As cheias do Rio São Francisco causaram a terceira morte no município de Malhada, no sábado à noite. Anatália Mendes Ferreira, de 18 anos, morreu afogada na localidade de Parateca, a 50 quilômetros da sede do município, depois de cair num córrego. A jovem foi levada ao hospital, em um barco do povoado de Mocambo, mas morreu antes que fosse completada a travessia até Malhada, que está isolada por terra desde antes do Car naval.
Anatália Ferreira é a terceira morte causada pela inundação. No mês passado, o vaqueiro José Martelo Santos, 40, afogou-se e na semana passada uma mulher morreu durante o trajeto, quando caiu de um dos barcos que fazem a travessia de Mocambo a Malhada e foi arrastada pelas águas de um dos riachos afluentes do S. Francisco.
O povoado de Parateca, que possui aproximadamente 600 famílias remanescentes de quilombolas, está praticamente isolado por terra, por causa das cheias e chuvas nos últimos dias. Outros vilarejos também estão isolados, sendo que em um deles, Thomé Nunes, a 15 quilômetros da sede, onde residiam 80 famílias, foi praticamente abandonado. A localidade só pode ser alcançada pelo rio, mas, por causa da forte correnteza, poucas pessoas se atrevem a ir ao local.
Isto tem dificultado, inclusive, a atuação das equipes de saúde do município.
Com as últimas chuvas no norte deMinas Gerais, o rio tem subido, em média, três centímetros por dia, e já alcançou boa parte da cidade, onde 60 famílias estão desabrigadas e foram alojadas em escolas, igrejas e na sede da Secretaria de Ação Social. Em todo o município de Malhada, conforme balanço feito pela prefeitura, são 800 famílias desabrigadas, a grande maioria delas na zona rural. Por falta de recursos para atender a todos os desabrigados, parte das famílias foi transferida para o município de Carinhanha, do outro lado do Rio São Francisco.
DESABRIGADOS Na escola Luís EduardoMagalhães, um dos abrigos improvisados pela prefeitura para acolher as famílias que foram atingidas pela cheia do Rio São Francisco, estão 15 famílias que perderam suas casas. Em alguns cômodos, três famílias dividem o mesmo espaço. Em outras três escolas na sede do município também estão famílias alojadas.
Josevalda Antunes dos Santos, 44 anos e três filhos pequenos, por exemplo, divide o mesmo cômodo com a filha, Luciene Cordeiro dos Santos, de 24 anos, que tem quatro filhos.
As duas famílias conseguiram retirar a tempo os poucos pertences que possuíam, mas a casa onde as duas moravam, na Rua Elzir Dantas, na entrada da cidade, foi coberta pelas águas.
Igual sorte teve Isabel Souza Cardoso, 65 anos, que conseguiu retirar os pertences antes que sua casa fosse tomada pelas águas, e ficou alojada em uma das salas da Escola Luís Eduardo Magalhães, no centro. Damiana Maria de Jesus, outra moradora, contou que, em pouco tempo, viu a água destruir o trabalho de uma vida.
DRAMA Com uma população de aproximadamente 16 mil pessoas, das quais pelo menos seis mil residem na sede, Malhada, a 901 quilômetros de Salvador, ficou completamente isolada por terra. A BR-030, que liga o município à região de Guanambi e ao resto do Estado, foi interrompida com a queda de duas pontes e foi quase que totalmente coberta pelas águas.
A travessia de veículos por balsa até Carinhanha foi suspensa por causa da forte correnteza do São Francisco. De Carinhanha, pela BA-161, seria possível, mediante um percurso de 180 quilômetros, se chegar a Bom Jesus da Lapa.
Com isso mesmo, a ajuda em colchões, cobertores, filtros e cestas básicas de alimentos, feita pela Defesa Civil do Estado, está prejudicada por causa da dificuldade de acesso ao município.
Hoje, para se chegar a Malhada de carro, é preciso fazer um desvio de 12 km, a partir do trecho interrompido da BR-030, na localidade de Julião, e depois fazer outro percurso, de barco, de aproximadamente 5 km sobre o leito da estrada do povoado de Mocambo, que foi totalmente coberta pelas águas.