Moradores de condomínios de Salvador poderão passar a pagar individualmente pela água que consomem. Um projeto de lei que deve ser votado na próxima segunda-feira na Câmara de Vereadores visa obrigar todos os prédios que serão construídos na cidade a contar com medidores individuais do consumo. Para os condomínios já existentes, está previsto que as adaptações serão opcionais, definidas a partir do consenso entre os moradores.
Pela proposta de nº 402/2005, de autoria do vereador Beto Gaban (PDT), todos os novos edifícios terão um sistema de medição similar ao que é utilizado para registrar o consumo de energia elétrica. Atualmente, a despesa de água é rateada pelo condomínio independentemente da utilização de cada residência, mas alguns prédios já usam um modelo diferente. Segundo o superintendente comercial da Embasa, Raimundo Freitas, 71 prédios da capital baiana possuem os hidrômetros individualizados.
A proposta de Gaban estabelece ainda que a instalação deve seguir os parâmetros da Embasa, embora esta não execute o serviço. De acordo com Freitas são oferecidos quatro modelos de uso. Para prédios de até quatro pavimentos, os hidrômetros são ligados diretamente aos apartamentos, mas expostos do lado de fora dos edifícios. “É uma estratégia para garantir a segurança dos moradores“, justifica o superintendente.
Nos edifícios mais altos é usado o sistema de leitura remota, com os valores da medição de cada hidrômetro sendo transferidos para um equipamento concentrador. O mesmo modelo é aplicado a condomínios horizontais com mais de 30 casas. Nos que têm menos de 30 habitações, os aparelhos são instalados individualmente.
Caso o projeto seja aprovado, uma das vantagens será pôr fim às brigas pela divisão da conta de água nos condomínios. “É injusto que uma residência onde moram somente duas pessoas tenha que pagar o mesmo que outra com cinco moradores“, considera Sérgio Sampaio, presidente do Sindicato das Empresas de Administração de Imóveis em Condomínios do Estado da Bahia (Secovi-BA).
Para os condôminos do edifício Crescenciano dos Santos, na Sete Portas, a medida foi a solução contra a inadimplência que prejudicava o abastecimento. Desde dezembro de 2006, o prédio funciona com um hidrômetro em cada apartamento. “Ficamos dez anos sem água, porque como tinham moradores que não pagavam, a receita não dava para quitar“, lembra Ana Maria Pacheco, membro da comissão administradora.
A dívida chegou a R$ 400 mil e os moradores tiveram que apelar para carros-pipa para ter acesso ao líquido. Agora, com o novo sistema, Ana Maria diz que o problema está resolvido e os imóveis voltaram a ser valorizados. “Um apartamento que era vendido até por R$ 8 mil, porque o proprietário queria se livrar, agora está custando R$ 35 mil“, ressalta.
O modelo de individualização da cobrança de água já é comum, inclusive, nas obras para moradia popular. Há dois anos, durante a implantação de um projeto de urbanização na invasão do Inferninho, no coração do Costa Azul, a comunidade pediu à Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), que capitaneou o projeto, que este modelo fosse implantado.
“Os moradores daqui são vigilantes, porteiros, gente que já viu muita confusão por causa deste negócio da conta ser única“, afirma José Jesus, diretor geral da Associação Santa Rosa de Lima, que hoje representa as quatro comunidades integrantes do conjunto habitacional: Recanto Feliz, Primeira Vila, Paraíso I e II.