Sylvia Verônica
Já é Carnaval no Pelourinho, o circuito Batatinha da folia. Ontem à noite, um cortejo puxado pela personagem Mulinha Féxion tomou as ruas do Centro Histórico e invadiu o Cruzeiro de São Francisco, reunindo dezenas de pessoas ao som de marchinhas no baile Berro da Folia, sob o comando do maestro Reinaldo.
A Mulinha Féxion é uma versão bem-humorada da mulinha nordestina. Com um visual que mais parece uma mistura de Carmem Miranda, Mulher Gato e uma odalisca, vestida com roupas e adereços cor-de-rosa, a americana Miss Maquideives, que encarna a Mulinha Féxion, desfila no fundo de uma picape como uma superstar. Distribui acenos, desdobra-se em gestos sensuais, recebe aplausos e fiu-fius.
É muito engraçada, esta Mulinha. Aqui no Pelourinho, o Carnaval é mais calminho. Dá para ver tudo sem se apertar, comentou a mineira Regina Mendes, 32 anos.
Este é o terceiro ano de apresentação da Mulinha Féxion, que é acompanhada por outros personagens. A Jeguinha Treiteira é amiga da Mulinha e participou da festa pela primeira vez no ano passado. O Burrinho Bagunceiro fez sua primeira apresentação e é encarnado por um ex-residente da Febem e morador dos Alagados, hoje integrante de projetos de arte e educação de ONGs ligadas à Oficina das Artes do Pelourinho.
A saída do bloco da Mulinha Féxion foi comandada pelo Bagunçaço, com o reforço de duas orquestras, a Verde e Rosa e a Jurema. Em seguida, a cantora Ana Paula Barreiro fez o show Charanga Chique.
Este Carnaval chega a ser inocente. Aqui, todo mundo vira criança. A música, as fantasias... O clima inspira nosso lado infantil. É importante que, além dos trios elétricos, o Carnaval continue mantendo as manifestações culturais tão ricas de nossa história, disse o auxiliar-administrativo Henrique Souza, 27 anos.
Miss Maquideives foi apresentada ao Boi Axé, o Bumba-meu-boi do Pelourinho, na primeira vez que esteve em Salvador. Ficou encantada e quis conhecer outras manifestações culturais. Ouviu falar da Mulinha de São Francisco do Conde e foi conhecer.
Lá, se apaixonou por Zé da Mula, o dançarino que vestia a fantasia da Mulinha de São Francisco do Conde. Apaixonaram-se, mas a americana precisava voltar para os Estados Unidos. Em Nova York, criou a Mulinha Féxion e desfilou pelas ruas, causando estranheza e admiração.
Frustrada com o resultado do trabalho e com vontade de apresentar o personagem no Brasil, Miss Maquideives voltou a Salvador, e fez o primeiro desfile de Carnaval ao lado de outro personagem, o par romântico da Mulinha, o Boi Axé.
Entrevista
Margareth celebra a Pequena Notável
Isabel Aquery
De Carmem Miranda. É assim que a cantora Margareth Menezes promete iniciar o Carnaval de Salvador puxando o bloco Os Mascarados. Carmem Miranda porque, ano passado, foi comemorado os 100 anos da morte dela, que é uma personagem com um lugar na música popular brasileira e na arte da Bahia, justificou a cantora, em entrevista coletiva que concedeu na manhã de ontem, no Hotel Pestana.
E segue: Carmem Miranda foi a primeira imagem da Bahia que cantou Dorival Caymmi e levou a nossa cultura para fora do País. Já no segundo dia, a fantasia será surpresa porque, para as divas do Carnaval baiano, coletiva sem surpresa não tem graça. Nem eu sei como será, desculpou-se a cantora, que completa, em 2007, 20 anos de carreira.
Para o bloco Os Mascarados, que, como todo ano, continua sua concentração na Associação Atlética da Bahia, ela anunciou, como novidade, a presença do cantor e compositor Eduardo Dusek e a sucessão do jornalista José Simão e da apresentadora de TV Astrid Fontenelle, que passam os títulos de rei e rainha para os atores Caco Monteiro e Vera Holtz. Isso tudo ao som da banda Paroano Sai Milhó, que executará clássicos de Carnaval e em seguida arrasta os associados pelo circuito Barra-Ondina.
Maga também é cinematográfica. A cantora, que já participou da trilha sonora do filme Foliar Brasil, da diretora carioca Carolina Paiva, gravado em 2004, estará novamente na ativa nesta seara, com músicas no filme Ópaió, de Monique Gardenberg, mesma diretora de Benjamin. Margareth Menezes, tomada por uma sutil timidez, tentou desconversar, mas a idéia é de que ela e Os Mascarados participem das filmagens, que acontecem durante o Carnaval.
Falta visão Mesmo com a programação mais enxuta que o ano passado, Margareth ainda sai no bloco da Cidade, da prefeitura municipal, no circuito Osmar (Campo Grande), domingo, às 20 horas. Vou fazer uma homenagem prestigiando as fantasias, que serão confeccionas pela Fábrica do Carnaval. Sendo assim, o folião poderá levar a sua fantasia para casa como souvenir, brinca.
A cantora, que foi a primeira artista a puxar um trio independe com patrocínio, se sensibiliza com o fato de cantores, que fizeram a história do axé, não saírem no Carnaval por falta de patrocínio. É uma falta de visão. Quanto mais elementos colocarem na avenida, melhor.
Eles tornam o Carnaval grandioso. Acho que a prefeitura deveria olhar isso com mais carinho. Quem faz o show para o camarote é o artista de trio. Só existe camarote, porque existe espetáculo na avenida, dispara a cantora.
DVD Para comemorar os 20 anos de carreira, Margareth começa os seus preparativos para o seu segundo DVD em meados de março. O audiovisual será gravado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. Não me vejo gravar o DVD, que é um registro tão importante pra mim, em outro lugar que não seja na Bahia e na Concha Acústica.
No repertório está a música Faraó, com a qual a cantora se emocionou ao cantar no Festival de Verão. Ela foi a primeira música, primeiro samba-reggae. Com Ellegibô, é a base da minha carreira e representa tudo que construi, relata,
Para o início de 2007 Margareth Menezes pretende lançar o seu livro de registros. Terá a primeira vez que saiu o meu nome no jornal, em 1985; as turnês internacionais, as muitas colaborações de artistas e algumas entrevistas. Será um livro mais documental, afirma.
Circulando - Símbolo do Carnaval
Isabel Aquery
A apenas uma semana do Carnaval de acordo com a Emtursa, este é o momento certo foi anunciado oficialmente, ontem, o símbolo da festa momesca em Salvador: o casal de artistas composto pela dançarina japonesa YukaChan e o coreógrafo Antônio Cozido. Na apresentação, eles subiram ao palco vestidos de branco, para representar a entidade Oxalá, do Candomblé, segundo a assessoria da Emtursa.
Diferentemente do Rei Momo e da Rainha do Carnaval, que são eleitos por uma comissão de jurados, a escolha de YukaChan e de Cozido se deu, segundo o presidente da Emtursa, Benito Gama, entre os integrantes do próprio órgão. Foi uma escolha artística e técnica.
Historicamente, está no regimento que o símbolo e a marca são de responsabilidade da Emtursa enquanto a eleição da rainha e do Rei Momo sempre foi de iniciativa privada.
A escolha da dupla como símbolo do Carnaval, de acordo com Gama, é uma caracterização da mistura de raças presente em Salvador e a representação da luta contra a discriminação da mulher e do negro. Houve um grupo que, dentro do conceito o coração bate aqui (tema da campanha do Carnaval), pensou escolher o símbolo de outro continente, relata o presidente da Emtursa.
No Japão, também temos símbolos brasileiros, como o técnico da seleção deles, Zico, o lutador Rodrigo Minotauro e o jogador Bebeto Gama, explica.
Sem deixar o leque cair, a dançarina YukaChan mostrou que, mesmo sendo de outra nacionalidade, tem simpatia
e suíngue para mesclar as duas culturas (brasileira e japonesa) durante o período carnavalesco. Não tive a mesma sorte de nascer aqui e ralei muito pra pegar este ritmo. A cultura é muito rica. Quanto mais a conheço, mais aprendo que não sei nada, diz a dançarina.
Para o coreógrafo e dançarino Antônio Cozido, que conduziu a dupla no palco, o momento é de total satisfação para sua carreira profissional. Viajo muito pelo mundo divulgando a cultura daqui. Ser reconhecido e valorizado na minha terra é muito gratificante.
Com a apresentação oficial do símbolo, falta somente a cidade ser decorada para o Carnaval começar. Benito Gama garante que até a quinta-feira, data que começa o desfile de blocos, todos os circuitos estarão enfeitados com adereços típicos da festa. As ordens de serviços já estão para ser despachadas. Estamos dentro do prazo, afirma Gama.
A coluna Sotaque Baiano sai diariamente neste espaço, até o Carnaval. Correspondência para R. Professor MiltonCayres de Brito, 204 - Caminho das Árvores, Cep 41822-900 ou pelo fax 3340-8712