Ex-pároco da Lapinha diz que não vai acatar decisão da congregação, que determinou para hoje a sua saída da paróquia
Rodrigo Vilas Bôas
A Sociedade das Divinas Vocações enviou uma nota à imprensa ontem esclarecendo algumas questões que giram em torno de um dos assuntos mais recorrentes na mídia nos últimos tempos: o caso padre Pinto. O novo enredo é a saída dele da Igreja da Lapinha.
O comunicado causou constrangimento e revolta ao religioso, que se manifestou contrário às colocações do conselho da congregação. Hoje termina o prazo para ele deixar a Paróquia da Lapinha, mas o aviso do sacerdote é de que ele não vai sair de lá.
A nota diz que não é correto o fato de o padre morar sozinho na Lapinha. O religioso deve ter vida na comunidade. O que lhe foi pedido é que ele deixasse a casa paroquial para residir na Comunidade Sagrada Família, em São Caetano, onde ele poderá cuidar melhor da sua saúde, diz um dos trechos.
Padre Pinto afirma que chamará a polícia se tentarem expulsá-lo da paróquia. Ele aguarda a chegada do superior-geral da Congregação Vocacionista, Ludovico Cabultto, que chega da Itália no próximo dia 21 para resolver o impasse. Existe uma esfera maior que precisa ser ouvida. E é ela que vai resolver essa questão.
Ele diz que não vai morar em São Caetano, pois teme que sua saúde seja prejudicada. Vão me dar um monte de remédios e sedativos. Não irei. Daqui não saio, disparou, considerando a nota sem importância alguma. No documento, a congregação pontua que foram oferecidas outras oportunidades a padre Pinto, como passar um tempo na Itália para descansar. Isso não significa punição, visto que não foi imposto.
Quanto à nomeação do padre Roberto da Silva para o cargo de administrador paroquial da Lapinha, padre Pinto considera uma boa indicação, embora confesse que ele mesmo queria continuar à frente da instituição. Segundo a nota, a mudança de párocos é normal na vida da Igreja.
Assinada pelos padres José Carlos Lima, Domingos Sávio Souza Leal, Roberto da Silva e Eudete Teixeira, a nota desmente padre Pinto: Em nenhum momento a congregação exigiu que ele passasse os bens para o nome dela. Pelo direito particular, o religioso não possui nada em nome próprio, pois ele fez um voto de pobreza, vivendo a partilha dos bens com a comunidade da qual faz parte.
Não tenho para onde ir
Ao falar sobre a possibilidade de deixar a igreja da Lapinha, de onde foi pároco por 30 anos, o religioso fica pensativo. Para onde vou? Não tenho para onde ir. O que farei? Não sei. Se tiver de deixar a igreja, ele comenta que talvez continue morando no bairro. A garantia é de que não sairá da cidade.
A agenda de padre Pinto está cheia. Além de convites a shows, diariamente são programadas entrevistas à imprensa. Hoje, por exemplo, concederá entrevistas a duas emissoras de televisão e a uma revista. Quando não está recebendo amigos ou repórteres na casa paroquial, dedica-se à pintura. Tenho recebido manifestações de apoio de personalidades do candomblé, espiritismo, Poder Legislativo e Judiciário, informou.
O religioso, inclusive, já foi convidado a ingressar na política. Fui consultado para me candidatar a vereador e a deputado, mas não quis pensar sobre o assunto. No Carnaval, pela primeira vez, ele desfilará no bloco dos Filhos de Gandhy. Recebeu e aceitou convites para ir aos camarotes de Gilberto Gil e Daniela Mercury.
Na Lapinha, os moradores estão preocupados com a saída de padre Pinto. Conheço ele há trinta anos e acho que ele dveeria ser ouvido por dom Geraldo Majella. É apenas um padre moderno, considera Maria da Conceição Cruz, 54 anos, que reside no local desde a infância.
O que ele fez foi um ato de alegria. Não estamos aqui para julgar ninguém. É uma injustiça o que estão fazendo com ele, opinou a baiana de acarajé Renilda Maria de Jesus, 53 anos, há nove trabalhando no bairro.
Há quem, porém, prefira a saída do padre, a exemplo do estudante Rafael Fernando Vaz, 22 anos. Eu não apoio. A atitude dele foi radical e carnavalesca. Quero ver alguém falar mais nele depois do Carnaval.