A cena se repete de manhã cedo, ao meio-dia e no fim da tarde nas proximidades dos colégios de Salvador. Basta começar o ano letivo e os engarrafamentos se tornam um transtorno para quem precisa levar ou pegar os filhos na escola. A situação voltou a se repetir desde a última segunda-feira, 27, quando os colégios estaduais e particulares retomaram as aulas após o Carnaval.
Para a funcionária pública Mônica Sales, não há como fugir da situação que enfrenta todos os dias para levar os dois filhos ao colégio Maristas, no Canela. "O negócio é ter paciência, já que todo mundo sabe que vai pegar esse trânsito aqui", diz. Já para o administrador de empresas Jorge Freire, o segredo é chegar um pouco mais cedo, 15 minutos antes do horário de início das aulas. "A gente perde uns minutos de sono, mas ganha com o trânsito mais tranqüilo", acredita.
No Garcia, onde ficam três colégios de grande porte, o congestionamento toma toda a via principal do bairro, impactando o trânsito no Campo Grande. A área mais crítica fica nas proximidades do colégio Antônio Vieira, que tem mais de 10 mil alunos. Para minimizar o problema, o estabelecimento modificou o espaço do estacionamento há três anos para permitir o embarque e desembarque dos alunos na área interna.
Para quem trabalha com transporte escolar, a situação é ainda mais difícil. É o caso de Abenilton Santos, que enfrenta o engarrafamento quatro vezes por dia, na entrada e saída dos alunos pela manhã e à tarde no Vieira. "O trânsito de Salvador está cada vez mais complicado. Nós precisamos de mais vias de acesso", acredita. Enquanto isso, ele diz que procura ficar tranqüilo mesmo nos momentos em que o trânsito está parado. "Passo mais de cinco horas por dia dirigindo e sempre em engarrafamentos. Se não conseguir relaxar, melhor mudar de ramo", diz.
Campanha de conscientização - O gerente de educação para o trânsito da Superintendência de Engenharia de Tráfego (SET), Armênio Samartin, critica a postura da maior parte das escolas, que não atenta para a necessidade de adequar sua estrutura ao trânsito de embarque e desembarque. "São raras as escolas que têm baias ou recuos adequados para esse fim. Os projetos de construção ou reforma dos prédios ignoram a questão e jogam toda a responsabilidade para os poderes públicos", critica.
De acordo com o gerente, a solução para amenizar o problema passa pela conscientização dos motoristas. "É muito comum ver os pais parando em fila dupla ou em local inadequado próximo às escolas. Isso porque existe uma cultura de que se pode parar em qualquer lugar, sem se importar com a coletividade", diz.
Segundo Samartin, a SET está preocupada com o assunto e investe em campanhas voltadas para os motoristas que levam os filhos à escola. Uma das campanhas terá início em março e envolve os alunos de escolas públicas e particulares. Após apresentações feitas pela SET, os alunos recebem talões em que assinalam as infrações cometidas pelos pais e depois são estimuladas a cobrar uma "multa" simbólica como o pagamento de doces ou outras recompensas. Para Samartin, esse tipo de atividade é importante para alertar os pais do papel de exemplo que eles exercem sobre os filhos e também para a formação dos futuros motoristas.
Quanto à fiscalização nas portas das escolas, Samartin argumenta ser inviável manter um agente de trânsito em todas as escolas. "Temos 700 agentes que trabalham em turnos de revezamento, com férias, licenças e folgas, para cuidar do trânsito em toda a cidade", informa. Segundo ele, o órgão instituiu um rodízio de fiscalização nas escolas onde a situação é mais crítica, como o Anchieta, na Pituba, e o Odorico Tavares, no Costa Azul.