Líderes de PDT, PT, PSDB e PSB passaram o cortejo juntos; Paulo Souto e Antonio Carlos Magalhães, do PFL, ficaram boa parte do tempo separados
Levi Vasconcelos
Se a Lavagem do Bonfim serve de termômetro para a política, as oposições vão marchar unidas este ano. Ontem, nos oito quilometros de caminhada entre a Igreja da Conceição da Praia e a colina do Bonfim, foi assim que os principais líderes do PDT, PT, PSDB e PSB se comportaram. E nem parecia que eram de partidos diferentes. Colheram aplausos isolados e em conjunto. A festa mais popular de Salvador, foi particular para eles.
Desde o culto ecumênico, realizado no adro da Igreja da Conceição, a partir das 9 horas, reunindo aficionados de religiões diversas como evangélicos, católicos, espíritas e pessoas ligadas ao candomblé, os oposicionistas estavam juntos. Mas o ecumenismo religioso não se traduziu no conjunto do campo político. O governador Paulo Souto e o senador Antonio Carlos Magalhães mantiveram larga distância.
O prefeito João Henrique (PDT), o ex-governador João Durval, pai dele e pré-candidato do PDT ao governo, e o ex-prefeito Antonio Imbassahy, também pré-candidato, mas dos tucanos, estavam lado a lado na porta da igreja quando o culto ecumênico era celebrado. Embaixo, os ministros Jaques Wagner e Waldir Pires, mais o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini.
MACHUCADO Quando o monsenhor José Nilton de Barros encerrou a parte religiosa, começou a festa deles. Juntos e bastante assediados, pelo povo e pelos repórteres que empurravam sobre eles um monte de câmeras. O empurra-empurra parecia um tumulto. Uma das câmeras atingiu a boca do ministro Jaques Wagner. Ele teve que parar alguns minutos para avaliar a dimensão do estrago. Nada demais.
Quando estavam mais soltos, o espírito de padre Pinto baixou em João Henrique, que por sinal, estava presente na Festa da Lapinha que tanto rebuliço causou. De repente, ainda no Comércio, próximo do prédio da Receita Federal, ele saiu correndo, deixando a segurança de lado, agarrou uma criança e a carregou.
Repetiria a dose no Largo de Água de Meninos, desta feita com o povo. Ele gosta!, bradou dona Maria Conceição Silva, aposentada, uma das abraçadas. Mas não era só o prefeito. Wagner ouvia os gritos de ministro! ministro!. Uma mulher foi ao encontro de Waldir Pires dar os pêsames pela morte de dona Yolanda. Imbassahy distribuía beijos e abraços para os que lhe acenavam.
Partidos que levaram militantes com bandeiras só dois: o PDT de João Henrique e o PSB da deputada e ex-prefeita Lídice da Mata, também bastante aplaudida, com os seus correligionários gritando o coro: Au, au, au, deputada federal!. Os demais se recolheram. Até o PT, que sempre tem presença marcante em festas populares, desde o Grito dos excluídos, no 7 de Setembro, mandou os militantes, mas sem bandeiras.
Havia petistas com camisas dos deputados Nelson Pellegrino (federal), Emiliano José (estadual) e até de Josias Gomes, que está ameaçado de cassação, acusado de envolvimento no escândalo do mensalão. Nela, os dizeres: Josias - O federal da gente. Sara Mercês, uma das pessoas que usavam tais camisas, não estava nem aí para a cassação. Espero que não seja (cassado). Aliás, eu não conto com essa possibilidade.
Felizes com a recepção popular
Nos seus oito anos como prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy não faltou a uma só Lavagem do Bonfim, sempre acompanhado do governador Paulo Souto e do senador Antonio Carlos Magalhães. No ano passado, faltou. Estava nos EUA estudando. Este ano, estreou no bloco das oposições e se disse muito satisfeito. Eu sabia que ia ser bem-recebido, mas não tão bem, afirmou ele.
Os tucanos não saíram organizados. O presidente do partido, o deputado federal Jutahy Júnior, não estava presente. Está em São Paulo, almoçando com o prefeito José Serra, avisou Euvaldo Jorge, um dos assessores dele. Os secretários municipais Nestor Duarte (Transportes) e Arnando Lessa (Serviços Públicos), que também são do partido, acompanhavam a comitiva do prefeito.
A Lavagem do Bonfim é a largada para conversas. Alguns nomes estão postos mas o importante é que nenhum foi colocado como irremovível, disse a deputada e ex-prefeita Lídice da Mata, presidente estadual do PSB, outra que passou no teste de popularidade.
Começaremos a conversar agora e depois do Carnaval vamos conversar mais, até chegarmos a saber que posição João Henrique vai tomar, já que ele é figura fundamental nesse processo, observou. Segundo Lídice, pelo que se viu na lavagem, o povo está sinalizando que quer mudanças.
(L.V.)
Meio do caminho
A yalorixá Maria Nascimento, 52 anos, do Terreiro Ilê Axé Omi Nidé, localizado em Simões Filho, há mais de 20 anos participa do cortejo da Lavagem do Bonfim, fazendo o percurso da Conceição da Praia até a Colina Sagrada. Este ano não deu. Estou me recuperando de uma cirurgia, justificou. Mas ela encontrou uma saída. Paramentada a rigor, foi aguardar o cortejo no Largo de Roma, onde se uniu às companheiras.
Bonfim infantil
Apesar de ainda ser muito pequeno, Fernando da Silva Santos, 4 anos, não era um estreante na festa. Mesmo sem fazer o cortejo ou entender muito do que acontecia ao seu redor, ele esteve na lavagem no ano passado. O lance é que seus pais trabalham como ambulantes na Praça Riachuelo e, sem ter com quem deixar o pequeno, montam a tendinha na qual ele se abriga.
Segurança
Edna Teles dos Santos, 58 anos, conhece de perto a aura de sedução que cerca os integrantes do afoxé Filhos de Gandhy. Por isso, ela não relaxa a vigilância ao marido Antônio Carlos Teles, ao lado de quem contabiliza 46 anos de namoro, como prefere definir o casamento. Imagina se vou deixar este negão lindo solto por aí, diz, com uma gargalhada. São 40 anos de Festa do Bonfim em conjunto.