“Nem todas as viagens trazem boas recordações”. Com este slogan, instituições de defesa e promoção dos direitos humanos tentam mobilizar a população brasileira – a partir desta sexta, com o lançamento de uma campanha nacional – no enfrentamento ao tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual.
De natureza grave e constatado em várias regiões do Brasil, em pesquisas e mapeamentos recentes, esse crime tem incidência em pelo menos 52 municípios baianos, tanto por causa do apelo turístico de alguns quanto pela existência de movimentados entroncamentos rodoviários em outros.
A Bahia está incluída no mapeamento feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), no qual foram identificados pontos vulneráveis para exploração sexual e tráfico, e no mapeamento da Matriz Intersetorial de Políticas Públicas, realizado também por instituições vinculadas ao Ministério da Justiça, segundo informou, nesta quinta, a diretora de Programas da Partners Of the Américas, Graça Gadelha, no seminário final de uma série de eventos relativos à questão, realizado durante esta semana no Salvador Praia Hotel, em Ondina.
Nesta sexta, a programação se encerra com o lançamento da campanha e com homenagens às baianas Samantha Xavier Reis, 31 anos, e Josenilda Ferreira Costa, 29, respectivamente psicóloga e musicoterapeuta – funcionárias do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca-BA) –, que morreram em 29 de setembro do ano passado, em acidente com vôo da Gol. Na ocasião, elas retornavam de viagem a Manaus (AM), onde haviam ministrado curso de prevenção ao tráfico de mulheres.
Para Graça Gadelha, a campanha não é apenas mobilização de peças publicitárias, uma vez que os últimos anos já têm sido marcados por uma implementação seqüencial de projetos e mobilização de instituições que compõem uma rede de proteção.
Ao elogiar Salvador, “por ter sido a primeira cidade a ter delegacia especializada em crimes contra a criança e o adolescente e também pela criação das varas especializadas”, ela lamentou o que classifica como principal entrave para o enfrentamento: “Temos grande lacuna em relação ao atendimento, à qualificação e especialização de quem lida com esse público”, disse. “Não existem muitos programas bem estruturados”, apontou a especialista.
Qualificação – A boa notícia é que cerca de 100 conselheiros tutelares e dos direitos da criança e do adolescente, de 17 municípios baianos, acabam de passar por cursos de capacitação realizados pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça da Infância e Juventude (MP-BA), em Barra e Santa Maria da Vitória. Além dos dois municípios, foram contemplados Brejolândia, Buritirama, Canápolis, Correntina, Cocos, Coribe, Gentio do Ouro, Jaborandi, Morpará, Muquém do São Francisco, Santana, São Félix do Coribe, Serra Dourada, Tabocas do Brejo Velho e Xique-Xique.