Mortes por doenças respiratórias chamam atenção para subnotificação dos casos de covid
O número de mortes por doenças respiratórias registradas em cartórios na Bahia cresceu 34%, na comparação entre 2019 e 2020, aponta levantamento da Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado da Bahia (Arpen-BA). O dado chama a atenção para uma possível subnotificação dos óbitos por Covid-19 no estado, já que o número total de mortes pelo novo coronavírus registradas na Bahia desde o início da pandemia é de 9.543.
De acordo com a associação, foram 28.096 óbitos por doenças respiratórias na Bahia no ano passado, contra 20.862 em 2019. Os dados foram compilados em um Portal da Transparência administrado pela entidade.
“O que a gente observava, principalmente no começo da pandemia, era uma incapacidade de fazer o levantamento desses dados. No primeiro semestre, recebíamos muitos diagnósticos constando 'suspeita de Covid'. Como chamava atenção à época as mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave ou outras doenças respiratórias, começamos a aplicar esses filtros”, afirma Daniel Sampaio, presidente da Arpen.
Conforme o levantamento, entre os óbitos por doenças respiratórias, as mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) registraram aumento de 386%, seguidas pelas de causas indeterminadas, que tiveram alta de 19,6%.
Dados da Sesab
Os dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) sobre mortes por SRAG são ainda mais expressivos. Conforme a pasta, foram contabilizados 1.840 casos e 147 óbitos por síndrome respiratória aguda em 2019. Já no ano passado, foram 40.150 casos e 12.146 mortes.
"No sistema Sivep Gripe, em 2020, foram notificados 40.150 casos, com 272 confirmados para influenza, 22.991 para Covid-19, 176 para outros vírus respiratórios, 164 para outros agentes etiológicos e 13.196 classificados como SARG não especificada; 3.351 casos permanecem em investigação", informa a secretaria.
O presidente da Arpen pontua que o número de mortes referentes a 2020 ainda deve subir, já que os prazos para registro chegam a prever um intervalo de até 15 dias entre o falecimento e o lançamento do registro. Além disso, alguns estados ampliaram o prazo legal para registro de óbito devido à situação de emergência causada pela Covid-19.
Mortes em casa
O levantamento dos cartórios também revela uma alta de 20,9% das mortes em domicílio na Bahia, possivelmente influenciada pelo receio das pessoas de realizar tratamentos de rotina ou frequentar hospitais durante a pandemia, além da pressão por leitos.
Novamente, os óbitos por SRAG tiveram um crescimento expressivo, de 86%. Também aumentaram as mortes por septicemia (28%) e causas indeterminadas (72%). Com base em atestados assinados por médicos, a associação aponta que 428 baianos morreram de Covid-19 em suas residências.
Os óbitos por causas cardíacas fora de hospitais tiveram um acréscimo de 34,8%. Nesta categoria, a maior alta foi de mortes por causas cardiovasculares inespecíficas (51,7%). Também aumentaram os óbitos em casa por Acidente Vascular Cerebral (AVC), com elevação de 27,6%, e Infartos, que cresceram 21,9%.