Três meses depois de ter servido de estopim para uma polêmica que resvalou até no QI dos baianos, o desempenho da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia em avaliações do Ministério da Educação (MEC) foi revisto pelo governo. Conforme novo índice criado pelo MEC e divulgado nesta quarta-feira, 6, o curso teve sua nota de 2007 elevada de 2 para 3, patamar que retira a faculdade da lista de inspeções do ministério e afasta a possibilidade de perda da autorização para funcionamento.
Batizada de "Conceito Preliminar de Curso", a nova nota tem critérios mais amplos que o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE, no qual a Famed tirou 2. Para calcular o índice, o MEC avalia também infra-estrutura, qualificação dos professores e projeto político-pedagógico das instituições.
Essas variáveis correspondem a 30% da nota final. Ainda são levados em consideração o Indicador de Diferença de Desempenho (IDD), índice que, segundo o MEC, compara o desempenho dos alunos por curso e perfil socioecônomico (30%), e a própria nota no ENADE, cujo peso ainda é considerável (40%).
“A avaliação melhorou porque a faculdade tirou notas 4 e 5 nos outros critérios, o que compensou o desempenho no Enade”, disse o reitor Naomar de Almeida Filho. “Com esse resultado, fica descartada a hipótese da má qualidade do corpo docente, aventada na época da divulgação da primeira nota”.
O reitor da Ufba afirmou ainda que, de acordo com o boletim do ENADE 2007 requisitado ao MEC, 25% das provas do curso de medicina foram entregues em branco, dado que para Naomar demonstra ter ocorrido boicote estudantil ao exame de desempenho do ensino superior.
Apesar de afastar o curso de Medicina da Ufba da lista dos piores do País, o novo índice de avaliação criado pelo governo foi criticado pelo diretor da Famed, José Tavares Neto, que reclamou também de falta de atenção do ministro Fernando Haddad (Educação). “O ministro não nos mandou uma linha sobre este novo conceito. Qualquer professor primário, quando dá nota baixa, chama o pai do aluno”, cobrou. “Agora ninguém mais acredita no Enade, ele muda de acordo com a vontade do ministro”. Segundo o diretor, a faculdade nota 3 é a mesma faculdade que recebeu nota 2.
ENTRE AS PIORES – Os dados divulgados pelo Ministério da Educação mostram ainda que a Bahia tem dois dos três piores cursos de educação física avaliados em todo o Brasil. São o da própria Ufba e o da Universidade Católica do Salvador (UCSal), que tiraram nota 1, a menor possível, tanto no Enade quanto no recém-criado conceito preliminar de curso. Tão ruim quanto os baianos, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que fez a avaliação para o MEC, só o equivalente da Federal do Espírito Santo.
“Esse resultado não significa que o curso é um dos piores do País”, rebateu a diretora da Faculdade de Educação da Ufba, Celi Taffarel. “Basta ver a titulação do corpo docente, a produtividade das pesquisas e os laboratórios”, justificou – na faculdade, todos os 17 professores do departamento de educação física têm doutorado.
Para Celi, o problema do curso é a falta de infra-estrutura, simbolizada pelo estado precário do centro esportivo da Ufba, em Ondina. “É um fator que realmente pesa para nós”, reconheceu. A reforma do espaço para treinamentos é prioridade mas, conforme Celi Taffarel, não está prevista no orçamento do projeto Ufba Nova, anunciado pelo reitor Naomar Almeida semana passada. “As verbas”, prevê a diretora, “terão de vir de um pacto entre os governos municipal, estadual e federal”.