Nesta semana, cinco pessoas excederam a capacidade de atendimento de doentes renais no Hospital Geral Roberto Santos, que é o único da rede pública preparado para atender urgências em nefrologia. O número foi considerado “baixo” pela coordenadora do setor da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), Tereza Martins, mas há dias em que a fila de espera é muito maior, e o diretor da Associação de Crônicos Renais (Acreba), Gerson Barreto, classifica a situação como extremamente grave . “Nunca os pacientes ficaram tão à deriva”, aponta, lembrando que, sem atendimento, o doente crônico ou agudo renal morre.
O Hospital Ana Nery é incumbido de dar “retaguarda”, ou seja, fazer serviço especializado, mas não de emergência. Tem 13 leitos para internação de pacientes com patologia renal e 24 pontos para hemodiálise (filtragem do sangue com a ajuda de máquina, quando os rins não desempenham essa função vital).
“Está cheio e com lista de espera”, diz a médica Fátima Gesteira, admitida há cinco dias para coordenar a recuperação e o funcionamento do setor de hemodiálise do Ana Nery, que integrava a rede estadual, agora em processo de “federalização”.
Fátima Gesteira é também presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia – Regional Bahia, que abre a programação do Dia Mundial do Rim, hoje. Sua principal ação é direcionada à prevenção, para educar sobre a importância de detectar o problema renal ainda no seu início.
Para o diretor da Acreba, prevenir é muito importante, entretanto, ele considera mais dramática a questão de pacientes que precisam de hemodiálise, remédios e internação.
Sua preocupação é ilustrada pelo caso do Ana Nery. Apesar de ter 24 pontos para instalação de máquinas de hemodiálise, apenas 14 estão sendo aproveitados (e quatro máquinas estão em manutenção). Ou seja, dez pontos de hemodiálise, com sistema de limpeza de água e drenagem próprios, que poderiam servir a mais 60 pessoas por semana, estão ociosos.
A coordenadora de nefrologia do Hospital Ana Nery, Marília Bahiense, explica que o que falta para que o setor funcione com plena capacidade é pessoal especializado. Ela conta que, há dois anos, técnicos e médicos do Ana Nery foram servir no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas – Hupes), enquanto o serviço no Ana Nery era interrompido para reforma física. O serviço foi “inaugurado” em janeiro.
“Se pedirmos o pessoal de volta, o serviço no Hospital das Clínicas fecha. Estamos abrindo devagar porque não tem funcionários. Nós não somos referência de urgência para nefrologia. O Ana Nery e o Hospital das Clínicas são hospitais de apoio”, disse a médica.
“O nosso problema é de pessoal. Não há concurso, então não há como ampliar o serviço. Você não pode ficar fazendo contrato de três meses”, ratifica o chefe da Unidade de Diálise do Hospital das Clínicas, Luiz José Pereira. Ele explica que o Hupes só tem equipe para trabalhar pela manhã e que é preciso um técnico de enfermagem para quatro máquinas em diálise. “É preciso entrar em acordo, porque como está (o atendimento) é que não pode ficar”, diz. O Hospital das Clínicas não tem vaga para hemodiálise.
O coordenador do Departamento de Nefrologia do Hospital Geral Roberto Santos, Sérgio Presídio, diz que o serviço prestado pelo hospital é muito bom e que o problema é a sobrecarga. Para ele, o Estado se esforça para melhorar a situação. “Embora o Roberto Santos tenha 28 nefrologistas, o sistema termina entrando em colapso porque as unidades do Ana Nery e do Hospital das Clínicas vêm atendendo de forma insuficiente”, relaciona.
Presídio diz que a enfermaria de nefrologia tem 15 leitos e todos estão sempre ocupados. Outros 30 doentes estão espalhados por outras unidades do hospital. Ele diz que a situação é grave porque a Bahia não tem capacidade para atender todos os pacientes de terapia substitutiva, que compreende hemodiálise, transplante e diálise peritoneal.