Cerca de um mês depois da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) adquirir 80 desfibriladores externos automáticos (DEA), usuários dos locais que dispõem do equipamento desconhecem sua existência. Além disso, quem passou pelo curso para aprender a operar o aparelho se sente inseguro para utilizá-lo.
A Estação da Lapa, que recebe um fluxo diário de cerca de 450 mil pessoas,conta com dois equipamentos: um fica na administração e outro no posto policial. Três pessoas que trabalham no local e preferiram não se identificar, ignoravam a existência do aparelho. “Nunca ouvi comentário nenhum. Onde fica instalado?”, questionou uma das funcionárias de uma loja do primeiro piso da estação.
O coordenador da SAMU, Ivan Paiva, disse que houve divulgação no local e que após a instalação em todos os postos será realizada uma campanha voltada para a população. Por enquanto, existem aparelhos na Estação da Lapa e em ambulâncias do órgão municipal. “Esta semana pretendemos colocar na Salvamar e nos helicópteros do Grupo Aéreo da Polícia Militar. Em novembro, serão instalados nas Estações Iguatemi, Mussurunga e Calçada”, disse.
Paiva disse ter sido informado que o desfibrilador da Estação Pirajá estava instalado, mas, de acordo com Carlos Mamede, administrador do local, isso ainda não aconteceu: “Faltou ministrar o curso com o pessoal da fiscalização, por isso não foi colocado”. É importante que este pessoal seja treinado porque o equipamento ficará guardado na sala deles. A data do curso ainda não foi definida. Mamede disse que, até o momento, somente os funcionários do administrativo, policiais e alguns ambulantes assistiram à aula.
Operação – Depois do curso, é fácil operar o aparelho. “É de fácil manuseio, porque é todo automático. Tudo é indicado passo-a-passo, mas é necessário saber o básico”, diz o cardiologista.
Foi o que comentou a estudante de enfermagem, Lêda Carvalho, que trabalha em um posto na Estação da Lapa, tirando pressão dos usuários. “Achei fácil para o leigo, já que diz o que você deve fazer”, conta.
O cardiologista explica que, apesar de ser necessário treinamento para usar o desfibrilador, não há risco de complicações para o paciente em conseqüência de mau uso do equipamento. “O que pode ocorrer é a pessoa não ter o benefício do aparelho, que pode salvar uma vida”, diz.
O médico também esclarece que não há risco do operador seguir as instruções do DEA e, em caso de complicação, ser acusado de erro. “O aparelho grava toda a operação, o que foi dito pelas pessoas ao redor, os comandos de voz do equipamento e os dados de arritmia do paciente”, explicou Dr. Gustavo, lembrando que há uma lei nos Estados Unidos, conhecida como Lei do Bom Samaritano, que não permite a prisão de pessoas que tentaram prestar socorro a alguém que acabou morrendo. “Já existe precedente desta lei no Brasil”.
O DEA não deve ser usado em crianças menores de sete anos pois, para elas, existe um aparelho específico. Em pacientes com marca-passo, o equipamento deve ser usado em posição diferenciada, o que está previsto no treinamento. Além dos 80 desfibriladores adquiridos em setembro, a SMS comprou mais 20 aparelhos, que ainda não foram entregues.