Villa Carnavalle vai receber foliões que podem pagar pelo conforto, mas fecha as portas para a turma da pipoca
PATRICK BROCK
A cidade carnavalesca vai assumindo o espaço que lhe é absoluto durante os cinco dias de Carnaval em Salvador. A estrutura de camarotes e serviços no circuito da festa começa a ser erguida na Barra e no Campo Grande, e quem normalmente lucra com a folia já botou seu cartaz anunciando o espaço para alugar. Esta cidade transitória inclui até um Principado da Alegria, promovido por um grupo de empresas privadas no espaço público da Praça Dois de Julho, que deixará de servir para a circulação dos cidadãos na área.
Por meio de licitação, o espaço da Praça Dois de Julho foi transformado em um camarote gigante, com espaço para autoridades e as tradicionais arquibancadas populares. Nestas, são 1.400 lugares gratuitos e dois mil pagos, na passarela principal do Campo Grande, ao preço de R$ 30 a inteira, que estarão à venda só amanhã, no Shopping Center Lapa, das 9 às 18 horas ou até os ingressos acabarem. Os organizadores dizem que é tempo suficiente.
Já a Villa Carnavalle, como é chamada, é dividida em três áreas, num total de 5.850 metros quadrados de área construída (a praça tem 13.275 metros quadrados): o Solarium, apelidado de varandão, com espaço para 3.500 pessoas, as unidades corporativas (camarotes vendidos a empresas, para convidados) e a Villa em si. Quem pagar R$ 130 (sábado), R$ 180 (domingo e segunda) e R$ 160 (terça) poderá aproveitar o bar no Solarium e os serviços da Villa: bares, lanchonetes, spa, posto médico, pista de dança, cybercafé e apresentações musicais, com capacidade estimada em 5 mil pessoas. Quem estiver nos camarotes corporativos só vai poder entrar no Solarium se pagar, mas pode aproveitar os serviços da Villa.
PIPOCA O empreendimento conjunto das empresas Planeta 3, Soul Entretenimento, Goodwin e Solarium ocupará a Praça Dois de Julho durante os carnavais dos próximos cinco anos. Os empresários alegam que a nova estrutura permitirá que as arquibancadas populares tenham mais conforto, como cobertura para proteger os foliões do sol e da chuva. O investimento inicial declarado é de R$ 2 milhões.
O presidente da Emtursa, Benito Gama, declarou na época do lançamento da Villa Carnavalle que o acerto foi um grande negócio para a prefeitura, com economia de R$ 1,5 milhão de reais, respectivo ao gasto do município para montar os camarotes e as arquibancadas da área.
O prefeito João Henrique (PDT) havia prometido melhor tratamento para o folião-pipoca este ano, embora defendesse que a iniciativa privada assumisse as despesas. Ele parece ter seguido sua cartilha à risca, deixando a cargo dos empresários resolver a questão do Campo Grande. Mas, ao contrário do que foi prometido, o folião da área terá sua movimentação prejudicada pela estrutura privativa.
BARULHO Por enquanto eles só estão trabalhando de dia, mas quando estiver mais perto do Carnaval, é de noite também, conta o porteiro Edmundo Mendes Soares, 40 anos, que trabalha há dez no Edifício Copacabana, na Barra. Ano passado, os moradores reclamaram bastante do barulho. Este ano está tranqüilo, ainda está cedo, diz.
Com vista para o mar e entrada pela Rua Almirante Marquês de Leão, o prédio está geminado entre dois camarotes. Do lado esquerdo, o camarote de Daniela Mercury é erguido com muito barulho de martelos e furadeiras. A estrutura do teto é semelhante à do ano passado, quando um temporal repentino destruiu parte da cobertura no penúltimo dia de Carnaval. No estágio atual, o pedestre tem que usar a imaginação para visualizar o espaço luxuoso que estará pronto no final do mês.