A retirada de seis coqueiros da área lateral da Igreja de Santo Antônio, situada na Ladeira da Barra, surpreendeu fiéis, como noticiou A TARDE em junho. Agora, a iminência é a de que as árvores da mesma espécie situadas no recuo posterior da edificação do século XVII tenham igual destino.
Pelo menos sete delas são vistas, integrando a paisagem do conjunto arquitetônico, por quem está no mar, na Praia do Porto da Barra e no trecho da Av. Sete de Setembro, entre o Forte de São Diogo e o Forte de Santa Maria.
O padre Eliomar Ribeiro, há três meses na função de reitor e pároco da igreja, mais uma vez não quis falar sobre a ação de retirada dos coqueiros que promoveu. Fiéis também não receberam explicações e estão apreensivos.
Reordenamento - A informação de que os demais coqueiros serão “reordenados” veio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que vistoriou a área no mesmo dia em que a reportagem de A TARDE foi publicada.
Conforme o superintendente da regional do órgão federal, Carlos Amorim, a retirada foi planejada. Amorim não chega a analisar a alteração da paisagem ocorrida sem autorização da regional (o Decreto-lei nº 25/37 prevê consulta ao Iphan).
O superintendente acrescentou que ocorreu o plantio de coqueiros de forma ordenada, com subsequente retirada dos mais antigos.
A frequentadora da igreja, Eneida Márcia Arantes, antecipa que não entende a atitude adotada pelo padre. “Não é interessante que os coqueiros que ficam atrás da igreja sejam também sacrificados. Já basta os da lateral que foram retirados desnecessariamente. A área dos fundos não é utilizada para eventos”, disse.
Ela afirma que as árvores estão saudáveis e que não representam qualquer ameaça. “Os do lado também não precisavam ser arrancados porque eram mantidos limpos na administração do padre Raimundo Rezende”, afirmou a empresária.
Perda histórica - O arquiteto paisagista Paulo Kalil, especializado em Burle Marx, lamenta: “Os coqueiros híbridos, os chamados ‘anões’ não crescem tanto quanto o ‘gigante’.
Fazendo uma substituição entre um e outro tipo, você altera a paisagem que faz parte da vida dos baianos. Seguramente, esses são elementos que devem permanecer”, disse Paulo Kalil.
“Se é questão de cair coco, é só manter os coqueiros limpos”, sugeriu. “Para retirar coqueiros, o padre não precisaria de um alvará? A cidade já está do jeito que está e isso só piora. Vegetação nesse porte tem é que cuidar e preservar, em vez de erradicar. São necessários de 20 a 30 anos para que um coqueiro chegue a uma altura dessas”, informou.
O superintendente municipal do Meio Ambiente, Luiz Antunes Nery, confirmou que seria preciso um alvará. “Eu entendo ser de bom alvitre consultar o órgão competente. Se faz necessário um estudo científico para saber se estão doentes”, afirmou. “A partir do diagnóstico, a gente faz a manifestação. Evidentemente, o autor interessado vai fazer uma justificativa. E, a partir daí, vai ser analisado e aí sim seria emitido um alvará”, disse. Ele afirmou que para o primeiro corte não houve autorização.
O coqueiro gigante foi introduzido na Bahia em 1553, procedente das ilhas de Cabo Verde. No “Tratado Descriptivo do Brasil”, de Gabriel Soares de Souza (1587), afirma-se: ‘’As palmeiras que dão os cocos se dão bem na Bahia, melhor que na Índia, porque metendo um coco debaixo da terra, a palmeira que dele nasce dá coco em cinco e seis anos, e na Índia não dão, estas plantas, frutos em 20 anos”.