Depois da polêmica apresentação artística de ontem, padre José Pinto repousou, por recomendação médica
Cleidiana Ramos
Enquanto a performance artística do padre José Pinto, que vestiu fantasias, colocou maquiagem e dançou no desfile dos ternos de reis, ganhou a mídia nacional, na Igreja da Lapinha a missa de encerramento da festa ocorreu de forma discreta. Como presidente da celebração, em lugar do sacerdote-artista estava o padre conhecido como Carlinhos, que é superior da Congregação Vocacionista, da qual o padre Pinto faz parte.
A justificativa para a substituição no comando da missa foi uma ordem médica de repouso para o padre Pinto, que sofre de hipertensão. Antes de começar a celebração, o padre Carlinhos deu a notícia, acrescentando que a semana foi intensa para o pároco local.
As imagens do padre vestido de amarelo, em homenagem a Nossa Senhora da Guia e ao orixá Ogum, fantasiado de índio, e depois num desabafo choroso, alegando que estão querendo tirá-lo da paróquia, causaram frisson entre os paroquianos. E as mensagens são de apoio total ao sacerdote.
O padre Pinto está coberto de razão. Se não fosse por ele, essa festa daqui já teria acabado há muito tempo, defendeu Perivaldo Gomes, 58 anos, que disse morar na Lapinha há 30 anos.
O trio formado pelas jovens Karina Rodrigues, 29 anos, Francileide Ornelas, 26, e Júlia Nara Azevedo, 14, levou à missa um cartaz onde se lia a mensagem: Padre Pinto estamos com você. Abaixo a hipocrisia. As meninas resolveram levar seu apoio ao padre para a internet, por meio da criação de uma comunidade na rede de relacionamentos Orkut, chamada Amamos padre Pinto.
Os que estão falando contra nem devem participar da Igreja, pois quem vem aqui sabe que ele é sempre assim, festivo. Acho que a Igreja Católica tem de mostrar diversidade, avalia Francileide.
Artista O padre José Pinto está há 33 anos como titular da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Lapinha. Ele é religioso, ou seja, está vinculado a uma congregação no caso, à Sociedade das Divinas Vocações, mais conhecida como Vocacionista, fundada pelo venerável Giustino Russolillo, na Itália.
Artista plástico, padre Pinto encontrou na Lapinha a tradição dos ternos de reis, uma das mais importantes manifestações da cultura popular. Tornou-se um defensor ardoroso da continuação da festa, procurando mantê-la, apesar da escassez de recursos por causa da falta de apoio, tanto do setor público quanto de empresas.
Essa foi uma das polêmicas que o envolveram, no início da semana, ao convocar uma coletiva na terça-feira para denunciar que teria sido maltratado por um integrante do cerimonial do prefeito, além de reclamar que a prefeitura não tinha dado o apoio prometido.
Na quinta-feira, o prefeito João Henrique compareceu à festa. O problema parecia ter sido superado quando, um dia antes, Emtursa e Fundação Gregório de Mattos fecharam um acordo com os organizadores. A Emtursa colaborou com R$ 7 mil. Já o governo do Estado sempre elogiado pelo padre doou R$ 15 mil, por meio da Bahiatursa.
Padre Pinto participou de movimentos artísticos na cidade, como o coordenado pelo artista Leonel Mattos, que consistia em pintar muros da cidade para evitar pichação. Também tem um movimentado trabalho social e artístico na paróquia, com um forte engajamento da juventude.