No que deveria ser uma sala de aula, resta apenas o aviso de interditado preso à porta. No teto, fiação exposta e manchas pretas denunciam antigos curtos-circuitos. A solução para a Escola Professor Raymundo de Almeida Gouveia, no bairro de Castelo Branco, foi aderir ao esquema de rodízio. Por semana, só assistem aulas ou os alunos do ensino médio ou os do fundamental.
O esquema também teve de ser implantado na Escola Estadual Angelita Moreno, no Imbuí. Desde que as rachaduras tomaram conta das instalações de um pavilhão de aulas, a direção isolou as salas e montou um revezamento. A cada dia, uma série é liberada de ir à escola. Os alunos levam atividades para casa.
Professores e especialistas em educação garantem que os rodízios são prejudiciais à educação e incentivam a evasão. Para os pais, o problema é o reflexo da falta de estrutura do ensino público, como reclamou a vendedora Janice Neves, 42 anos.
Seus dois filhos estão matriculados na Raymundo de Almeida Gouveia. Desde o início do ano letivo, em fevereiro, eles só tiveram duas semanas de aula. Tenho medo que eles sejam reprovados, diz.
DEGRADADOS Presa ao muro do lado de fora, uma faixa alerta ao problema: Colégio Raymundo Gouveia está caindo. Secretaria de Educação se omite. Por dentro, um dos prédios foi interditado no mês passado, com as turmas remanejadas para outro pavilhão.
Os únicos não-inclusos no revezamento foram os matriculados no 3º ano. Não temos boa estrutura de ensino. Professores não vêm dar aulas e sofremos com as condições precárias das instalações, lamentou Alisson Moura, aluno prestes a fazer vestibular.
Nas salas de aula, paredes rachadas. Nos banheiros, sujeira e falta de itens básicos, como um chuveiro ou a torneira da pia. Na Escola Angelita Moreno, as rachaduras começaram a aparecer em janeiro, quando começaram as obras de construção de um prédio no terreno atrás da escola. Primeiro vieram pequenas fissuras na parede, até que as rachaduras aumentaram.
Com medo de possíveis acidentes, a diretora preferiu não arriscar e fechou as portas. As turmas ficaram limitadas ao outro pavilhão de aulas. Os alunos só voltam quando tivermos certeza de segurança, afirma a vice-diretora Dennilza Santana. Entre os alunos, o receio prevalece diante da situação.
Gosto da minha escola, tenho medo quando as paredes balançam, comenta Laís Bezerra, 14 anos, aluna do ensino fundamental. Ontem, técnicos da Superintendência de Construções Administrativas da Bahia (Sucab) estiveram no local e descartaram o risco de desabamento. No total, 1.600 alunos estão matriculados na escola.
MEDIDAS A diretora do Raymundo de Almeida Gouveia não foi encontrada para comentar o assunto. Funcionários informaram que ela estaria em processo de troca de cargo e não seria encontrada pela manhã. Estamos à deriva, disse uma professora sem se identificar.
A diretora da Escola Angelita Moreno, Maria Alice Coelho, comentou que, a partir da próxima segunda-feira, os alunos do primário não mais farão parte do rodízio, graças à transferência deles para salas do Colégio Rômulo Almeida, que fica na mesma rua.
Porém, os estudantes do fundamental (da 5ª à 8ª série), terão que revezar os dias de aula, até que a secretaria alugue um espaço para as aulas. Faremos reposição para evitar que o conteúdo seja perdido, mas antes iremos avaliar quais as turmas que tiveram maior prejuízo, afirmou.