Na semana dedicada a Irmã Dulce, é grande a expectativa pela beatificação
MARCIA GOMES
Eu sou um milagre vivo. A afirmação é de Luciana Dias, que atribui a Irmã Dulce o fato de ter sobrevivido a um acidente de ônibus, após permanecer por quatro horas e meia presa às ferragens do veículo, em dezembro do ano passado. Ela teve 11 costelas quebradas, fratura no omoplata esquerdo, perfuração no pulmão e sua coluna vertebral foi partida em três pontos. Às vésperas da cirurgia, ao realizar novo exame, constatou-se que as duas fraturas vertebrais mais graves estavam recompostas. O memorial dedicado à religiosa já contabiliza mais de quatro mil graças recebidas por fiéis.
Há exatos 14 anos, o Anjo Bom da Bahia partiu da Terra, e, para celebrar sua passagem, as Obras Sociais Irmã Dulce realizam, entre 13 e 19 deste mês, a Semana de Irmã Dulce. Ontem, às 17 horas, foi celebrada missa pelo cardeal primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Agnelo, no Largo de Roma, na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, futuro santuário da religiosa, que inaugura a conclusão de sua segunda etapa. A grande expectativa dos fiéis é a conclusão do processo de beatificação de Irmã Dulce, que foi iniciado em janeiro de 2000, com o aval de 500 relatos de graças alcançadas por intercessão da freira baiana.
O caso da jornalista Luciana Dias é emblemático, segundo suas próprias palavras: no dia 13 de dezembro de 2005, ela sofreu um acidente de ônibus na BR-482, em Minas Gerais, e afirma ter sido mantida viva por obra e graça de Irmã Dulce. Luciana diz que, quando viu que o ônibus iria colidir com um caminhão, fechou os olhos e pediu à freira que protegesse seu rosto, pois iria gravar um programa e não queria ficar com cicatrizes na face, explica. Mas o acidente foi mais grave do que imaginava e Luciana alternava pedidos de socorro com momentos de silêncio, quando orava a Irmã Dulce.
Passaram-se 28 dias até que os médicos identificassem que ela possuía três vértebras fraturadas e um edema na coluna. Ao saber que teria de se submeter a uma cirurgia de alto risco, com a possibilidade de ficar paraplégica, mais uma vez rogou a Irmã Dulce. Enquanto fazia o exame de ressonância magnética para confirmar o diagnóstico das três fraturas, vi nitidamente o rosto de Irmã Dulce me dizendo que eu não teria que ser operada, relata Luciana Dias.
Ao ser contatada pelo médico, foi informada de que duas de suas vértebras, cujas lesões eram as mais graves, haviam se regenerado e a outra fratura poderia ser tratada com corticóides. Já dei a cadeira de rodas e hoje (ontem) vou entregar as muletas no ofertório na missa de Irmã Dulce, disse Luciana, que anda apoiada com uma bengala e usa colete para proteger a coluna vertebral por mais algum tempo. Na recuperação, um doente precisa ter fé, uma boa intercessora e muito bom humor, completa, ao se dizer uma pessoa privilegiada.
TUMOR MALIGNO O advogado e empresário cearense Mauro Petri Feitosa, 42, há três anos vem a Salvador por ocasião das celebrações dedicadas a Irmã Dulce. Em 2002, ele recebeu a notícia de que seu filho de 13 anos (hoje com 17) teria que ser operado de um tumor maligno na cabeça. A previsão de vida que os médicos deram ao meu filho era de seis meses no máximo, conta.
Mauro Petri não possuía muitas informações a respeito de Irmã Dulce, mas recebeu de amigos em Fortaleza, às vésperas da cirurgia do filho, uma relíquia pertencente à freira (pequeno fragmento de um de seus hábitos). Munidos de fé, Mauro, esposa, o filho e outros parentes entregaram-se à oração. A cirurgia estava prevista para durar 12 horas, mas, com três horas e meia, já havia terminado, relata Mauro.
De acordo com ele, os exames feitos antes da operação mostravam que a formação cancerígena tinha se expandido para o cérebro, mas os médicos constataram, na cirurgia, que o tumor estava solto e não era maligno. A recuperação do rapaz foi espantosamente rápida, segundo o pai. Com 36 horas após a cirurgia, meu filho recebeu alta, e com um mês já jogava bola na praia em Fortaleza com os amigos, diz Mauro. Os médicos nos avisaram que provavelmente ele teria sérias seqüelas na visão, mas meu filho não sente sequer uma dor de cabeça, festeja o advogado.
Bispo de Irecê presente ao evento
O bispo de Irecê, dom Tommaso, estava presente, ontem, à missa em homenagem a Irmã Dulce. O religioso testemunhou durante seis horas no Tribunal Arquidiocesano que avalia o processo de beatificação da religiosa. Eu a considerava uma mãe e ela tinha a mim como um filho, recorda o bispo italiano, que conviveu com a religiosa de 1987 a 1992, e todos os anos visita o seu túmulo. Na sua opinião, a beatificação de Irmã Dulce representará um movimento forte de evangelização porque muitas pessoas se aproximarão de Cristo e da Igreja.
Para Maria Rita Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce e sobrinha da freira, é muito importante que saia a beatificação porque isto irá perpetuar a obra, irá reforçar todo o trabalho que já foi feito até o momento. Maria Rita observa que a beatificação será uma garantia de que a obra não acabará nem sofrerá mudanças, perdendo os princípios de sua fundadora. A lembrança mais marcante que trago dela é quando a via visitando os doentes em seus leitos, sabendo como estavam, orando com eles, passando confiança em Deus, destaca.
A Osid é considerada pelo Ministério da Saúde a maior unidade de atendimento 100% gratuito em saúde no Brasil e é responsável pelo maior volume de atendimentos em toda a estrutura do setor na Bahia. Foi fundada por Irmã Dulce em 26 de maio de 1959 e é reconhecida como instituição de utilidade pública nos âmbitos municipal, estadual e federal e cadastrada no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Em 2005, as obras realizaram 2,7 milhões de atendimentos, 600 mil a mais que no ano anterior.