Paralelo ao investimento privado em Imbassaí, são anunciadas melhorias para a população local. O grupo Reta Atlântico, por exemplo, pretende gerar 1.600 empregos diretos com a consolidação da Reserva Imbassaí. Também na linha do turismo sustentável, há um ano foi criado o Cluster Costa dos Coqueiros, formado por 28 empresários de grupos estrangeiros de hotelaria, pequenos comerciantes, e o Poder Público. O objetivo é garantir que os habitantes nativos sejam inseridos na cadeia produtiva dos empreendimentos turísticos.
Mas na prática não é bem assim que as coisas funcionam. Ao ser inaugurado em 2000, Costa do Sauípe, o maior complexo hoteleiro da América Latina, passou a ser visto como uma enorme fonte de empregos, principalmente para as oito comunidades situadas nos municípios de Mata de São João e Entre Rios. Entretanto, apenas 25% da população local está inserida no quadro de funcionários dos hotéis, segundo dados da prefeitura de Mata.
A mão-de-obra local não pôde ser aproveitada por uma questão que beira a obviedade: falta de capacitação profissional para assumir postos de trabalho nos hotéis cinco estrelas. O analfabetismo atinge cerca de 45% da população do Litoral Norte. Os nativos têm como perfil uma vida marcada pela economia de subsistência com predomínio da pesca, lavoura e artesanato, atividades que deixaram de ser realizadas devido ao impacto sócio-ambiental proporcionado pela chegada dos hotéis.
A população local passa ser minoritária diante do alto fluxo da população flutuante, que é formada pelos turistas. Nessa situação, as conseqüências negativas são inevitáveis. O turismo de massa subverte a cultura local, avalia o urbanista Helieodoro Sampaio, diretor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Questionado sobre uma possível solução para o problema, Sampaio é taxativo. Há uma inversão de valores. O empresário chega com dinheiro e determina o que vai ser feito. O Estado praticamente não interfere em nada, enquanto deveria pelo menos determinar a área de ocupação para não avacalhar o nosso território. O ideal seria o Estado determinar as carências do local e abrir para investimento estrangeiro ou nacional. Mas o que ocorre é justamente o oposto. Os empreendedores enxergam o nosso potencial natural e cultural e se aproveitam da situação.
Há ainda a inserção de elementos urbanos que antes não faziam parte da paisagem local. Para dar fim ao lixo produzido pelos turistas e visitantes do Litoral Norte foi construído o aterro sanitário de Sauípe, onde são despejadas 600 toneladas de lixo orgânico por mês, segundo dados da Conder. Como já era de esperar, famílias passaram a fazer coleta no lixão, diz Edilene Cardoso de Oliveira, 48, veranista de Imbassaí.
A reportagem do
A Tarde On Line esteve no aterro sanitário, porém foi informada por funcionários da Conder que a coleta não é permitida no local. Entretanto, a reportagem encontrou no caminho do aterro, em uma estrada de terra batida, um pai junto com quatro filhos em uma carroça, a caminho do lixão. Identificado apenas pelo pré-nome de Antônio, o pai das crianças disse que costuma catar comida para os porcos que cria em casa.