Cerca de 150 pessoas participaram de caminhada, com a presença do pároco
Rodrigo Vilas Bôas
Depois de chamar a atenção e atrair flashes na noite de sábado, no Festival de Verão (veja mais no Sotaque Baiano), padre Pinto voltou a entrar em cena ontem à tarde. Desta vez, nada de maquiagem, fantasia ou apresentação artística.
De cabelo pintado, carregando um terço e usando batina e óculos novos, ele participou de uma caminhada organizada pela Pastoral de Ação Comunitária da Igreja da Lapinha, que quer seu retorno ao comando da comunidade. Aplaudido e reverenciado, recebeu o carinho de moradores e paroquianos enquanto desfilava pelas ruas da Liberdade. Mandou beijos, acenou e chegou a chorar de emoção.
Iniciada por volta das 17 horas, a caminhada da qual participaram cerca de 150 pessoas partiu da frente da Paróquia Menino Jesus de Praga, no Guarani, seguindo pela Estrada da Liberdade (Rua Lima e Silva) em direção ao Largo da Lapinha, um percurso de aproximadamente 3 quilômetros.
Padre Pinto chegou de carro ao ponto de partida às 16h45. Logo em seguida, foi cercado por moradores e paroquianos, que, em coro, pediam o retorno dele às atividades paroquiais.
Afastar o padre foi um ato de autoritarismo da Igreja Católica, que cristaliza idéias e costumes. Ele não tem problemas psiquiátricos. É apenas irreverente e quis homenagear outras culturas, considerou a professora de filosofia Ana Deise Gomes, 35 anos, moradora na Lapinha há 23 anos.
É um inovador, um criador, um homem de bem que utiliza diversas linguagens culturais para se expressar, opinou o artista plástico Leonel Mattos, para quem a saída do padre da paróquia é uma injustiça que precisa ser reparada.
Com semblante tranqüilo, padre Pinto se dizia feliz por estar ao lado daqueles que o admiravam. Pároco da Lapinha há 33 anos, de onde está afastado desde a polêmica aparição na Festa de Reis, em 6 de janeiro, o pároco, de 58 anos, dizia estar feliz, mas confidenciava estar sofrendo com o fato de nenhum padre ter ido até lá para apoiá-lo.
Estou de batina, mas não preciso mudar para retornar. Posso até ter exagerado, mas faria tudo novamente. Possuo múltiplos dons, que precisam ser colocados a serviço da comunidade, desabafou, pontuando que, além de fazer pinturas, tem cuidado da beleza, fazendo amaciamentos na pele e pintado o cabelo.
Itália Sobre a possibilidade de ser mandado a Roma, na Itália, padre Pinto foi enfático: É uma audácia, uma proposta castradora ser mandado para fora da cidade. Quero que os caminhos se abram para que eu possa reassumir o meu lugar. Só isso.
Para os moradores e paroquianos do bairro, a ida do padre à Itália seria um retrocesso. Isso não pode e não vai acontecer. Ele é daqui e daqui sempre será, observou Kléber Santana, 39 anos, morador no local há 25 anos.
Nas faixas que a população segurava, mensagens eram dirigidas à Igreja Católica e ao próprio cardeal, a exemplo de Perdão, humildade e fraternidade: base do Cristianismo e Alô, alô, cardeal: inquisição foi na Idade Média. Não deu certo. Imagine agora.
Celebração Ao término da caminhada, uma missa seria celebrada por um padre da Sociedade das Divinas Vocações, congregação à qual padre Pinto pertence.
A missa foi suspensa pelo cardeal (dom Geraldo Majella).
Os padres da congregação foram impedidos, informou o relações- públicas Sérgio Bezerra, membro da comunidade. Sadoc (monsenhor Gaspar Sadoc) até me ligou hoje e disse que não viria porque estava impedido de celebrar uma missa, comentou padre Pinto.