da Sereia de Itapuã, em seguida, a tarde, seguiram para a Lagoa do Abaeté, nas suas margens plantaram mudas nativas e apresentaram uma carta aberta ao governador Rui Costa, que solicita a paralisação da obra e adoção do projeto de ligação direta em substituição a Elevatória de esgoto.
De acordo com informações da Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), o protesto deixou o trânsito lento nos dois sentidos da pista durante a manhã desta sexta.
Segundo a Polícia Militar, PMs da 15ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) acompanharam uma manifestação contra uma obra que está sendo realizada no Parque do Abaeté, percorrendo do Largo de "Cira" até a Curva da Sereia, no bairro de Itapuã. Os manifestantes ficaram concentrados pacificamente no Largo da Sereia.
A população, com aval do Mestre e Doutor em Engenharia Sanitária, Sílvio Orrico, solicita ao Governo do Estado a substituição do equipamento pela ligação direta dos efluentes sanitários do Parque do Abaeté com a rede coletora, mesmo destino indicado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) para os efluentes via a elevatória de esgoto.
De acordo com Miguel Accioly, represente da Universidade Federal da Bahia (UFba) no Conselho Gestor da APA Lagoas e Dunas do Abaeté, o projeto elaborado por Orrico oferece economia, não afeta e nem oferece riscos ao meio ambiente.
“O saneamento é necessário, mas não com este tipo de equipamento. A ligação direta com o esgoto será quatro vezes mais barata com valor aproximado entre R$ 70 e 80 mil. Sem necessidade de manutenção, sem impacto ambiental e visual à Lagoa do Abaeté, um ícone da cidade de Salvador”, explica.
Ao governador Rui Costa, foi escrita uma carta aberta, assinada por organizações de Itapuã e de proteção ao Abaeté. Leia na íntegra abaixo:
ABAETÉ: PATRIMÔNIO DA BAHIA
Prezado Governador, o ABAETÉ ESTÁ AMEAÇADO!
Abaeté, um dos locais mais representativos da cultura baiana, cantado em verso e prosa por tantos
artistas, referência turística da capital baiana, lugar sagrado para religiões de matriz africana, santuário
ecológico que abriga espécies endêmicas e memórias ancestrais, está inserido numa APA (Área de Proteção
Ambiental) que há anos vem sofrendo pela falta de planejamento e por intervenções que degradam esse
patrimônio cultural e natural.
Desde maio de 2020 o ABAETÉ está sendo agredido pela construção, às margens da Lagoa, de uma
Estação Elevatória de Esgoto pela CONDER, avaliada em R$ 298 mil, cujo projeto consta de uma estrutura
de cimento de 245,26m² com muro de 2,10m de altura, encimado por espiral de arame, que desrespeita o
zoneamento da APA. Grande área de Mata Atlântica já foi desmatada, contrariamente à legislação, com
anuência do INEMA, apesar das críticas de ambientalistas e especialistas na área. Além da poluição visual,
mau cheiro, barulho constante e necessidade de gastos com manutenção, estações desse tipo possuem
histórico de extravasamento de esgoto, o que pode causar um terrível dano ambiental. Além disso, o
Conselho Gestor da APA, que deveria ter precedência nessa decisão, não foi consultado.
A comunidade de Itapuã tem se mobilizado há meses buscando diálogo com os órgãos responsáveis
pela obra, na tentativa de apresentar alternativas para o tratamento de esgoto, sem ser ouvida.
Apresentou inclusive projeto alternativo SEM A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DA ESTAÇÃO ELEVATÓRIA E
COM CUSTO QUATRO VEZES INFERIOR, que não foi levado em consideração.
Movidos por um sentimento de proteção desse patrimônio, diversos segmentos da população têm
reagido de todas as formas possíveis contra essa obra, através de petição com mais de 13 mil assinaturas,
manifestos, postagens em redes sociais, realização de grandes passeatas e protestos, com ampla cobertura
da mídia, para sensibilizar o poder público sobre a gravidade da situação que ameaça esse santuário
ecológico e cultural do Estado da Bahia, do Brasil e da Humanidade.
Por essa razão, apelamos ao GOVERNADOR RUI COSTA que PARE O CRIME AMBIENTAL NO ABAETÉ
e que as práticas do Partido dos Trabalhadores, com trajetória democrática e de representação popular,
não sejam confundidas com as perpetradas pelo Governo Federal nesse momento político tão infeliz que
atravessamos.
Certos de contar com a compreensão de VSª sobre a legitimidade dessa causa nos colocamos à
disposição para todos os esclarecimentos necessários.
Salvador, 26 de agosto de 2020