Um incidente inter-estadual botou um fim à surpresa que a Colônia de Pesca Z1 estava preparando para saudar Iemanjá neste 2 de Fevereiro. Segundo o presidente da colônia do Rio Vermelho, responsável pela organização da homenagem à orixá rainha do mar desde a década de 20 do século passado, Marcos Santos Souza, os pescadores este ano foram vítimas de um golpe sem precedentes na história da festa.
"Contratamos um artista plástico de São Paulo para confeccionar o
presente deste ano e acertamos entre R$ 5 e R$ 6 mil pelo valor da
escultura, além dos materiais. A peça deveria ter sido entregue desde
novembro. No início ele nos garantiu que entregaria, mas tinha tido
problemas porque um familiar havia morrido. Aguardamos esse tempo todo e
nada", contou Marcos.
Ainda segundo o presidente da Z1, o presente deste ano seria uma grande
concha com uma pérola dentro. Os pescadores também aguardaram até o
último minuto, confiando na boa fé do artista, só que ele sumiu e não
deu nenhum retorno. Assim, os pescadores tiveram de improvisar a
oferenda. Para isso, pegaram a imagem de Iemanjá que fica no peji da
Casa do Peso (a casa da orixá, na Colônia) e colocaram no balaio
principal. O presente foi organizado a partir das 15h30 e levado para o
mar às 17h desta terça.
Esta foi a primeira vez, desde que começou a tradição de homenagens à
Iemanjá, que o presente oficial dos pescadores para a Rainha do Mar não
chegou ao barracão do Rio Vermelho no momento da alvorada, que acontece,
todo ano, a partir das 4h. A ausência do presente gerou muita
especulação ao longo do dia. Segundo informações iniciais de um pescador
chamado Fernando Santana, a oferenda teria sido danificada no trajeto
para Salvador. "Ano passado também aconteceu um probleminha, mas o
presente foi consertado rapidamente. Desta vez foi grave. Isso nunca
aconteceu", disse, decepcionado, logo de manhã cedo.
Desde a madrugada desta quarta-feira, 2, centenas de fiéis movimentaram o
bairro do Rio Vermelho e renderam homenagens a Iemanjá, divindade
considerada Mãe dos Orixás. Os presentes foram entregues no caramanchão
montado nas imediações da Colônia Z1 e começam a ser levados ao mar por embarcações ainda pela manhã. Há
88 anos, o bairro recebe a festa que segue a tradição de render
homenagens e entregar agrados à orixá em troca de paz e prosperidade para os pescadores, suas famílias e demais devotos.
A jovem Vanessa dos Santos levou o filho Erick, de 24 dias, para agradecer pelo parto tranquilo. Ela tinha pedido para Iemanjá que nada acontecesse no nascimento da criança. "Daqui a um ano ele volta e vai voltar todos os anos", disse a mulher de 26 anos, que aproveitou para tirar fotos junto com o filho em frente à Casa do Peso.
A dona de casa Maria das Dores de Jesus, 72, comparece à festa há 15 anos, desde que uma amiga a convidou. Ela foi ao Rio Vermelho renovar os pedidos e acredita que vai alcançá-los. "Iemanjá aceitou minha flores", disse, referindo-se à tradição que diz que, quando o presente volta à areia, é porque o pedido não será atendido pela orixá.
Mãe do baixista Magninho, da banda de pagode Guig Ghetto, Maria da Paixão de Jesus foi à festa que acontece no mesmo dia do aniversário do seu filho. "Venho pedir saúde e sucesso", disse a mulher, que manteve a tradição mesmo enfrentando dificuldades de locomoção e fala em decorrência de um AVC.
Já a funcionária pública Maria Alzira Almeida, 54, foi agradecer a graça alcançada por uma promessa feita há muitos anos. "Pedi para meu cabelo voltar a crescer, depois que uma mulher cortou e ele parou de se desenvolver. Desde então, ele não para mais. Enquanto tiver forças, vou continuar agradecendo". Por conta da festa, o trânsito ficou lento durante toda a manhã na Rua Fonte do Boi, na Rua Osvaldo Cruz e na Rua do Canal.
Água Doce - A festa começou no início da tarde de terça-feira, 1º, com a entrega
das oferendas no barracão do Rio Vermelho. A outra parte da festa
começou por volta da meia-noite desta quarta, com as obrigações
religiosas no terreiro de Mãe Aíce, seguida pelo presente de Oxum,
Rainha das Águas Doces, entregue no Dique do Tororó, e pela alvorada de
fogos, às 4h30 da manhã.
Com a entrega do presente principal e encerramento da parte religiosa da festa, shows de artistas, musica nas barracas e desfiles de blocos irão continuar as homenagens até a noite.
*Com redação de Giovanna Castro, Andreia Santana e Clarissa Pacheco | A TARDE On Line
*Com informações de Paula Pitta, do A TARDE On Line, e Clarissa Borges, da A TARDE TV.