Sylvia Verônica
Acabou o jogo de empurra-empurra entre prefeitura e Empresa de Turismo S/A Emtursa sobre o destino dos 25 artistas independentes no Carnaval. Há menos de 15 dias da festa, Misael Tavares, coordenador do Carnaval, anunciou a posição final. Argumentando que está muito difícil arrumar a carta de crédito para financiamento, declarou que os artistas vão até ter trio e espaço na grade de desfiles; mas, cachê, não.
A dificuldade de se obter patrocínio se explica, talvez, porque os independentes não têm um embasamento cultural como se tem com os blocos afro. A Emtursa não tem verba para pagar o cachê de Sarajane, e se der para ela terá que dar também para todos os outros artistas, analisa Misael.
Sarajane, diretora da Associação dos Artistas Notórios da Bahia (Aban), responde que, sem cachê, é impossível trabalhar. Vamos passar o Carnaval em casa e o povão na rua, sem atrações. Cadê o Carnaval de participação popular que a prefeitura tanto promete?, questiona. Sarajane conta que fez diversas tentativas de falar com o prefeito João Henrique sobre a execução do projeto Afro Jazz Carnaval, elaborado pela Aban e aprovado pela Lei Rouanet.
O projeto foi aprovado em julho e entregue à prefeitura em agosto para que o governo municipal fosse atrás de um financiamento de R$1,8 milhão. A prefeitura tem os contatos com os grandes patrocinadores. Não seria difícil conseguir se houvesse interesse. O prefeito não atendeu a gente e, no entanto, atende estudantes, grafiteiros e ambulantes, alfineta Sarajane.
A proposta, que prevê a participação dos artistas e trios independentes no circuito nobre e intercalados com as atrações dos blocos, já foi descartada pelo presidente do Conselho do Carnaval, Ricardo Lélis, por conta do congestionamento dos circuitos, com 210 entidades já cadastradas.
O cantor e compositor Gerônimo, diretor da Aban, declarou-se indignado com a recusa da prefeitura e pretende pedir ajuda ao governo do Estado. Como sempre, só conseguimos nos 45 minutos do segundo tempo. A Bahiatursa sempre nos apoiou e vou tentar novamente. O Carnaval do povo está seriamente comprometido, comentou.
Consternado com essa situação, Armandinho, um dos precursores do trio elétrico e do Carnaval independente, desabafou: Desanima subir em cima de trio assim.Principalmente quando tiram a gente do circuito e botam no lugar do qualquer coisa. Não tem história, é um regime muito cruel, agressivo. Tem que se olhar um pouco para os independentes, não se pode dar vazão só ao lado comercial. Porque, se entregar o Carnaval, como foi entregue nos últimos anos, só a um grupo, aí a cultura está perdida, a manifestação, as características... Tudo estará perdido.
Colaboraram Isabel Aquery e Ceci Alves
SÓ REGGAE
Tributo a Bob Marley no circuito
Uns sem nada, outros patrocinados pela prefeitura e Bahiatursa: o projeto Tributo a Bob Marley no Carnaval 2006 é um trio elétrico sem cordas, cheio de atrações até uma internacional e que desfila de sexta a terça de Carnaval nos circuitos Barra-Ondina e Avenida, tocando um ritmo só: reggae. A idéia é rememorar os 25 anos da morte de Bob Marley, mas a importância da iniciativa é um marco no Carnaval da Bahia.
O reggae, principalmente o afro-reggae, não tinha espaço no Carnaval, afirma Zitomir Souza, um dos produtores do trio independente. Estaremos sábado e segunda na Barra; sexta, domingo e terça no centro, participando, inclusive, do encontro de trios na Castro Alves.
Zitomir ainda enfatiza: Todos os artistas ligados ao reggae terão espaço. E o melhor é que será para o folião-pipoca, a maioria negra que fica de fora dos blocos com cordas. E tudo isso no contexto de homenagens a Bob Marley.
Serão 15 atrações:
Edson Gomes; Rick Husband (Guiana Inglesa);
Luiz Melodia; Reação (Aracaju); Ed Vox; Sine Calmon; Dionorina; Scambo; Geraldo Cristal; Dissidência; Arthur Cardoso; Nengo Vieira; Tintim Gomes; Jorge de Angélica e Gilsan; e Adão Negro.
As atividades do tributo a Bob Marley seguem até o dia 11 de maio em Salvador, com a realização de seminários e palestras cujo conteúdo será publicado num documentário em DVD, dando conta da importância do reggae na constituição da cultura baiana.
Pé-de-ouvido/Netinho
Agora, quero voltar para a axé
Netinho está com a corda toda e, ao que parece, encontrou seu caminho. Depois de dois anos afastado da música, lançou, ano passado, o CD Outra versão, no qual abandonou o axé e abraçou o pop e a MBP. O CD vendeu cerca de 20 mil cópias nem de longe a marca de mais de 5 milhões de discos que o artista vendeu em 18 anos de carreira no axé.
Agora, o cantor concluiu que, melhor, mesmo, é o caminho do meio, que aponta para a fusão das duas vertentes. Por isso, grava o primeiro DVD da carreira, com um título sintomático: Netinho por inteiro, sacramentando essa nova percepção de sua carreira. A gravação acontece amanhã e sábado, na Concha Acústica, em Salvador, com participação especial de Ivete Sangalo na sexta. Em intervalo de sua musculação, Netinho falou a Sotaque Baiano sobre seus planos de retomar a carreira como cantor de axé e o retorno para os carnavais.
A TARDE Quem é o Netinho que o público vai conhecer a partir de agora?
Estive afastado de tudo por necessidades pessoais. Sempre tive vontade de gravar minhas composições, que não são axé music. Assim surgiu o CD Outra versão, e realizei um sonho. Mas também queria poder regravar meus sucessos do axé. Aí surgiu a idéia do DVD. Agora, quero voltar para a axé, participar do Carnaval e continuar gravando CDs de música pop, mesmo que a cada dois anos. Estou feliz, satisfeito com este novo rumo. Já vivi tanta coisa que fico tentando inovar. Antes, cheguei ao ponto de não saber quem eu era. Precisava passar por tudo isso.
Então o Carnaval 2006 marcará seu retorno. Qual será a programação?
Não vou puxar trio este ano. Vou fazer participações em trios de amigos como Ivete Sangalo, Saulo, da Banda Eva, Ara Ketu, Rapazolla. No próximo ano, terei um trio e vamos relançar a banda Beijo com um cantor novo que estamos procurando.
O que você preparou para os shows de amanhã e sábado?
Será um show em que vou cantar e dançar. Vou mostrar a música baiana, de raiz. O cenário é uma homenagem a Salvador. Ivete é minha convidada especial na sexta. Vamos cantar, voz e violão, a música Onde Você se Esconde, de minha autoria. No sábado, recebo o Ilê Aiyê. O DVD terá todos os grandes marcos da minha história. Vou regravar Milla, Total, Menina, Beijo na Boca, Sandra, Capricho dos Deuses, Abra a Sua Cabeça e Estrela Primeira. Além disso, trago cinco músicas novas. Uma delas é Tudo Bem, de Anderson Cunha, altamente dançante, pop, e com letra que fala sobre o alto-astral, alegria e tesão. O arranjo é baseado em metais e muita percussão e é uma das que, acredito, vai se tornar um hit nas rádios. Outra é Dilema, do compositor Gigi, que também é autor de Jeito Diferente e Lugar Nenhum. Dilema é um samba-reggae pop baiano com letra que fala de amor e paixão. Além disso, trago Tum Tum Tum Dois Corações, Balanço Legal e Pavê, composições de Augusto Conceição, canções bem baianas e populares, com arranjos de muito balanço e apelo à dança. (Sylvia Verônica)
Habeas Copos antecipa Carnaval na Barra
Kleyzer Seixas
A tradicional banda Habeas Copos, um dos mais importantes conjuntos de sopro do País, comemorou 28 anos com uma festa na tarde de ontem, no Bar Habeas Copos, que irá completar 30 anos no dia 31 de março. O grupo Bahia Samba e Paulinho Boca de Cantor participaram do evento. Na ocasião, também houve o lançamento da nova camisa que o grupo usará no Carnaval, feita pelo artista Marco Alemar, e uma entrevista coletiva com a imprensa.
Boca de Cantor será homenageado pelos diretores do grupo neste Carnaval devido à sua importância para a música baiana. Escolhemos Paulinho pelo trabalho que ele fez e que ainda faz para o Estado.
Foi eleito por unanimidade, destacou o fundador da banda, Sérgio Bezerra. Em 2005, os prestigiados foram os cantores e compositores Gerônimo e Saul Barbosa.
Durante a festa, Sérgio Bezerra adiantou que a Habeas Copos antecipará folia momesca na Barra, na Rua Marquês de Leão, com o desfile do bloco no dia 17, a partir das 23 horas. Cem instrumentistas de sopro e percussão irão puxar o bloco.
Em outras edições, os homenageados foram Jairo Simões, Osmar Macedo, Armando Sá, Batatinha, Nelson Rufino, Riachão, Edil Pacheco, Bell Marques, Carlinhos Brown, Margareth Menezes e Vovô do Ilê.
A estimativa deste ano é que cerca de três mil pessoas acompanhem o cortejo do bloco, que irá percorrer várias ruas do bairro e terá duração de quase quatro horas. É um evento muito bem conceituado. Em todos os anos, os moradores da Barra participam, informou. E a festa não pára por aí.
No dia 23, o Habeas Copos volta às ruas, com o maestro Veléu Santos e o mestre da bateria Chico do Garcia, no Pelourinho, a partir das 23 horas.
Por aí...
Os convidados de Gil
E o Expresso 2222, do ministrartista Gilberto Gil, vai ter a seguinte grade de convidados: sexta, capitaneado por Gil e Daniela Mercury, chama Luiz Caldas e Preta Gil; sábado, só Daniela comanda a festa; domingo, é a vez de Toni Garrido e Samuel Rosa, do Skank; segunda, volta Daniela; e terça, finaliza com Elba Ramalho e Márcia Short.
Vou no Eva
Saulo Fernandes, vocalista do Eva, não vai reinar absoluto em cima do trio elétrico que leva o nome da banda. O cantor mineiro Wilson Sideral e o baiano Netinho vão se juntar a Saulo para agitar os foliões na avenida.
Sem La Braga
Falar em Daniela, ela manda avisar, por sua assessoria, que Sonia Braga apesar de ter ficado encantada com o convite de se fantasiar de Tieta no trio sem cordas da cantora não vai poder comparecer ao Carnaval de Salvador por conta de compromissos profissionais em Nova Iorque. Recado dado.
A coluna Sotaque Baiano sai diariamente neste espaço, até o Carnaval. Correspondência para R. Professor MiltonCayres de Brito, 204 - Caminho das Árvores, Cep 41822-900 ou pelo fax 3340-8712