Aborto um crime execrável
Matos da Silva
Em agosto de 1865, na cidade de Recife, no vigoroso início de sua ardente mocidade, o nosso famoso A. F. de Castro Alves, profligando contra a injustiça e crueldade de que eram vítimas os escravos provenientes da África, iniciava uma das suas poesias intitulada O século, com os seguintes versos: O século é grande... No espaço/Há um drama de treva e luz./Como Cristo a liberdade/ Sangra no poste da cruz. Em todas as 13 estrofes transuda o seu veemente amor à liberdade que havia sido dilacerada e vilipendiada na pessoa dos africanos dispersos pelos mais variados lugares desse nosso País.
Nos dias de hoje, também, em toda a nossa pátria, encena-se um drama de treva e luz, uma indescritível tragédia em muitos hospitais, em muitas clínicas, nos próprios lares, em locais clandestinos de aborteiros que cometem os seus assassinatos sem um mínimo de escrúpulo. Um pesadelo sem nome se abate sobre milhares de embriões, fetos e crianças. Tiram-lhes a liberdade de nascer, de maneira, muitas vezes, crudelíssima, com uma inimaginável insensibilidade.
O direito à vida, o primeiro e fundamental de todo ser humano, está morrendo a cada dia no madeiro da cruz fincada no calvário de indescritíveis dores. Uma verdadeira calamidade! Desde que este mundo é mundo, nenhuma criança pediu para nascer; trazem-na os seus genitores. Não se pode procriar sem responsabilidade nem arrebatar a vida de quem quer que seja com tamanha ousadia e perversidade. Até quando determinadas pessoas fecharão os ouvidos à verdade de que o aborto provocado é um crime?
O não matarás do decálogo não lhes derrubou, ainda, a muralha da maldade? A título de que se cometem tantos horrores? De lucro? De vaidade? De descarrego da consciência? De adquirir votos? A título de cobrir um pecado com outro crime? Para ganhar foros de modernidade?
O Concílio Vaticano II, encerrado em dezembro de 1965, cristalizou para sempre essa sentença: O aborto provocado é um crime nefando. Para a Igreja católica, essa declaração não é novidade. Numa existência bimilenar, jamais ela negou essa doutrina. Jamais o fará no futuro, haja o que houver. Nascia, ainda, o cristianismo e já a tradição viva da Igreja, através da Didaké, o mais antigo escrito cristão extrabíblico reafirmava de modo categórico o mandamento: Não matarás.
Há dois caminhos: um da vida e o outro da morte, mas entre os dois há uma grande diferença. Segundo o preceito da doutrina... não matarás o embrião por meio do aborto, nem farás que morra o recém-nascido. Esse é o caminho da morte: assassinam seus filhos e, pelo aborto, fazem perecer criaturas de Deus (Evangelho da vida nº 54).
Muito tempo depois, percorrendo o mesmo itinerário, a mesma Igreja, no século XX, em um dos seus momentos mais expressivos dos últimos tempos, que foi o Segundo Concílio do Vaticano, exprobou o aborto provocado como um crime particularmente grave e abominável. Lamentavelmente, a percepção desse horror e dessa abominação vai, progressivamente, se enfraquecendo em muitas consciências.
A aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei é sinal eloqüente de uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem e o mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida. (Evangelho da vida nº 58).
Apesar da disseminação acintosa desse nefasto veneno na consciência de muitas famílias, de muitos profissionais da saúde e de muitos legisladores, é necessário que a enfrentemos com denodo, expondo toda a sacralidade e beleza da vida e esclarecendo a cada momento a horripilância de um ato que se perpetra contra um inocente, contra um ser sem defesa, contra alguém que é fragilíssimo, contra alguém que jamais é um agressor.
Existe, atualmente, uma terminologia ambígua que transmuda o nome de aborto pelo de interrupção da gravidez. Trata-se de um eufemismo ridículo perceptível até aos iletrados. Mas, no ensinamento sábio e corajoso do papa João Paulo II, de veneranda memória nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e direta, independentemente da forma como venha realizada, de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento. (Evangelho da vida nº 58).
Diante deste ato tão execrando, que é o aborto, a disciplina canônica não poderia deixar de puni-lo com a pena de excomunhão. Quão bom seria que todos lessem, meditassem, e aplicassem as excelentes doutrinas que se encontram nessa carta encíclica do pontífice João Paulo II, de célebre renome, que já percorreu o mundo há 11 anos.
Dom Jairo Rui Matos da Silva
Bispo de Bonfim
Adoremos Jesus na Eucaristia
Pereira de Sousa
Todos os cristãos são chamados à santidade. Vimos isso há dias na lição do Concílio do Vaticano II. O Concílio só nos fez refletir sobre a palavra de Jesus: Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito (Mt. 5.48). E São Paulo foi taxativo também em todas as suas cartas, clamando pela santidade ou supondo-a nos seus destinatários. Em todas as cartas, repito. Mas basta citar esta passagem da carta aos Tessalonicenses: Com efeito, não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação (1 Tess. 4,7). Não fomos chamados para a impureza, mas para a santidade.
Devemos lutar ou tender todos os dias para a santidade. Todos os grandes padres chamam a atenção para esta particularidade da luta diária pela santidade. Realmente, a perfeição que Jesus pede, a de sermos perfeitos como nosso Pai celeste é perfeito, é ideal tão divino que, por mais que nos esforcemos, dificilmente o alcançamos. É evidente que a santidade é oferecida por Deus, não pelos nossos esforços, por mais dignos que sejam. Só pela graça, Paulo é o que é. Só pela graça chegamos à santidade.
O Concílio sabia tão bem disso que nos aponta os sacramentos e a vida apostólica para obtermos a santificação. Se pecados cometemos, e cometemos, temos de rezar todos os dias, uma e muitas vezes o Pai Nosso, onde Jesus ensinou: Perdoai-nos as nossas ofensas assim como perdoamos aos que nos têm ofendido. A oração do Pai Nosso é a oração mais bonita e definitiva, pois foi ensinada por Jesus: Pai nosso que estais no céu (Mt.6.9).
Jesus foi tão mestre que colocou o Pai Nosso como oração ao Pai. Não deveríamos ser como os gentios, que usam de muitas repetições julgando que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Jesus sabia tão bem a infinitude do Pai e da sua misericórdia, também infinita, pois sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes (Mt.6.8).
Nós os católicos temos os sacramentos para nos santificarmos e o santíssimo sacramentado da Eucaristia ajudar-nos-á a adorar o Pai e a pedir-lhe tudo de que necessitamos, pois que na missa onde anunciamos a morte e ressurreição de Jesus, como canta a liturgia logos após a consagração das oferendas. Temos ali o corpo e o sangue de Jesus mística e realmente presentes e com ele podemos e devemos adorar o Pai o quanto este Pai bondosíssimo merece.
Vejamos o anjo da Paz ensinou aos pastorinhos de Fátima no longínqüo ano de 1917. Orai comigo: Meu Deus! Eu creio, adoro e amo-Vos. Peço perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam (ver Memórias e Cartas da Irmã Lúcia. Porto. 1973, pág. 321). Esta oração ensinada pelo anjo da Paz pode levar-nos a um ato de superrogação pelos nossos irmãos que não crêem, não adoram e não amam a Deus.
Mas jamais esta ou outra oração pode substituir o Pai Nosso. Sei de um grande católico que reza 50 Pai Nossos todas as manhãs (grande exemplo para mim que me limito aos cinco Pai Nossos do terço e o que na Santa Missa devo rezar). E os leitores, que vão à missa todos os domingos, renovem a sua adoração a Jesus vivo em nossos altares. Santifiquem-se cada dia mais.