Revoltado com a morte da garçonete Josefa Maria dos Santos, 46 anos, o Conselho de Moradores de São Cristóvão ameaça entrar nesta sexta-feira, 5, com representação no Ministério Público contra o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu-192). Segundo os residentes do local, as ambulâncias não entram no Conjunto Habitacional de São Cristóvão, comunidade conhecida como Planeta dos Macacos.
Vizinhos e amigos da vítima afirmaram que os chamados ao serviço foram insuficientes. A dona-de-casa Altamira Bastos da Silva, 27 anos, diz ter sido a primeira a fazer a solicitação, por volta das 9h30 da manhã. “Liguei, expliquei que ela estava sentindo dores no ombro até o coração”. Ao meio-dia, foi a vez do vizinho Joselino dos Santos voltar a solicitar o serviço: “O ombro dela já estava inchado”.
SEMEGE – Às 16 horas, o vizinho Tiago Cerqueira, 21 anos, conseguiu levar Josefa até a Clínica Semege, no próprio bairro, que tem convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS), sem sucesso. “O segurança disse que o médico só chegava às 21 horas. Lá é muito raro encontrar médico de plantão”. O administrador da Semege alegou que não poderia atender a reportagem e, depois disso, não retornou os sucessivos telefonemas.
Após a negativa, a garçonete teria voltado para casa, mas a dor aumentou e a sensação de aperto no peito a fez pedir ajuda novamente. Mais uma tentativa para o Samu foi feita sem sucesso às 22 horas. As duas últimas ligações para o Samu foram feitas às 22h45 e às 23h20. “Trabalho na Secretaria Municipal de Saúde e sei como isso funciona. Eles se negaram a prestar socorro”, afirmou um vizinho, sem querer se identificar.
Sem acreditar mais na promessa que teria sido feita por um atendente do serviço, por volta das 23h30, os moradores foram em busca de um comerciante do bairro, que levou a vítima ao Hospital Menandro de Farias, em Lauro de Freitas, onde ela morreu pouco depois. O laudo com a causa da morte só será concluído em até 30 dias.
DESEMPREGADA – Josefa estava desempregada e morava em um vão alugado, onde estava devendo o aluguel havia três meses, com os filhos Rodrigo, 15 anos, Daniela, 21, e José, 5. Segundo a filha mais velha, o avô é falecido e a mãe nunca lhe falou sobre a avó. “Uma vez, ela falou que tinha um irmão em Jequié, mas a gente não conhece. Vamos conversar e resolver o que vai ser da nossa vida”. A família sobrevivia com a ajuda de vizinhos e com o dinheiro da venda de latinhas.
Segundo o presidente do Conselho de Moradores de São Cristóvão, Edvaldo Egídio, é notório o descaso com a comunidade. A representação ao Ministério Público deve ser feita nesta sexta-feira, segundo o presidente da Associação de Moradores do Conjunto Habitacional de São Cristóvão, Eliel Capistrano Souza.
Há um mês, o vigilante Hercílio Santos, 57, teve que contar com apoio de amigos. “No mês passado, disseram que aqui tinha muita violência. Depois de alguns dias, chamamos de novo. Fui buscar a ambulância na frente do shopping”, disse a doméstica Lilian Alves, 27.
Segundo o coordenador do Samu, Ivan Paiva, há apenas um registro para a localidade, que foi feito às 14h19. O horário não coincide com nenhuma das ligações que os moradores disseram ter feito. A queixa que consta no relato da ocorrência é de dor na nuca. “Em casos assim, a orientação é de a pessoa procurar um posto mais próximo”.