Áreas localizadas em pontos altos da capital foram as mais prejudicadas
EDER LUIS SANTANA
A jovem Aline Veloso, 12 anos, se preparava para lavar os pratos sujos do almoço, ontem, quando foi surpreendida com as torneiras secas. No quintal da casa, em Sussuarana, a roupa teve de ser lavada com água armazenada no dia anterior. A Rua Samuel, onde ela mora, foi uma das oito localidades em Salvador que ficaram sem água devido às obras de reparação nas cinco válvulas da principal adutora que abastece a capital.
O sistema foi danificado na quinta-feira, em um trecho próximo à cidade de Santo Amaro, no Recôncavo. O fornecimento de água teve de ser interrompido das 7h às 14 horas, enquanto os serviços de reparo eram realizados. No total, 36 pontos tiveram o volume de água reduzido.
Ruas localizadas em pontos altos da cidade foram mais prejudicadas, devido à necessidade de alta pressão para que a transmissão aconteça. De acordo com o superintendente da Embasa, Rogério Cedraz, na maioria das residências a interrupção não foi percebida graças à utilização do volume acumulado nas caixas de água.
Entretanto, nas casas que dependem apenas do fornecimento da Embasa, o jeito foi encher o balde de água e economizar até que o serviço fosse normalizado. Foi o caso de Roque Santos, 35 anos, operário da construção civil. No dia em que as válvulas foram danificadas (quinta-feira), já houve escassez de água até as 16 horas.
Ontem, quando o ponteiro marcava 12 horas, nem uma gota saía das torneiras. Sem saber o motivo do problema, improvisou durante o dia para realizar as atividades domésticas. Tive de lavar pratos com água que usaria para beber. Só restou um litro na geladeira, disse.
OBRAS Vinte técnicos da Embasa foram convocados para consertar as cinco válvulas danificadas, localizadas no bairro Sacramento, no extremo da cidade de Santo Amaro. Em quatro delas houve vazamentos de pequeno porte, com os trabalhos sendo executados de forma rápida. Porém, o causador principal dos transtornos foi a destruição de uma ventosa cuja função é extrair o ar da tubulação.
A peça danificada faz parte de uma estrutura de 600 quilos, feita de ferro fundido. O material é protegido por placas de concreto que foram destruídas pelos autores do crime. Técnicos da Embasa estimam que, pelo nível do estrago, pás e marretas tenham sido utilizadas.
Uma queixa foi prestada na delegacia de Santo Amaro para que o delito seja investigado. O superintendente da Embasa, Rogério Cedraz, diz que apesar de a polícia ter sido acionada, dificilmente os culpados serão encontrados.
Algumas comunidades próximas não possuem fornecimento regular. A água que vaza acaba sendo utilizada por eles, disse. Como forma de evitar novos problemas, a Embasa pretende aumentar o tamanho da estrutura de concreto que protege os equipamentos. Ao longo dos 40 quilômetros da adutora, são comuns vazamentos provocados pela ação de pessoas interessadas na água desviada dos tubos.
Comunidades pobres sofrem com falta de água
A adutora da Embasa possui 40 quilômetros de extensão e passa por diversas comunidades próximas de Santo Amaro. Pessoas pobres, sem abastecimento de água percorrem longas distâncias para conseguir realizar atos simples como lavar louça e roupas.
Um contraste pode ser visto em diversos pontos da cidade, uma vez que, próximo aos tubos com dois metros de diâmetro, mulheres são obrigadas a lavar roupas no Rio Subaé devido à ausência de água em casa.
É o caso de Jacinalva Jesus, 18 anos, moradora da comunidade de Santo Amaro de Trás, próximo à saída da cidade. Apesar de pagar R$ 12 mensais pelo serviço, ela comenta que chegou a passar até 28 dias sem abastecimento. A solução é passar todos os dias no rio para lavar as roupas da família. Meu padrasto é trabalhador rural e acabo vindo aqui ajudar, comenta.
Ao lado dela, outras três mulheres trabalhavam. Fezes na margem demonstravam que o local serve, inclusive, de banheiro. Cães sendo banhados e cloro utilizado para alvejar a roupa mostram que a poluição é uma constante. Em outra caixa de concreto da Embasa onde ainda existia acúmulo de água, o líquido acabou sendo utilizado pela comunidade.
O trabalhador rural Erinaldo Santos, 42 anos, morador do povoado de Bela Vista, ajudou a carregar dois tonéis com água que seria utilizada por funcionários que faziam a manutenção da ferrovia que passa perto do local. Não temos água por aqui. Acabo indo pegar no rio aqui perto, disse.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Embasa afirmou que nenhuma reclamação por falta de abastecimento foi registrada nos últimos dias. Diante das denúncias feitas pela população à equipe de A TARDE, técnicos serão enviados para verificar as reais condições do serviço prestado.
Fornecimento
ONDE FALTOU ÁGUA
Sussuarana, Pero Vaz, Liberdade, Monte Serrat, Jardim Cruzeiro, Trobogy, Tancredo Neves e Cabula
ABASTECIMENTO REDUZIDO
São Caetano, Arraial do Retiro, Sussuarana, Tancredo Neves, Liberdade, Monte Serrat, São Gonçalo, Cidade Baixa, Alto do Rio Vermelho, Alto do Itaigara, Santa Cruz, parte do Caminho das Árvores, Parque São Vicente, Hospital Sarah, Parque Nossa Senhora da Luz, parte alta da Pituba, Nova Brasília, parte alta da Alamedas da Praia, Encontro das Águas, Miragem, Pontos Altos de Itinga, Vilas do Atlântico, Portão, Federação, Engenho Velho da Federação, Graça, Jardim Apipema, Brotas, Engenho Velho de Brotas, Pau Miúdo, Cidade Nova, Centro, Histórico, Barbalho, Nazaré, Caixa DÁgua.