Cerca de 80 embarcações saíram da enseada do Rio Vermelho levando as flores e presentes deixados pelos baianos e turistas ao longo de todo o dia, além do presente principal, um belo cavalo marinho feito de fibra de vidro, presente dos pescadores a Iemanjá, saudada nesta sexta-feira, 2. O cortejo de barcos que levaram a oferenda dos pescadores ao orixá só saiu ao mar por volta das 16 horas, mas as homenagens à Rainha do Mar aconteceram durante todo o dia.
A entrega de oferendas começou cedo. Os fogos de artifício anunciaram o inicio da festa de Iemanjá, realizada todos os anos no Rio Vermelho, às 4 horas da manhã. Era possível ouvir o barulho da alvorada dos bairros mais próximos. O sol ainda não tinha nascido e centenas de pessoas já estavam nas ruas do Rio Vermelho para prestar homenagens à rainha do mar. Muitas vestiam branco e azul, as cores do Orixá que rege as águas. A maioria levava flores.
Foi nesse clima que o boêmio bairro do Rio Vermelho acordou mais cedo do que de costume. Mais cedo até do que os pescadores costumam levantar para tirar o sustento das suas famílias das águas do mar. É para homenagear Iemanjá e pedir a ela que nunca falte peixe na mesa dos baianos, que acontece a festa todos os anos.
Baianas fizeram rituais do candomblé para pedir a proteção para o orixá das águas na beira da praia. Do outro lado das pedras, velas eram acesas e alfazema e champanhe jogados no mar. Nas vielas do Rio Vermelho, barraqueiros estavam acordados desde às três horas para comercializar seus produtos. Outros vendedores nem dormiram. Muitos passaram a noite em claro para garantir o lucro no final do dia, sobretudo com a venda de flores, o presente mais procurado.
Rosas vermelhas, brancas e amarelas. As flores serão levadas até Iemanjá em cestos. Também não faltaram presentes como perfume alfazema, fitas, colares e anéis. Muita gente enfrentou fila para depositá-los no balaio principal, que fica na sede da Colônia dos Pescadores Z1. A fila para a entrega ficou tão extensa que atingiu a Rua da Paciência, por volta das 8 horas. Muitos passaram até mais de uma hora para prestar sua homenagem, como Emerson Gomes.
Com um cesto amparado na cabeça, ele não reclamou do peso. O tempo dispensado também não incomou. O esforço valeu a pena para saudar a rainha das águas, explicou Emerson, que estava acompanhado pela mãe e levantou cedo da cama. Acordei disposto para homenagear Iemanjá e não importa se vou enfrentar fila ou carregar o cesto. O que importa é estar aqui para agradecer e fazer pedidos.
Quem também não se incomodou com a fila foi Denise Brasil. Ela acordou às 4 horas para meditar e preparar oito arranjos de rosas. Cada um com uma cor e um significado, explicou. Todos eles têm um direcionamento específico, uma simbologia, disse Denise, que chegou ao Rio Vermelho por volta das 5 horas.
Muitos devotos, no entanto, desceram até a praia para não perder tempo com a longa espera. Enquanto alguns jogavam suas oferendas da areia, outros alugavam barcos para colocá-las longe da costa. A estudante Cecília Sepúlveda, por exemplo, preferiu pagar para fazer o passeio. sempre vou até a água para fazer o ritual, porque preciso me concentrar para fazer meus pedidos, explicou.
O passeio sai por até R$ 40,00 por grupo. As embarcações fazem o transporte dos devotos desde a noite de quinta-feira, 1, de acordo com informações dos pescadores, que aproveitam para lucrar com suas embarcações. A previsão é que o número de viagens aumente até o final do dia.
Ate as 9 horas desta sexta-feira, cerca de 10 mil pessoas já haviam passado pela ruas do bairro para saudar a rainha da águas, de acordo com informações da Polícia Militar. O movimento deve ficar mais intenso no final da tarde, quando os presentes serão levados pelas embarcações.
É no início da tarde, logo após a entrega dos balaios, que a festa ganha força nos bares e nas casas de shows, com os diversas eventos fechados realizados em cada ponto do local. Grupos de samba, blocos afros e rodas de capoeira também dão o tom festivo das homenagens, que seguem até a noite.
Veja vídeo com a benção das mães-de-santo no Rio Vermelho: