Esperanças à vista
Pereira de Sousa
Isaías Raw, diretor do Butantan prepara vacinas contra vírus da gripe aviária. Disse o conhecido professor que espera ter vacinas contra esse vírus até ao meio do ano. E não deixa de produzir as outras vacinas, que sempre produziu, para salvar nosso povo. É uma luz que aparece. Outra fonte de esperança vem em alguns jornais de domingo (5/3/2006).
Nossas esperanças avolumaram-se quando lemos o artigo de Saraiva Felipe vacina contra o rotavírus, escrevendo, textualmente, que a inclusão da vacina contra o rotavírus é parte da política nacional de atenção à saúde da criança (Folha de S. Paulo, 5/3/2006, p. A 3). Já sabíamos por Isaías Raw que se estava trabalhando a todo vapor para a obtenção da vacina contra o rotavírus para o colocar no SUS.
Outras notícias são os alarmantes casos de aparecimento da gripe aviária em alguns países da Europa. Dizem que um gato morreu com a gripe aviária. E outros casos de gripe aviária estão sob suspeita. Se for verdade o que alguns dizem, até a Copa do Mundo estaria em perigo. Daqui até lá, talvez surja meio de sustar a pandemia.
Segundo o britânico John Oxford, diretor do principal laboratório europeu de pesquisas em virologia, prevendo uma pandemia de gripe aviária nos próximos 18 meses. Parecerá pouco, mas o bastante para preocupar os cidadãos comuns e os próprios governos (Folha de S. Paulo, 5/3/2006, p. A 1 e A 21).
Segundo o virologista inglês, os governos estão sendo complacentes com o vírus H5NI da doença, que atualmente se alastra por países europeus. Este mesmo virologista diz que a gripe aviária deve chegar ao Brasil e que o País precisa se preparar para combatê-lo. O governo brasileiro pelo Ministério da Saúde se prepara para combatê-la e seus agentes da vigilância sanitária estão atentos ao problema, tanto que examinaram aves migratórias no mangue seco do norte da Bahia.
No entanto, o mesmo virologista declarou à Folha respondendo à pergunta: Qual foi a descoberta mais interessante que o senhor fez nas suas pesquisas? Foi que, surpreendentemente, o vírus é muito fácil de destruir. Estamos percebendo que é muito fácil de matá-lo com alguns desses desinfetantes.
Estamos descobrindo que, até certa altura, conseguimos bloqueá-lo com máscaras e que as novas drogas são muito poderosas contra o vírus. São todas descobertas que me encorajam bastante. Copiei ipsis litteris e que o cientista inglês comunicou à Folha. Copiei e sinto-me cheio de esperanças que a gripe aviária, mesmo que venha a espalhar-se por todo o Brasil afora, não será um apocalipse dito por alguns.
No entanto, o virologista alerta-nos para nos prepararmos para a tal pandemia. Mas leiam o que Fábio Victor escreveu em Londres. Atual terror da humanidade, a cepa H5NI do vírus da gripe aviária não resiste a um bom desinfetante. Em meio ao catastrofismo generalizado detonado pelo alastramento da doença, descobertas como essas têm feito o virologista John Oxford um esperançoso.
Eu só desejava saber como se podem usar os tais desinfetantes e que drogas se devem tomar.
Capitalismo: apartheid institucional
Pr. Elvis Kleiber
Um dos critérios para avaliar o bom funcionamento de uma sociedade é o de que ela deve dar às pessoas o que elas querem, e isso o capitalismo faz muito bem. O convívio com o mercado livre nos faz acreditar que ser contra o capitalismo é ser contra a liberdade, pois muitos esperam que, por meio dele, surgirá à esperança de que o crescimento econômico em si, proporcionará soluções para os problemas sociais.
Essa liberdade capitalista dá às pessoas o que elas querem, a medida do poder econômico que possuem, e não o que um grupo de pessoas em particular precisa ter. Geralmente os opositores do capitalismo são críticos da desigualdade e da exploração social.
A interferência no desejo de consumo dos indivíduos está ligada à vontade de socializar e de repartir os bens escassos para todos. Quem crê no sistema de mercado livre irá defendê-lo, por uma questão ideológica. Por sua vez, quem o critica, não deveria compactuar com sua estrutura.
O editorial Carnaval e apartheid (A Tarde de 5/3/2006) descreve o aspecto crítico da segregação do Carnaval baiano. Uma expressão no referido texto chamou-me a atenção por abordar o lado mais cruel do capitalismo, que nos prova que, apesar do Carnaval gerar muitos recursos, os mesmos nem são repartidos e muito menos empregados em benefício social da maioria: Camarotes e cordas são apenas a face visível do apartheid.
Enquanto ambulantes pagavam elevadas taxas para trabalhar, entidades carnavalescas, no andar de cima, que faturam milhões, driblavam o pagamento do Imposto Sobre Serviços (ISS). No entanto, confesso que não vi razão para o discurso do compositor diante do ministro ganhar o eco polêmico que a mídia tanto difundiu.
Primeiro porque, embora ambos sejam compositores, eles se encontram em posições completamente distintas. Um, como ministro, representa o poder institucionalizado do capitalismo, que sempre defenderá a liberdade democrática do mercado. Enquanto o outro, na condição de compositor, possui plena liberdade de fazer de sua participação artística um instrumento para denunciar as desigualdades existentes.
Em segundo lugar, porque tal discurso contra as desigualdades só ganhará projeção, força e credibilidade quando seu autor escolher o corajoso e difícil caminho de não se comprometer com os mecanismos da segregação capitalista, que, no caso do Carnaval baiano, tornou-se o principal responsável pela projeção e sucesso na carreira de muitos cantores.
Então concluo que, assim como nem todos os compositores serão ministros, é óbvio que tanto eles continuarão defendendo os camarotes e as cordas como o próximo ministro também continuará discordando do supracitado apartheid. Todos estarão fazendo legitimamente o seu papel.
Jesus logo cedo teve que lidar com as desigualdades e discriminações. Durante toda a sua curta vida, enfrentou perseguições, ameaças, confrontos religiosos. Mas a maior lição que aprendemos com esse carpinteiro é que o seu amor e compromisso com a humanidade não fizeram de sua profissão um fim em si mesmo.
Por isso, na semana que homenageamos as mulheres, também somos convidados à reflexão de quem somos em uma sociedade individualista e extremamente competitiva. Desenvolvemos motivações equilibradas diante do caos? Ou só reproduzimos em menor escala os mesmos desafetos de que também somos vitimados? A atitude altruísta de Jesus nos motiva a sermos melhores do que achamos que podemos ser.
Elvis Kleiber F. de Carvalho - pastor da Igreja Congregacional da Federação (Salvador-BA) - elviskleiber@hotmail.com