Mensalidades aumentam e pais inadimplentes procuram parcelamentos para quitar dívidas e para comprar material escolar
CLÁUDIA OLIVEIRA
Depois de comemorar nas festas de fim de ano, os pais que têm filhos em escola particular começam a fazer as contas e rever o orçamento para efetuar as matrículas. As mensalidades subiram de 8% a 10%, e, antes de pagar a primeira mensalidade e garantir a vaga, quem ficou inadimplente no ano passado tem de negociar com a escola para tentar parcelar os débitos.
No Colégio 2 de Julho, o índice de inadimplência é de 12% entre os 550 alunos do maternal ao 3º ano do ensino médio. O responsável pela divisão administrativa e financeira, Milton Cavalcanti, informou que uma financeira faz a cobrança dos inadimplentes, mas a escola também está aberta à negociação, podendo oferecer vantagens.
A gente abre possibilidades, como pagamento parcelado em três vezes no cheque pré-datado. No Colégio 2 de Julho, as mensalidades ficam entre R$ 360, da 1ª à 4ª série, a R$ 602, do 3º ano do ensino médio. O valor da mensalidade é o mesmo da matrícula.
A funcionária pública Jacira Ferreira, 50 anos, tem uma filha na 7ªsérie do Colégio 2 de Julho. Ontem, descobriu que vai pagar a mensalidade com um aumento médio de 8,5% foi a R$ 397. Ela afirma que chega a comprometer 40% de sua renda para manter a filha na escola particular. Num país como o nosso, é um esforço muito grande manter um filho em escola particular.
A gente se priva de muita coisa, do lazer, por exemplo. Mas ela está tranqüila por ter conseguido pagar todas as mensalidades de 2005. Além disso, acredita que o sacrifício feito pela família também é um investimento. Com o ensino público que nós temos, fica difícil planejar um futuro melhor para nossos filhos.
No Colégio Athenas, em Brotas, da 5ª série ao 3º ano, o índice de inadimplência é de 20% entre os 320 alunos da instituição. O diretor de ensino, Jaime Nobre, diz que uma das alternativas para negociar com os pais é a permuta. A gente usa os serviços.
Se algum tem uma loja de material de construção, ele pode ceder material e amortizar a dívida. Somos flexíveis, afirma. No colégio, as mensalidades variam de R$ 127 (5ª série) a R$ 292 (3º ano do ensino médio).
Alternativas para reduzir o índice de inadimplência também estão sendo tomadas pelo Instituto Educacional Monte Carmelo, onde 45% dos 300 alunos, da pré-escola ao 3º ano do ensino médio, têm dívidas referentes ao ano passado.
A secretária responsável pela negociação com os pais, Maria dAjuda Troccoli, afirma que a escola recebe a proposta dos pais e oferece alternativas para pagamento, como descontos e parcelamentos. As mensalidades ficam entre R$ 180, da pré-escola, e R$ 474, do 3º ano do ensino médio.
MATERIAL DIDÁTICO Nesta época do ano, os pais também têm de se preocupar com a lista de material didático motivo de corte de gastos para a família do PM Gilberto Amorim, 40 anos. Com dois filhos em escola particular, um na 6ª série e outro na 8ª, vai gastar quase R$ 1 mil com a lista de material dos dois.
Começou ontem a fazer a pesquisa de preço, disse que os livros estão tabelados, mas é possível encontrar diferença no valor de outros materiais entre livrarias e papelarias.
A grande inquietude dele é que, por onde passou, só conseguiu dividir o pagamento em até três vezes, no cartão, porque as livrarias alegam estar evitando cheques pré-datados por causa da inadimplência. A gente vai ter de apertar o orçamento e, talvez, entrar nos juros do cartão de crédito, afirma. Educação está muito cara.
Com várias sacolas na mão, a dona-de-casa Mariza Ferreira, 48 anos, também reclama da lista de material didático exigido pela escola da filha Lorena, 6 anos. Pediram até saboneteira; para que isso, se ela já sai de casa com banho tomado?, esbraveja.
Ela afirma que só com material didático gastou mais de R$ 200 e acredita que ainda vai ter de desembolsar mais de R$ 100 com livros. Já comprei tanta coisa e ainda falta um monte. Para que tudo isso para uma menina de 6 anos?, questiona.
As despesas tendem a aumentar com a soma dos livros didáticos. O responsável pela seção de livros de uma livraria no centro da cidade, Jackson Santos, 40 anos, conta que os livros do ensino médio estão custando em torno de R$ 80, os do ensino fundamental, cerca de R$ 60, e os da educação infantil, por volta de R$ 50.
Os pais que já vieram fazer pesquisa de preço estão reclamando muito. Acredito que quem tem um filho no ensino médio deva gastar cerca de R$ 700 só com livros, avalia.
Procura pelo Pró-Jovem fica abaixo do esperado
Apenas 76% das 1,2 mil vagas oferecidas na primeira fase do Pró-Jovem em Salvador foram preenchidas. A procura abaixo do esperado, no entanto, não alterou a dimensão da segunda fase desse projeto de educação profissional, desenvolvido por uma parceria entre os governos federal e municipal.
As inscrições para as novas 14,4 mil vagas foram abertas ontem e podem ser realizadas até domingo, no anfiteatro do Parque da Cidade.
Sem saber exatamente os cursos oferecidos pelo programa inserido no Mais Social, Natalie Oliveira, 20 anos, se inscrevia na esperança de estudar informática. Isso só será possível dentro do curso de telemática, que aborda o uso dos computadores dentro do trabalho de telemarketing.
Construção civil e reparo, vestuário e turismo são as outras três possibilidades para a formação, feita em um ano. Além disso, a turma na qual será inserida não depende exclusivamente de sua vontade.
Ficamos com medo de todos migrarem para telemática, pelo interesse nas tecnologias avançadas, justifica o coordenador administrativo do Pró-jovem, Gilberto Santos Júnior. Para evitar a centralização em uma área de conhecimento, a alternativa escolhida foi o sorteio. Assim, Natalie terá contato com os conteúdos dos quatros cursos durante os seis primeiros meses do programa, mas depois terá de contar com a sorte.
Cento e quatro escolas devem ser usadas como sede dos cursos, caso as vagas sejam integralmente preenchidas. Atualmente, as 30 turmas estão distribuídas em seis unidades escolares, localizadas no subúrbio ferroviário.
Os estudantes com pelo menos 75% de freqüência e participação efetiva nas atividades em sala recebem uma bolsa de R$ 100. Natalie mal pode esperar por esse auxílio no orçamento mensal.
(J.F.)
Saiba mais
Preço médio de alguns itens do material didático
Caneta simples R$ 0,50
Borracha (de fixar no lápis) R$ 0,20
Cola (tubo) R$ 1
Papel crepom (folha) R$ 0,60
Papel madeira (folha) R$ 0,35
Cartolina (folha) R$ 0,50
Lápis R$ 0,25
Papel ofício (500 folhas) R$ 13
Classificador R$ 0,80
Classificador de plástico R$ 2,85
Caderno dividido com dez matérias R$ 12
Caderno pequeno com 96 folhas R$ 2,70
Caderno de desenho R$ 2,70
Lápis de cor (caixa com 12, grandes) R$ 3,30
Hidrocor (caixa com 12 unidades) R$ 2,80
Isopor (folha de 5 milímetros de espessura) R$ 0,90
Apontador simples R$ 0,30
FONTE: papelarias no centro da cidade