Estudantes reivindicam a oferta de mais aulas online durante a pandemia do novo coronavírus
Matriculada em três das sete disciplinas que faltam para concluir o Bacharelado Interdisciplinar em Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Rayana Azevedo, 26 anos, viu a formatura ser adiada por tempo indefinido quando as aulas foram suspensas por causa da pandemia.
Com a criação do semestre suplementar, que tem aulas a partir de hoje, a expectativa dela era de cursar pelo menos cinco matérias, de forma remota pela Ufba, mas ela só conseguiu vaga em uma delas.
Diante das reclamações que tomaram as redes sociais na última sexta-feira, quando os estudantes receberam a confirmação da matrícula, a Ufba anunciou que o sistema será reaberto, para que imprecisões possam ser resolvidas e que colegiados e departamentos avaliem a possibilidade de ampliar a oferta de vagas.
Rayane está confiante de que essa reabertura permitirá que ela consiga vaga em mais disciplinas. A mensagem à comunidade informa que 74.204 vagas foram ofertadas em 1.788 disciplinas, recebendo inscrições de 25.991 estudantes, de um total de cerca de 39 mil.
Outras quatro instituições federais de ensino sediadas na Bahia decidiram montar um semestre especial, com aulas online, e participação não obrigatória: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba). A exceção é o Instituto Federal Baiano.
“Depois de muitos anos, eu estava perto de me formar, e isso (a pandemia) me deixou um pouco desmotivada, mas com esse semestre remoto espero que possa adiantar as matérias que preciso”, comenta Rayana. Ela concorda que não há condições para retomada de aulas presenciais, ainda mais com o risco de contágio no transporte público, usado por ela e muitos estudantes para ir às aulas.
De acordo com o pró-reitor de ensino de graduação da Ufba, Penildon Silva Filho, o semestre suplementar acontecerá até 8 de dezembro. O período não contará no limite de tempo para a conclusão do curso, e a disciplina cursada só será adicionada ao histórico do universitário em caso de aprovação. O mesmo sistema será adotado nas demais instituições federais com semestre remoto no estado.
Ele explica que os componentes curriculares que exijam uso de laboratório e dependam mais do contato com o aluno tendem a ficar de fora, resultando em um semestre com abordagem mais teórica. O pró-reitor explica que a recomendação aos professores é que utilizem o máximo de atividades assíncronas, que não ocorram de forma simultânea.
“Nas síncronas muitas vezes a conexão cai, a internet não fica boa durante algum momento, o estudante também pode ter de trabalhar em determinado horário. Então, com aulas que ficam gravadas o aluno acessa quando for possível”, detalha, acrescentando que os docentes devem trabalhar também com textos e atividades dirigidas.
O foco em aulas e atividades que tenham a possibilidade de serem encaixadas no cronograma mais adequado para o aluno também está sendo adotado na UFRB, na Ufob, na UFSB e no Ifba. As instituições também compartilham o recorte dos componentes curriculares do período suplementar, considerando que disciplinas essencialmente práticas não se adequam ao formato remoto.
Diversidade
Com campi em 22 municípios baianos e um total de 31.941 alunos, entre graduação, ensino médio e pós-graduação, o Ifba reúne realidades diferentes. A reitora do Instituto, Luzia Mota, explica que cada campus irá definir o próprio calendário para o semestre suplementar, mas que o dia 23 de setembro, aniversário da instituição, será um marco desse novo período letivo.
A diversidade é tanta que em alguns campi, antes de iniciar o semestre suplementar, ainda será necessário finalizar o segundo semestre de 2019.
Por este motivo, o estudante Marcos Vinícius Portella, 21, que cursa engenharia elétrica em Salvador, teve as primeiras atividades remotas no último dia 31, de forma a concluir as disciplinas de 2019.2, que estavam nas últimas semanas quando as aulas pararam.
Pesquisa
Aluno do Ifba desde o ensino médio, Marcos continuou atuando, remotamente, no projeto de pesquisa que integra na unidade, além de buscar cursos online para aprender mais sobre a área que escolheu.
O estudante considera que, dentro das possibilidades atuais, a decisão de fazer um semestre online é uma boa solução para manter os estudantes em contato com o ambiente acadêmico.
Assim como os demais porta-vozes das instituições incluídas na reportagem, Luzia ressalta que o semestre suplementar é uma proposta emergencial, que não configura uma implantação de ensino a distância (EAD) nos cursos presenciais, pois os cursos EAD, que o Ifba também oferece, têm uma metodologia específica.
Auxílio da UFRB
Com cerca de 9,5 mil estudantes de graduação, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) iniciará o semestre suplementar no próximo dia 14. A instituição deverá lançar editais para promover a conexão com a internet e auxiliar com equipamentos os alunos em vulnerabilidade que não tenham como acessar as atividades remotas.
A pró-reitora de graduação, Karina Cordeiro, conta que a UFRB lançou recentemente um edital para a seleção de bolsistas que darão suporte a professores e outros estudantes nesse formato de atividades online.
Karina diz que a UFRB também está aguardando a implantação do projeto anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) para estudantes com renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50).
De acordo com o que foi divulgado pelo MEC no último dia 17, os alunos que já tiverem acesso à internet receberão um incremento no plano de dados, variando de 10 a 40 gigabytes, e os que não têm acesso receberão um chip pré-pago com pacote de 5 a 40 GB.
Estudantes das universidades federais da Bahia (Ufba), do Oeste da Bahia (Ufob) e do Sul da Bahia (UFSB), e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), também serão contemplados.
Nos mesmos moldes das demais instituições citadas na reportagem, a Ufob fez um levantamento prévio na comunidade de quase 4,5 mil alunos, entre graduação e pós-graduação, para identificar as condições gerais de acesso ao semestre suplementar. A partir desses dados, a universidade, que inicia as aulas online hoje, está elaborando ações para complementar o projeto de conectividade do MEC.
Única dessas instituições a dividir o ano letivo em quadrimestres, a UFSB iniciou as aulas online no último dia 17 de agosto, com previsão de fechar o período em 26 de setembro, completando o quadrimestre que estava em andamento quando houve a suspensão das aulas pçor conta da pandemia.
A pró-reitora de gestão acadêmica, Janaína Losada, diz que o segundo quadrimestre de 2020 está programado para acontecer de 13 de outubro a 6 de fevereiro de 2021.
Ações
Janaína destaca que a universidade fez chamadas públicas com ações específicas para atender aos estudantes em vulnerabilidade que não tinham como acessar os conteúdos, prevendo tanto a cessão de computador quanto o fornecimento de conexão à internet.
“Ainda não tenho um levantamento com a percentagem de alunos que aderiram efetivamente porque a gente começou há pouco tempo”, explica.
Apub apoia
Vice-presidente da entidade que representa os professores universitários da Bahia, a Apub Sindicato, Emanuel Lins Freire concorda com a implantação dos semestres suplementares, medida que também tem apoio dos conselhos docentes. “De fato, a gente precisava desenvolver uma atividade de ensino nas universidades durante a pandemia, porque o cenário é muito incerto. Não temos nenhuma previsão de quando será possível um retorno presencial”, comenta.
Em linhas gerais, Freire considera que as instituições estão dando suporte para a preparação dos professores para o formato de aulas online, mas acredita que o ideal seria ter iniciado antes. “Ficou muito superposto, muito embolado. A gente está fazendo planejamento do semestre, organizando as disciplinas e fazendo formação ao mesmo tempo”, preocupa-se.