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As placas de aviso "não fume" têm se tornado cada vez mais freqüentes, as carteiras de cigarro vêm acompanhadas de imagens nada atraentes e as propagandas de cigarro foram proibidas. As leis antitabagistas têm promovido uma verdadeira caça aos amantes do cigarro em todo o mundo e, a exemplo de outros países, aqui no Brasil a meta é aumentar o preço do produto e extinguir os fumódromos.
Na Bahia, não é diferente. Há um projeto tramitando na Câmara Municipal de Salvador – de autoria do presidente da Casa, Valdenor Cardoso – para acabar com o fumo em ambientes fechados. A previsão é a de que o projeto seja votado em 60 dias. Se aprovado, fumar só será permitido em locais abertos.
É preciso lembrar, no entanto, que nessa luta que coloca o poder público contra a indústria do tabaco e os não-fumantes e fumantes no mesmo ringue, pouco se fala no tratamento da dependência da nicotina no sistema público de saúde, sobretudo, em países em desenvolvimento como o Brasil.
O tabagismo é a maior causa evitável de morte por doenças crônicas não-transmissíveis. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), três milhões de fumantes morrem por ano de doenças relacionadas ao tabaco. Destes, 70% desejam parar de fumar, mas apenas 5% conseguem fazê-lo sozinhos.
O contador Roque da Silveira faz parte desse time. Fumante inveterado durante 30 anos, ele conseguiu deixar de fumar há quase cinco, sozinho e sem o uso de nenhum medicamento. “Estabeleci dia e horário para deixar de fumar, 26 de junho de 2003, às 20 horas. Foi muito difícil, mas de lá para cá nunca mais toquei em um cigarro e, não tenho dúvidas de que foi a melhor coisa que fiz na vida”, comemora.
Infelizmente nem todos conseguem deixar de fumar sem ajuda terapêutica e medicamentosa e há explicações para isso. A dependência da nicotina é similar àquelas que determinam a dependência de outras drogas como a heroína e a cocaína. Se libertar do vício, portanto, é tão difícil quanto tentar deixar de usar drogas desse tipo.
DEPENDÊNCIA – Em artigo publicado no site da Unifesp, o psiquiatra e vice-coordenador do Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Ronaldo Laranjeira, afirma que a dependência do cigarro passou a não ser mais vista apenas como um "vício psicológico" mas como uma dependência física que deveria ser tratada como uma doença médica, nos mesmos moldes do tratamento de outras substâncias que causam dependência.
"Desde então, todo um arsenal terapêutico foi desenvolvido com o objetivo de aliviar os sintomas da síndrome de abstinência da nicotina ou diminuir a fissura pela mesma", explica.
De acordo com o presidente da Sociedade Baiana de Pneumologia, Guilhardo Fontes, o tratamento para dependentes de nicotina é feito com abordagem cognitiva comportamental, terapia de reposição da nicotina e antidepressivos.
“É preciso fazer uma avaliação da quantidade de cigarros que a pessoa fuma diariamente e do grau de dependência. O que leva aquela pessoa a fumar? Tem pessoas que conseguem parar apenas com a terapia comportamental, outros precisam do uso medicamentoso”, explica.
A reposição de nicotina mantém o organismo com doses cada vez menores da droga, reduzindo os sintomas físicos de abstinência sem expor o fumante aos efeitos nocivos dos outros componentes do tabaco. As modalidades de reposição mais usadas são os adesivos e a goma de mascar.
Já os antidepressivos, como a bupropiona, têm ação de reduzir os sintomas da abstinência de nicotina. Essas medicações alteram as substâncias químicas no cérebro associadas à fissura. Podem ser usadas isoladamente ou em combinação com a reposição de nicotina.
AUXÍLIO – No guia de auto-ajuda para pessoas que querem parar de fumar, lançado pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira em 2000, ele afirma que parar de fumar é difícil e algumas pessoas necessitam de duas ou três tentativas para parar em definitivo.
“As pesquisas mostram que a cada tentativa séria que a pessoa faz para deixar de fumar fica-se mais próximo da parada definitiva pois fica-se mais experientes com as eventuais dificuldades”, diz Laranjeira.
A boa notícia é a de que qualquer pessoa pode parar de fumar.Não importa a idade, condições de saúde ou estilo de vida. A decisão de parar e o sucesso em conseguir terá basicamente a influência de quanto a pessoa realmente deseja parar.
O ideal, segundo os médicos, é estabelecer um plano de ação, como foi feito pelo contador Roque da Silveira. Comunicar a família, amigos e colegas de trabalho da decisão de parar de fumar, estabelecer dia e horário, pedir ajuda a um profissional da saúde, evitar bebidas alcoólicas e pessoas que fumam, quando isso for possível, são algumas das recomendações.
Para algumas pessoas, no entanto, essas orientações são desnecessárias.Na opinião do vendedor Haroldo Castro, 45 anos, estão cerceando a liberdade dos fumantes. “Fumante odeia ouvir conselhos. Não quero parar de fumar, tenho raiva de quem me dá conselhos e vou morrer fumando. Cada um faz o que quer da sua vida”, diz o vendedor, que respeita e evita fumar próximo de não-fumantes.
Não à toa, o físico Albert Einstein falou certa vez: “É mais fácil desintegrar um átomo, do que mudar um hábito”.