Há duas semanas da primavera, as praias de Salvador já começam a reunir um número maior de banhistas, para alegria dos ambulantes que têm seus negócios fincados nas areias e dependentes das altas temperaturas. As belezas naturais das praias baianas chamam a atenção dos freqüentadores, mas, com a presença cada vez mais freqüente do sol, alguns problemas também se tornam mais evidentes.
Barraqueiros, baianas de acarajé e vendedores de coco estabelecidos há décadas nas praias de dois dos maiores cartões-postais da cidade, Farol e Porto da Barra, têm queixas. “Fomos esquecidos pelo poder público”, reclama Luiz Antônio Vieira, o popular Sassá, 30 anos de praia. Figura tarimbada do Farol, o autônomo que aluga cadeiras aos banhistas afirma que o pouco movimento – que deverá aumentar em outubro – não é problema. “Até lá a gente vai sobrevivendo”, diz. O que considera “grave” não só para quem trabalha como para os que freqüentam ou visitam a Praia do Farol, é a falta de policiamento e de fiscalização: “Não é possível que uma praia internacionalmente conhecida não possa oferecer tranqüilidade ao banhista”, indigna-se.
Segundo Sassá, têm sido freqüentes os arrastões nos finais de tarde de sábado e domingo. “Nem os barraqueiros têm sossego. A gente está saindo da praia em comboio”, denuncia. A fiscalização, competência do município, através da Secretaria de Serviços Públicos – Sesp, em sua opinião, resolveria um outro problema que vem se tornando comum: a briga entre barraqueiros que se aproveitam da ausência do fiscal para barganhar o ponto do outro.
CACHORROS – Tudo indica que o banhista que for ao Farol da Barra, principalmente em dias de semana, e no início da manhã, vai precisar disputar espaço na areia com os cães. “É vergonhoso”, diz a comerciante Adélia Conceição Soares, moradora da Rua Fernando Schimidt. “Eu vejo muita gente levando o cachorro para tomar banho de mar. De manhã é comum aqui”, confirma.
“Já tem os pombos e os ratos que vêm quando chove e junta lixo na praia, e agora cachorro. Eu temo pelas crianças, porque são elas que brincam na areia”, lamenta Sassá. Dizendo que a fiscalização pode resolver o problema, ele até sugere que seja estabelecida a “praia dos cachorros”: “Podia ser ali, entre o Cristo e o Espanhol”, propõe.
BANHEIROS – Já no Porto, onde a briga por espaço na areia é ainda mais acirrada, o alvo das reclamações são os carrinhos de churrasco. Barraqueiros como Wellingto Barbosa, o Malhado, há 29 anos com uma barraca de bebidas na praia mais famosa da Bahia, afirma que a falta de fiscalização permite que desçam para a areia ambulantes que trabalham com churrasco. Ele afirma que é um perigo para os banhistas e não só por usarem gás de cozinha. “Já vi muita gente se queimar com as faíscas”, conta.
O engenheiro Gilvando Reis, o “Pisca”, morador da Graça e freqüentador do Porto, tem a mesma opinião e mais uma reclamação: “Como é que uma praia dessas não tem banheiros públicos?”, questiona. Para ele o item seria o mínimo de estrutura que uma praia tão importante como o Porto deveria ter para oferecer aos banhistas e autônomos que trabalham no local. “São mais de 200 anos de praia e não tem um chuveirão”, diz.
No Porto, o conforto para quem vai nadar em suas águas tranqüilas ou relaxar sob o sol é patrocinado apenas por ambulantes. Para conquistar a clientela eles mantêm serviços como massagem e os banhos refrescantes de água do mar, apreciados por turistas e também pelos nativos.