Bairro boêmio prepara-se para a tradicional festa de 2 de fevereiro, em homenagem à deusa africana das águas
PATRICK BROCK
Sentado num banco de praça com dois colegas, o pescador Alfredo Moura, 71 anos, o Fefeu, observa o trabalho de preparação da Casa do Peso, para a Festa de Iemanjá, mas não se empolga com os preparativos da maior celebração popular do Rio Vermelho. Já não participo há muito tempo, diz o pescador.
Seu pensamento resume a opinião de muitos moradores no bairro, que se prepara para a celebração de cunho afro-brasileiro. Eles reclamam, com resignação, da bagunça efêmera causada pelos freqüentadores da festa de 2 de fevereiro.
O trabalho de quem monta a infra-estrutura da comemoração é constante desde domingo e vai aumentando de intensidade até o dia da festa. Ontem, os barraqueiros mais tradicionais dividiam espaço com os operários que montavam os tapumes e camarotes perto do Largo de Santana e do Largo da Mariquita.
Já é possível começar a curtir a festa hoje de manhã, quando é entregue um presente para Oxum (divindade dedicada à água doce) no Dique do Tororó. Nas primeiras horas de amanhã, começam as entregas de oferendas no mar. No fim da tarde, a festa chega a seu ápice.
ESTRUTURA Segundo a Prefeitura, foram distribuídas 640 licenças para vendedores ambulantes, 55 para barracas com mesas e cadeiras e seis para barracas do tipo quermesse, com jogos. Os freqüentadores contarão com um posto médico e duas ambulâncias para emergências, no Largo da Mariquita. Também foram instalados 122 banheiros químicos (41 masculinos e 81 femininos).
Olenka Barros, 75 anos, mora na área desde 1947 e não se preocupa muito com a festa, da qual diz não participar. Ela não gosta, em especial, do clima de fim de festa, com reuniões de pessoas embriagadas, nas barracas perto de sua casa, na frente do Largo da Mariquita. Gosto da festa até certo ponto. Fico insatisfeita com o povo despreparado que fica aí na rua.
Sandra Xavier mora no bairro e trabalha numa lanchonete na frente da praia. Ela não gosta da festa de Iemanjá. Diz que o motivo não tem nada a ver com sua freqüência à igreja evangélica. Simplesmente, não acredita nisso. Ela vai embora às 17 horas e só volta no outro dia, quando a ressaca é regra entre os festeiros mais exaltados.
PREÇOS Desde que tem festa de largo nós estamos aqui trabalhando, conta Jorge Santos, 33 anos. Seu pai comanda a família que trabalha na Barraca do Cenoura, na frente do Sesi. Ele diz que vai vender a lata de cerveja entre R$ 1,50 e R$ 2, dependendo da marca.
O preço anunciado é praticamente o mesmo da concorrência, especialmente no Largo da Mariquita, onde as barracas tomam conta do espaço público com seus tapumes e tubos de metal. Alguns barraqueiros oferecem promoções, como três latas por R$ 4.
Na Barraca Ubiratã, Gilson Batista dos Santos ajuda a montar a estrutura, mas não sabe o motivo do monitor e dos teclados espremidos entre engradados de cerveja. Ele acha que é para decorar o balcão, mas não tem certeza. Enquanto isso, posa sorridente com o teclado na mão.
FESTAS PRIVÊS Moradores e estabelecimentos comerciais da área aproveitam também para lucrar um pouco com a festa, oferecendo seu espaço privilegiado. Entram na jogada hotéis, bares, restaurantes e residências. O camarote do Rodrigo, como é conhecido, fica em cima do Nhô Caldos e de frente para a Casa do Peso.
Ele e a mulher Márcia promovem a festa há 11 anos, sempre com feijoada e bandas. O espaço lota sempre, garantem.
No Mar Hotel Rio Vermelho, o preço da diária varia de R$ 80 a R$ 120, mas um funcionário revelou que a direção evita alugar os quartos da frente para soteropolitanos. A animação dos nativos, das últimas vezes, fez a festa acabar em quebradeira no quarto.
A maioria dos estabelecimentos fixos no bairro oferece feijoada, mas só os hotéis incluem bebidas alcoólicas no pacote. A maioria oferece a comida e deixa para os convidados escolherem a bebida de sua preferência, por fora.
Cuidados com a segurança
Leve só o necessário à festa, como uma cópia da identidade e o dinheiro para os gastos do dia. A multidão facilita a ação de batedores de carteira.
Evite brigas: se a situação esquentar demais, pegue uma das ruas mais tranqüilas nas adjacências da festa.
Câmeras fotográficas e filmadoras, só se você estiver num lugar que considere seguro, como uma festa particular, um espaço com policiais à vista ou uma área mais tranqüila, longe das aglomerações.
Se você é de fora da cidade, cuidado com as comidas que consumir na festa. Lembre-se de que estamos no auge do verão e a temperatura chega fácil aos 35 graus. Prefira comidas leves.