Confira áudio da entrevista do delegado Clayton Leão quando ele foi assassinado
A polícia considera concluído o caso da morte do delegado Clayton Leão e descarta a hipótese de atentado. As informações foram passadas durante entrevista coletiva concedida à imprensa na manhã desta quinta-feira, 27,
pelo delegado-chefe da Polícia Civil, Joselito Bispo, e o secretário de
segurança pública, César Nunes.
No entanto, familiares do policial - morto em Camaçari, na manhã desta quarta-feira, 26 - põem em dúvida a versão da polícia. "Meu primeiro sentimento é que foi execução", disse o tio de Clayton, João Chaves, durante o enterro do sobrinho, ressaltando que a única testemunha do crime, a mulher do delegado, ainda não depôs.
Joselito Bispo e César Nunes disseram que ouviram a mulher do delegado informalmente e que ela teria reforçado a versão de tentativa de assalto seguida de morte. A polícia disse que os três criminosos pretendiam roubar o carro do delegado e chegaram gritando "bora, bora, bora".
De acordo com a versão da polícia, o delegado reagiu falando "peraí, peraí, peraí" e teria esboçado intenção de pegar a arma. Os criminosos alegaram que viram a arma e atiraram assustados, de acordo com a polícia.
"Estamos buscando todos os elementos e provas tanto testemunhais quanto periciais para descrever a ação criminosa", disse o delegado-chefe, Joselito Bispo. Bispo afirmou ainda que o crime foi uma fatalidade. "O colega teve a infelicidade de parar em um lugar em que jamais deveria ter parado. Não estava ali um policial, estava um cidadão. Precisamos trabalhar muito e ter consciência que segurança pública não é mais viatura, não é mais polícia. É um conjunto que tem que ser trabalhado como um todo".
Já para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindipoc), Carlos Lima, Leão teria sido executado pelos trabalhos que vinha fazendo de repressão do tráfico na região. “Com a experiência que eu tenho de 32 anos de serviço, não acredito que tenha sido um assalto. Para mim, foi um crime de mando. Ninguém levou nada e a esposa ficou lá, gritando”, avaliou Lima, enfatizando que o sindicato está “trabalhando para ajudar nas investigações”.
Corpo do delegado Clayton Leão foi enterrado com a presença de
colegas, amigos e familiares
Prisões - O terceiro envolvido no crime, Magno de Menezes dos Santos, se entregou à polícia na manhã desta quinta. Ele disse que estava dentro do carro dos criminosos. Os outros envolvidos são Edson Cordeiro e Reinaldo Valença, que foram presos nesta quarta. A operação de investigação e prisão dos acusados envolveu mais de 200 policiais, de acordo com Cleandro Pimenta, diretor do Departamento de Narcóticos (Dnarc), que presidiu as investigações.
Funeral - O corpo do delegado foi enterrado nesta quinta no Cemitério Campo Santo, na Federação, ao som da música "Amigos para sempre" tocada em um violino, e do protesto por justiça feito por familiares e colegas do policial.
O movimento no cemitério deixou o tráfego congestionado no entorno devido ao grande fluxo de veículos que seguia para o enterro. Agentes da Transalvador e da Polícia Militar foram acionados para organizar o trânsito. “A família está surpresa com a repercussão (da morte de Leão). Isso mostra o quanto ele era querido”, disse o tio do delegado, João Chaves.
Por volta das 10h, o corpo do delegado foi retirado da capela, onde ocorreu uma missa, e levado para o sepultamento, em meio a lágrimas de colegas fardados e autoridades. Policiais da Coordenadoria de Operações Especiais (COE), da qual o delegado já integrou, carregaram o caixão do delegado, que estava com o corpo coberto com fotografias de momentos com a família. Parentes amparavam e tentavam consolar a esposa do delegado, que deixa dois filhos – de 5 e um ano de idade. “Eles ficaram chamando pelo pai ontem a noite toda”, contou o tio de Leão.
No momento em que o caixão era sepultado, companheiros de trabalho expunham a revolta pela perda. “Não vai ficar de graça”, “Olho por olho, dente por dente”, “Quando acabar a greve (dos policiais civis), vamos cair em cima dos delinquentes. Vamos mostrar que aqui tem polícia séria e honesta”, gritavam os colegas inconsolados.
O governador Jaques Wagner fez uma rápida passagem no velório para prestar as condolências à família de Leão bem cedo e foi embora logo. Outras autoridades também comparecerem para prestar as últimas homenagens ao delegado. “Toda a família da polícia está amargurada pela perda de um herói. Este é um momento de reflexão em que a sociedade deve repensar o seu conceito de polícia, para que cuide melhor da sua polícia”, disse o titular da 5ª CP (Periperi), Deraldo Damasceno. O delegado-chefe da Polícia Civil, Joselito Bispo, e o secretário de Segurança Pública, César Nunes, também compareceram.
Como o crime aconteceu - Clayton foi baleado duas vezes na cabeça enquanto concedia entrevista à emissora Líder FM, de Camaçari. Por meio da rádio, foi possível ouvir os disparos dos tiros e o desespero da mulher do delegado, que estava com ele no carro.
Momentos antes do crime, Clayton parou o veículo na estrada da Cascalheiras, em Camaçari, para conceder a entrevista, já que não conseguiria ir ao estúdio da emissora. Ele falava sobre segurança na cidade e dizia que já sentia confiança em residir no município.
A notícia do assassinato fez dezenas de policiais e delegados irem para o local do crime para ajudar nas investigações. A polícia localizou os dois acusados pelo assassinato depois de encontrar o suposto carro utilizado na tentativa de assalto seguida de roubo.
*Com redação de Paula Pitta | A TARDE On Line