Do Clube Português, na Pituba, só restaram os dois valiosos painéis do artista lusitano Jorge Barradas, de 1963. Foram salvos pelo presidente da Real Beneficência Portuguesa, Armindo Carvalho, que mandou retirar as obras e as guardou. Agora, as peças embelezam o Hospital Português, na Graça. Depois da demolição do clube, arquitetos e urbanistas da cidade opinam sobre o que poderia ser feito naquele espaço.
“Ainda não formulei nada sobre isso. Acho que a demolição foi precipitada”, diz a professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Ana Fernandes. “O clube tinha uma referência para toda uma comunidade. Poderia ter sido aproveitado talvez como um centro cultural de que Salvador carece terrivelmente. Poderiam ser desenvolvidas várias atividades nele”, pontua Ana, para em seguida reivindicar, tardiamente: “No edifício, poderia se instalar um Centro Cultural do Banco do Brasil, que seria uma enorme contribuição para a cidade. O banco deve isso à Bahia, sobretudo agora, que tem as contas do Estado”, destaca.
“Um horror, não foi? A gente não tem uma proposta concluída para a área demolida”, lamenta a professora Liliane Mariano, coordenadora do curso de arquitetura da Unifacs. E cita o projeto de uma aluna que propõe criar um centro cultural, uma área aberta ao público, que aproveitaria a edificação para fazer funcionar pequenas salas de cinema, livraria, café-teatro.
“O espaço do entorno seria aberto e integrado à orla. Seria bom para fortalecer uma centralidade, porque o Iguatemi (shopping) saiu invadindo o bairro. Todo bairro precisa ter uma centralidade”, sinaliza. “Não seria interessante transformar a orla em uma paisagem unificada. Já tem o Jardim dos Namorados, então por que não aproveitar o preexistente? Vai ficar um monte de caixinhas. O clube era um marco na Pituba”, lamentou.
Composição – A professora de arquitetura Anna Beatriz Ayrosa Galvão, da Ufba, diz que indicaria um espaço de lazer semelhante ao Dique do Tororó. “Espaço aberto, simples”, sugere ela. “Poderíamos comparar a cidade com uma composição musical, que tem notas, mas tem que ter pausa também”.
“Tecnicamente, achei precipitada a demolição, o que na verdade denota que haveria um outro interesse nessa ação. Agora, a área poderia ser uma extensão da Praça Nossa Senhora da Luz. E já que há uma preocupação com o turismo, em vez de um hotel, por que não fazer um oceanário? As pessoas pensam que turístico é só praia, hotel, restaurante e Pelourinho. É preciso pensar de uma maneira mais criativa. Acho que poderia ter sido feita uma discussão maior sobre o que fazer antes da demolição”, frisou.
O arquiteto Ivan Smarcevski defende a construção de um hotel como havia sido proposto anteriormente pela prefeitura. “Na minha opinião, um hotel, simplesmente um hotel. E um oceanário para visitação pública. Não vejo por que se fazer uma praça”, responde Smarcevski. Sobre a área ser situada na praia, Smarcevski questiona: “Em tantas cidades do mundo existem hotéis na beira do mar. Por que a Bahia não pode ter também?” Smarcevski, que projetou o apart-hotel Porto Trapiche, na Avenida Contorno, sobre o oceano, propõe “um empreendimento que cause um retorno para a cidade. E tem espaço suficiente para fazer isso – o hotel e o oceanário”, acredita.