“Ontem parei de fumar. Fumava há mais de 19 anos e há muito tempo estava com a idéia de parar de fumar. Por mim, pela minha família, pela vida. Sei que não será fácil. Espero contar com o apoio de vocês nessa luta.”
O depoimento anônimo foi deixado esta semana em um tópico de discussão na comunidade “Cigarro? Diga não a essa droga” no orkut, o site de relacionamentos do Google. Mais de três mil pessoas fazem parte desta comunidade.
Nesta quinta-feira, 31, os apelos contra a indústria do cigarro ecoam mais altos. A data marca o Dia Mundial Sem Tabaco, ocasião criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com o Governo Federal com o intuito de sensibilizar o maior número possível de pessoas sobre os males causados pelo consumo do tabaco e seus derivados.
Segundo dados da OMS, existe cerca de 1,3 bilhões de fumantes no mundo. Desses, 88% desejam parar, mas apenas 3% conseguem se livrar da nicotina por conta própria, sem recorrer a nenhum tipo de ajuda médica ou terapêutica.
A nicotina cria dependência química. Vicia mais que o álcool, a cocaína e a morfina. “É muito difícil o fumante parar sozinho. A maioria precisa de ajuda e nem todos conseguem largar o cigarro na primeira tentativa. Parar de fumar não é uma simples mudança de hábito. Desde 92, o tabagismo é considerado doença pelo CID [Classificação Internacional de Doenças]”, explica Gabriel Seffair, psicólogo, vice-presidente do Comitê Coordenador do Controle do Tabagismo no Brasil, capítulo Ceará.
Quando o fumante acende o cigarro, a nicotina é absorvida rapidamente pelos pulmões, vai para o coração e através do sangue se espalha pelo corpo todo. “Após a tragada, a nicotina chega ao cérebro em sete segundos. É mais rápido do que se fosse injetada na veia”, conta Seffair. No sistema nervoso central, age em receptores ligados às sensações de prazer, estimulando o vício.
No artigo “Droga pesada”, o doutor Drauzio Varella, um ex-fumante, narra humilhantes demonstrações do domínio da nicotina sobre o usuário. “O doente tem um infarto do miocárdio, passa três dias na UTI entre a vida e a morte e não pára de fumar, mesmo que as pessoas mais queridas implorem. Sofre um derrame cerebral, sai pela rua de bengala arrastando a perna paralisada, mas não tira o cigarro na boca”.
Durante 30 anos de profissão, em especial o tempo em que esteve no Hospital do Câncer, em São Paulo, Varella chegou a presenciar várias vezes “doentes que perderam a laringe por câncer levantarem a toalhinha que cobre o orifício respiratório aberto no pescoço, aspirarem e soltarem a fumaça por ali.”
O cigarro é considerado atualmente a maior causa de morte evitável no mundo. Cerca de 1,2 mil pessoas morrem por dia. É como se dois aviões lotados de homens, mulheres e crianças despencassem do céu todos os dias, matando todos os passageiros - analogia feita pelo personagem Nick Taylor, o lobista porta-voz da nicotina, interpretado por Aaron Eckhart, no filme “Obrigado por fumar”.
No Brasil, são cerca de 200 mil mortes por ano. Para Drauzio Varella, o fumo é o mais grave problema de saúde pública do país. “Todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente”, apregoa.
Valdomiro, um ex-fumante que contraria as estatísticas
Sus oferece tratamento para quem quer largar o cigarro