Citado entre os investigados da Operação Jaleco Branco, o ex-secretário de Administração da Prefeitura de Salvador, Luís Carlos Café, disse, ontem, que ao assumir a secretaria, em janeiro de 2005, já encontrou os contratos com as empresas prestadoras de serviço licitados pela gestão do ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB). “Dei apenas continuidade aos contratos em vigor. Não havia razão para rescindi-los, uma vez que passaram por processo legal de licitação”, informou Café, que hoje ocupa o cargo estratégico de diretor-geral da Secretaria de Turismo do Governo da Bahia.
Amigo do prefeito João Henrique, Luís Café assumiu a secretaria da Administração pela cota pessoal do prefeito. Quando deixou o cargo, em julho do ano passado, passou a ocupar a função de assessor no gabinete de João, encarregado de elaborar projetos de financiamento no âmbito federal, até ser convidado pelo secretário de Turismo Domingos Leonelli para assumir a diretoria-geral da pasta.
CONTRATOS – Dizendo-se “perplexo” em ter seu nome apontado pela Polícia Federal. que identificou “fortes indícios” de que “facilitava” a participação em licitações de empresas que já trabalhavam para prefeitura, Luís Café explicou que os contratos que venceram no período em que esteve à frente da Secretaria Municipal da Administração não foram renovados automaticamente. “Na medida em que iam sendo encerrados, promovíamos nova licitação”, assegurou.
Café acrescentou, ainda, que a maior parte dos contratos com empresas de vigilância e limpeza, firmados na gestão anterior, venceram em meados de junho passado.
Portanto, um ano após ter deixado a Secretaria da Administração.
A TARDE não conseguiu falar com o ex-prefeito Antonio Imbassahy, que ontem estava em viagem, participando do Congresso do PSDB, em Brasília.
O diretor-geral da Secretaria de Turismo só soube que estava sendo investigado pela Polícia Federal, ontem à tarde, quando recebeu um telefonema do secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de Salvador, João Cavalcanti. “Liguei para o doutor Café, assim que vi a notícia nos blogs, para obter informações sobre o que estava ocorrendo. Ele me disse que os contratos com as empresas envolvidas na investigação da Polícia Federal não foram feitos no período em que esteve à frente da Administração, mas na gestão anterior”, relatou João Cavalcanti.
Indagado sobre as impressões do prefeito João Henrique, ao tomar conhecimento de que um ex-auxiliar está sob investigação da PF, Cavalcanti disse que não havia conversado com o prefeito a respeito. Porém, mostrou-se solidário a Luís Café, de quem foi aluno quando cursou a Escola de Administração da Unifacs.
SURPRESA – Na secretaria estadual de Turismo, funcionários e assessores também foram pegos de surpresa, no final da tarde de ontem, com a notícia de que o diretorgeral estava sendo investigado pela “Operação Jaleco Branco”.
O secretário da pasta, Domingos Leonelli, também deixou o Brasil, ontem à tarde, sem ter idéia do problema envolvendo Luís Café. Leonelli embarcou, por volta das 14 horas, para o Chile, onde participa da Feira Internacional de Turismo, na capital Santiago. Só retorna na segundafeira.
“Estivemos juntos de manhã tratando do Carnaval e não falamos nada a respeito, porque não sabíamos de nada”, informou, à noite, o secretário de Comunicação Social do Estado da Bahia, Robinson Almeida. Embora surpreso com os acontecimentos, Luiz Café disse estar absolutamente tranqüilo. “Quem não deve não teme”, declarou, adiantando que aguardará ser convocado pela Polícia Federal para os esclarecimentos devidos.
CÂMARA – No PaçoMunicipal, a notícia de que o ex-secretário Luis Café estava sendo investigado surpreendeu os vereadores. O presidente da Câmara, Valdenor Cardoso (PTC), assim como os demais vereadores, só tomou conhecimento do fato por sua assessoria.
Vice-líder do governo no período em que Café comandou a Secretaria de Administração, o vereador Silvoney Sales (PMDB) não escondeu a surpresa com a notícia.
“Nunca circularam na Câmara denúncias de irregularidades nos contratos. O máximo que se falava era que estava havendo muitas contratações de terceirizados e menos concurso público”, recordou o peemedebista.
Alguns lembraram que Luís Café sempre se portou com seriedade no cargo, embora tenha contabilizado algumas arestas com secretários e dirigentes de empresas. Como a contratação de vigilantes, serventes, aluguel de veículos e de imóveis era centralizada na Administração, nem sempre a urgência das demandas administrativas eram correspondidas pelo secretário.
Um ex-dirigente de uma grande empresa municipal, que preferiu o anonimato, observou que achava “estranho” o elevado custo das empresas terceirizadas da área de segurança. “À época, um vigilante tinha um custo da ordem de R$ 2,6 mil”. Esse mesmo dirigente disse que chegou a alertar o prefeito. “Sugeri que o Executivo deveria promover concurso para formar um corpo de segurança, como ocorre agora com a Guarda Municipal. Medida que iria reduzir o peso da máquina”.
MEMÓRIA
Café integrou equipe de governo da Prefeitura
Professor de Administração de Empresas e de Comunicação na Unifacs, Luís Carlos Café integrou a primeira equipe de secretariado do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB).
Deixou a Secretaria de Administração em julho do ano passado, três dias depois de o prefeito afastar o ex-secretário Arnando Lessa da Secretaria de Serviços Públicos (SSP), acusado de envolvimento na denúncia de fraude nos contratos dos barraqueiros da orla de Salvador com a iniciativa privada. A vaga aberta por Café seria destinada a reacomodar o tucano na administração municipal, já que fora desalojado da SSP para dar espaço ao PMDB, em troca do apoio à candidatura ao Senado do ex-governador João Durval (PDT), pai do prefeito. Naquela época, o partido presidido na Bahia pelo hoje ministro da Integração Nacional do governo federal Geddel Vieira Lima havia rompido com o governo municipal e vinha ameaçando apoiar a candidatura do ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB) ao Senado. Com a mudança, Luís Carlos Café deixa a Secretaria Municipal de Administração Sead) e assume o cargo de assessor especial de Relações Institucionais da prefeitura. O prefeito João Henrique e Luís Café são amigos. Nas solenidades públicas, o prefeito costumava se referir a ele como professor“. Na saída de Café, prefeito explicou que a mudança tinha apenas caráter administrativo e destacou a atuação do auxiliar, embora o comentário no Palácio Thomé de Souza fosse de que seu desempenho não era satisfatório.