O número de matrículas na Bahia vem diminuindo em índices maiores que a média verificada nos outros Estados nordestinos e no resto do Brasil. Sobram vagas nas escolas, da mesma forma que sobram crianças e jovens nas ruas em busca de meios de sobrevivência, lamenta a vice-diretora da Faculdade de Educação da Ufba, Mary Arapiraca, integrante do Conselho Municipal de Educação. Para ela, a principal causa do problema é antiga: faltam políticas públicas adequadas para a educação.
As pessoas não procuram a escola porque não acreditam no ensino público. Não vêem nele um meio de assegurar seu futuro, avalia a educadora, com 40 anos de experiência profissional. Tornar a escola pública confiável é uma meta que, na opinião dela, só será alcançada se a comunidade for, de fato, ouvida sobre suas necessidades.
O sonho da empregada doméstica Míriam Cardoso, de 18 anos, é estudar no seu próprio bairro, Nova Brasília, coisa que não consegue desde o ano passado, quando ficou fora da sala de aula por falta de dinheiro para o transporte escolar.
Fico muito triste. No meu bairro só tem um colégio, e o que está mais próximo não dá para ir a pé, porque é perigoso, conta.
Míriam comprova que a má distribuição das vagas também é um problema grave, somando-o à baixa condição socioeconômica da população. Além disso, a escola não é uma fonte de prazer e realização para o aluno, pois não lhe dá estímulo nem aumenta sua autoestima, como acredita o coordenadorgeral do Sindicato dos Trabalhadores de Educação da Bahia (APLB), Rui Oliveira.
Oliveira afirma que o modelo educacional adotado não garante , por exemplo, uma vaga no mercado de trabalho. Estão sendo criados milhares de analfabetos funcionais, que não possuem condição nenhuma de competir no mercado de trabalho, diz ele, que enumera a má localização das escolas da rede e a falta de investimento na qualificação dos professores e de infra-estrutura das escolas como fatores que contribuem com o descrédito da educação pública.
METAS O secretário estadual da Educação, Adeum Sauer, diz que a questão demográfica, a má distribuição geográfica das escolas e as dificuldades de subsistência da população aliam-se à falta de planejamento que acarreta os problemas no setor. Este planejamento tem que ser continuado, permanente e flexível, acompanhando no crescimento da população, defende Sauer.
Integrar a profissionalização ao ensino básico é uma das propostas para mudar o atual quadro da educação.
Precisamos tornar a escola mais interessante para o aluno, diz Sauer. Quanto à questão do analfabetismo, que se concentra na zona rural (mais de 60%), a solução apontada pelo governo é a concessão de bolsas de estudos aos professores alfabetizadores, para que atuem nestas regiões e também na zona urbana. A meta do governo é reduzir à metade o número de analfabetos no Estado nos próximos quatro anos.
A diminuição no número de matrículas é verificada em todos os Estados nordestinos, de acordo com o Censo Escolar 2006 do Inep.
A Bahia vem em primeiro lugar, com redução de 33.740 matrículas, seguida da Paraíba (menos 26.892 vagas) e de Pernambuco, com 26.554 matrículas a menos. De modo geral, as mudanças identificadas na oferta de educação básica podem ser associadas ao momento de reorganização pelo qual passa o sistema de educação básica no Brasil, segundo o instituto.
Trata-se da proposta de reorganização do ensino fundamental, que será concluído agora em nove, em vez de oito anos. Tal iniciativa vem provocando uma transferência da matrícula de crianças de 6 anos da educação pré-escolar para o ensino fundamental, que gera queda de matrícula naquela etapa, e necessidade de adequação da oferta do ensino fundamental às novas demandas, avalia o estudo.
SONHO Desempregada há dois anos, a dona-de-casa Sandra Maria Nascimento Viana faz faxina, um bico aqui, outro ali, tudo para manter um sonho. Quero que minha filha se forme, tenha uma profissão, tudo o que eu não tive, desabafa ela, que gasta suados R$ 150 por mês para manter a menina de 12 anos numa escola particular.
Ela conta que não consegue vaga nas escolas do Pau da Lima, onde existem quatro escolas estaduais (Daniel Lisboa, Jesus Cristo, Professora Maria de Lurdes Parada e Pau da Lima) e outras quatro municipais (Bezerra de Menezes, Porto Brandão, Roberto Correia e Rômulo Galvão). Aqui, vaga está difícil e, quando tem, as aulas acontecem dia sim, dia não. É uma vergonha, critica.
No Bairro da Paz, a líder comunitária Marinalva Santos tem o mesmo problema. Apesar de o bairro contar com a escola municipal Nossa Senhora da Paz e com o Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos, todos os dias ela pega quatro ônibus para freqüentar as aulas no Parque São Cristóvão.