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O tempo em que criança gordinha era sinônimo de boa nutrição e saúde acabou. Estudo feito por um grupo de médicos baianos confirma o que a literatura médica vem apontando há alguns anos: a obesidade infantil é uma doença cada vez mais comum em todo o mundo, inclusive entre os baianos. Os primeiros resultados do levantamento, feito com 423 crianças e adolescentes atendidos nos centros médicos da Santa Casa da Bahia, mostraram que 6% apresentam obesidade em algum nível (leve, moderada ou mórbida) e 16,78% tinham sobrepeso. Em todo o mundo, a doença atinge de 10% a 15% dos meninos e meninas.
A pesquisa será apresentada no X Congresso Nacional de Pediatria, que acontece em Salvador desta quinta-feira, 12, até sábado, 14, No Bahia Othon Palace, em Ondina. Segundo uma das autoras, a pediatra Vera Mônica Aguiar, os casos apresentados foram escolhidos de forma aleatória entre mais de 4 mil crianças e adolescentes, entre 0 e 15 anos de idade, atendidos nas unidades.
A continuidade do estudo, entretanto, já revela um crescimento deste percentual. Dentre outros 400 pacientes pesquisados, desta vez seguindo a seqüência de atendimento médico, 150 apresentaram diagnóstico de obesidade. O número representa um percentual de 37,5% desse universo, com a doença, que é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o ponto em que o excesso de gordura corporal pode afetar a saúde.
Meninas - Vera Mônica revela que a idéia do estudo surgiu a partir da observação dos médicos de que o número e crianças e adolescentes com obesidade era crescente. O diagnóstico é feito com base na altura e peso, comportamento e padrões utilizados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Com a constatação, a equipe começou a encaminhar os pacientes com diagnóstico de obesidade para tratamento semelhante ao do Programa Viver Bem, criado para reduzir índices de diabetes, hipertensão e sobrepeso em adultos. “Com isso, pensamos em implantar o Viver Bem Mirim, com crianças e adolescentes”, explica.
A preocupação dos médicos que participaram do estudo – doze no total - se justifica porque a obesidade na fase infanto-juvenil pode ser um fator complicador para outras doenças, como diabetes e hipertensão, na fase adulta.
O estudo revelou ainda uma prevalência de sinais de obesidade ou sobrepeso em meninas: 62% dos pacientes estudados são do sexo feminino. A pediatra explica que essa diferença está ligada aos níveis hormonais femininos, que são maiores que os masculinos. “O acúmulo de gordura no corpo também antecipa a menstruação e o aparecimento de pelos no corpo, além de atrapalhar o crescimento”, informa.
Segundo a especialista, a má alimentação é a vilã de toda a história. Os maus hábitos alimentares aceleram a produção de hormônios, o que desencadeia o processo que causa os sintomas citados.
Tratamento – A médica revela que os maus hábitos alimentares são adquiridos pela criança em casa, e a tendência à obesidade, na maioria dos casos, está diretamente ligada ao comportamento da família. “Hoje vemos muitos pais que dão refrigerante para crianças de um ano de idade”, exemplifica. “A criança pequena não precisa ser apresentada a certas guloseimas, que poderiam ser consumidas só na idade escolar. Mas se o pai já apresenta à criança de um ano de idade o refrigerante, ela não vai querer o suco”, garante.
A conclusão é que os pais influenciam na obesidade infantil muito mais do que muitos imaginam. “Com os dados que obtivemos, chegamos à conclusão de que toda a equipe deveria entrar em contato também com a família e todo o núcleo de convivência da criança”, revela.
A metodologia – que inclui pais, avós e outras pessoas que influenciem na alimentação da criança nas sessões – servirá de base para a implantação do programa às crianças seguradas do plano de saúde. O tratamento é multidisciplinar – envolve médicos, nutricionistas e psicólogos – e é executado especialmente em sessões para conscientizar e acompanhar os pais e o desenvolvimento da dieta das crianças e adolescentes.
A médica diz que uma das principais diferenças de um tratamento para obesidade em crianças é que nada pode ser cortado, mas apenas substituído. “O adulto já está desenvolvido e pode cortar alimentos da dieta, enquanto a criança ainda precisa de todos os nutrientes, inclusive as gorduras”, explica.