Religioso diz que o diálogo com o arcebispo dom Geraldo Majella seria como um filho conversa com o pai
Ceci Alves
O padre José Pinto reapareceu e trouxe com ele a sua metralhadora giratória de opiniões. Desta vez, ele manifestou seu desejo de encontrar-se com o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, o cardeal dom Geraldo Majella, para conversar sobre tudo o que aconteceu desde suas performances na Festa de Reis da Lapinha. Segundo ele, o diálogo seria como um filho conversa com o pai.
O controverso padre externou sua vontade de ter uma audiência com o arcebispo na manhã de ontem, durante uma reunião de rotina de sua congregação, a Sociedade das Divinas Vocações, no São Caetano, para discutir sobre a assembléia anual. Além de padre Pinto, estavam presentes outros membros da ordem e o provincial, padre Carlinhos que afirmou já ter dado o primeiro passo para que haja o encontro com o arcebispo.
Acho estranho ainda não ter acontecido essa audiência, e a demora me escandaliza. É deplorável, afirmou padre Pinto. O padre superior-geral da ordem, Ludovico Caputo, me ligou da Índia preocupado com isso. Afinal, o cardeal deve ser pai dos padres, e quando os filhos pintam, é o pai que deve ir ao encontro. Quero dizer-lhe pessoalmente tudo o que está acontecendo.
E diz mais: Eu estranho quando ele não se aproxima. Fico imaginando como ele chegou aos 82 anos de idade sem saber ser bispo. Mas, ao ser perguntado se havia ressentimentos da parte dele, padre Pinto recua: Não, de forma nenhuma. Adoro ele, amo meu pai. Mas, ele nem me permite chegar perto, e eu queria dar uns beijos nele, porque pai e filho são assim.
GALO O pároco da Lapinha continua sustentando a tese de que não cometeu erros apenas se excedeu. Não admito que errei, não mudaria uma vírgula do que fiz, sentencia. Foi tudo feito à luz da oração. Fiz uma dança baseado no que fomos paridos, enquanto povo brasileiro, esse povo pisado em muitos aspectos.
Eu sou padre Pinto e não queria ser pisado. Mas, já que fui, agora sou um galo com esporas, disse, subindo o tom. Estou me sentindo na inquisição moderna.
A Igreja Católica segue neutra no tocante à situação do padre e não fala sobre nenhuma provável medida a ser tomada. Mas, enquanto não se delibera o que fazer, congregação e Arquidiocese encenam um leve jogo de empurra.
A congregação tem seus aspectos, mas o que vai ser feito com o padre Pinto compete à Arquidiocese, diz o provincial da ordem vocacionista, padre Carlinhos. Nós não temos paróquia; ela nos é confiada e apenas apresentamos nomes quando nos é pedido. Quem delibera se ele deve ou não ficar na paróquia é a Arquidiocese.
HIERARQUIA De acordo com uma fonte ligada ao cardeal: Os superiores da ordem estão cuidando de padre Pinto e dessa história. Claro que dom Geraldo está a par de tudo, mas estamos procurando seguir a hierarquia. Quanto ao encontro entre o cardeal e o padre Pinto, ele está sendo gestado, mas sem muita pressa.
Deve acontecer. Mas, em nenhum momento, o padre requisitou audiência junto à Arquidiocese.
A Arquidiocese ainda informa que sua posição é entender o que aconteceu com padre Pinto, para tomar uma atitude. Queremos dar assistência, antes de punir. Fazer algo para que se possa aproveitar a capacidade artística e teológica dele.
Toda essa polêmica envolvendo o padre Pinto começou na semana da Festa dos Reis Magos, no início do mês, na sua paróquia da Lapinha. O religioso rezou missa maquiado e fantasiado e em seguida dançou vestido da orixá Oxum.
No dia seguinte, fez performance vestido de índio e ainda executou outras danças na nave da igreja, em procedimentos pouco convencionais para a Igreja Católica.