Sob um sol tímido e tendo que atravessar os escombros resultantes da demolição das barracas para enfim chegar à areia, poucos banhistas se aventuram a curtir as praias da cidade neste feriadão. Em lugar dos estacionamentos lotados de outrora, o vazio anuncia apenas os montes de entulhos que sobraram depois do trabalho das retroescavadeiras.
Moradores do bairro de Stella Mares, a dona de casa Railene Nunes e o industriário Helder Soares chegaram cedo para levar as filhas Alice, de 2 anos, e Júlia, de 6 meses, para passear na praia. Acomodados sobre toalhas na areia e sob a sombra de um guarda-sol, o casal conversava sobre a nova praia exatamente no momento em que foi abordado pela reportagem de A TARDE.
Para nós, que trazemos crianças, ficou complicado, porque não tem banheiro, ficamos sem a mínima estrutura. Agora nem penso mais em passar o dia na praia, tá muito inseguro, comenta Railene.
Vendedor de picolé nas praias, Edson dos Santos, 55 anos, conta que chegou a chorar pelo impacto sofrido nas vendas. Vivo disso aqui, e até para o banhista era melhor antes. Agora quase não tenho mais a quem vender, diz.
Alternativa - Desde a demolição de sua barraca em Praia do Flamengo, Romero Bispo leva mesas e cadeiras para a praia no fim de semana, e vende água mineral, refrigerantes e água de coco para os banhistas. Ex-garçom da barraca, Edson Silva conta que a decisão de retomar o trabalho, ainda que precariamente, veio motivada por pedidos de fregueses. Eles ligam para seu Romero pedindo para a gente trazer alguma coisa para vender.
Quem aprovou a iniciativa foi a administradora Renatha Moura. Vinha na barraca dele há 25 anos, e agora fico preocupada com a segurança e higiene, porque chego cedo e não tem nada aqui, conta ela, que, devidamente instalada numa das cadeiras amarelas da antiga barraca, lia tranquilamente um livro.
Grávida de quatro meses do primeiro filho, Renatha chegou a achar que, num futuro próximo, ia levá-lo para passear na barraca de Romero. Achei que ele viria comigo quando nascesse, mas depois da demolição, não tem nem como, conclui.