Quem pensa que São João só sabe dançar forró é porque ainda não foi num samba junino. Mas, neste mês de junho, não vai faltar oportunidade de conhecer essa manifestação popular nascida nas periferias de Salvador.
Além dos encontros que acontecem tradicionalmente em bairros como Engenho Velho da Federação, Liberdade e Engenho Velho de Brotas, o Arraiá da Comunidade Pelourinho vai promover o 1º Festival de Samba Junino, nos dias 23 e 24 de junho a partir das 19h, com premiação de R$ 1.500, R$ 1.000 e R$ 750 para os grupos que conquistarem as três melhores colocações.
As inscrições para outras comunidades estão abertas e podem ser feitas na sede do Pelourinho Cultural (Largo do Pelourinho, nº 12) até sexta-feira. “Queremos que esse festival vire um grande encontro de bairros”, explica o artista plástico e membro da comissão de moradores que organiza o evento.
Além de se apresentarem no palco armado em frente à Fundação Casa de Jorge Amado, os grupos inscritos também sairão numa espécie de arrastão pelas ruas do Pelô, para botar quem estiver passando para sambar.
Depois dos desfiles, a festa não termina. Quem não estiver satisfeito e tiver energia para gastar pode varar a madrugada festejando São João no Arraiá do Beco do Mota (Rua Leovigildo de Carvalho), ponto de encontro tradicional dos moradores.
A idéia do festival surgiu da necessidade de resgatar o samba junino, que teve seu auge na década de 80 do século passado, mas entrou em decadência a partir do crescimento e profissionalização da cena da axé music e do pagode.
Outra intenção, segundo professor Jorge Conceição, que também integra a comissão de moradores, é fortalecer os comerciantes locais, ambulantes, barraqueiros e donos de bar, além de valorizar a cultura popular do bairro, sufocada pela padronização.
“Queremos que a própria cidade de Salvador visite e consuma o Pelourinho, sua cultura e lazer.
É preciso quebrar o estereótipo de que é só para turista e que tudo é caro”, destaca Mônica Kalile, representante da ONG Grêmio Mulhera da.
Pela primeira vez em dez anos, os moradores do bairro estão participando da organização da festa.
“O governo anterior não expulsou só a comunidade daqui, mas seus valores também. É isso que estamos tentando resgatar com a criação do Festival de Samba Junino”, diz Albino Apolinário, coordenador da Praça do Reggae e morador do Pelourinho.
CHOQUE DE DATAS – A Federação de Samba Duro Junino do Estado da Bahia (FSDJ), fundada em agosto de 2000, também promove festas nos bairros de Engenho Velho de Brotas, Federação e Liberdade, nos mesmos dias marcados para o festival no Pelourinho, o que pode resultar na inscrição de poucos grupos de samba.
Para resolver esse inconveniente, Albino está indo de comunidade em comunidade para convidar pessoalmente os grupos para participarem do Festival de Samba Junino do Pelourinho. “As pessoas ainda não estão sabendo direito o que vai acontecer, porque a informação de que o festival iria mesmo ocorrer só saiu na última hora.
Acreditamos que no próximo ano possamos ter um número maior de inscr itos”.
“Essa é uma iniciativa boa”, diz Mário Bafafé, da FSDJ e da Associação Cultural Grupo União, que promove há 29 anos festas de samba junino no Engenho Velho de Brotas. Ele conta que se reuniu com a comissão de moradores do Pelourinho para que grupos do bairro participassem das festas promovidas pela FSDJ, mas que eles desistiram para fazer o próprio evento.
Este ano, o São João no Pelourinho sofreu a ameaça de não acontecer for falta de recursos financeiros, mas, na semana passada, o governo, após reunião com representantes do bairro, liberou R$ 160 mil para a realização da festa. A verba saiu do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac).
FESTA INFANTIL – As crianças também terão seu lugar na festa.
Entre as outras atrações do Arraiá da Comunidade estão a quadrilha junina com crianças que moram no bairro e o Forrozinho do Pelô, que acontecem a partir da 16h no Largo do Pelourinho, no dia 23, e no Terreiro de Jesus, no dia 24.
Aproximadamente 30 meninos e meninas também vão participar de uma encenação de casamento na roça, corridas de saco e de limão na colher e quebra-pote. Depois as crianças participarão do desfile da Boiada Multicor, com dois bumbas-meu-boi grandes e dez pequenos, feitos com material reciclado pelas próprias crianças.