Governo libera R$ 690 mil para recompor trecho de 27 km da BR-122 que se encontra em perfeitas condições de tráfego
JUSCELINO SOUZA
GUANAMBI (DA SUCURSAL SUDOESTE) O trecho de 27 km da BR-122 que separa o entroncamento da BR-030, em Guanambi, até o entroncamento da BA-122, para Candiba, está em perfeito estado de conservação, com exceção da presença de minúsculos buracos no asfalto. Mesmo assim, o governo federal disponibilizou R$ 690 mil para a recuperação de todo o trecho.
É o que consta em um dos oito contratos em andamento para recuperação de trechos federais na Bahia, num total de investimentos previstos de R$ 18,770 milhões. Os recursos são do Plano Emergencial de Trafegabilidade e segurança nas estradas, batizado de operação tapa-buracos.
Dia 4 deste mês, a equipe de A TARDE percorreu todo o trecho de 27 quilômetros, do Km-704,3 ao Km-731,3. Em vez de avarias na pista, encontrou moradores e motoristas surpresos com a notícia. Informada de que os recursos eram destinados à recuperação de trechos comprometidos pela erosão e afetados pelas fortes chuvas na região, a equipe retornou ontem novamente ao mesmo trecho.
Encontrou a estrada da mesma forma: sem problemas aparentes e, mais uma vez, moradores que se espantaram com as informações de que a estrada estaria danificada pelas chuvas. Chuva por aqui? Olha, choveu há uns quatro meses, mas foi pouco, respondeu Marcos Cardoso de Jesus, 28, numa das margens da rodovia.
A única novidade encontrada na segunda viagem foi uma equipe da empreiteira CBV Construtora Ltda, vencedora de uma licitação em 2001. Os operários, destacados para executar uma operação tapa-buracos em outro trecho da BR-122, estavam parados, ao lado de um caminhão quebrado pertencente à empresa.
Ocorreu um problema mecânico no caminhão, mas nosso trabalho é fora deste trecho aqui, um pouco depois do anel viário, justificou o encarregado da turma de operários da empreiteira, Ediseu Fernandes. Vocês são do Tribunal de Contas?, perguntou, sendo informado que se tratava de uma equipe de reportagem.
A obra a que Fernandes se referiu está informada numa placa indicativa, instalada pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) a um quilômetro do segundo entroncamento do trecho escolhido. A placa é mais uma prova de que a rodovia não precisava de novos recursos pelo fato de a recente intenção do Ministério dos Transportes em manter a estrada conservada do Km-702,1 até o Km-799,7.
CRONOGRAMA Os dizeres, em letras garrafais, informam que foram liberados recursos da União na ordem de R$ 2.766.760,65 para recuperação destes 97,6 km da BR-122, com início previsto para julho de 2001. A execução da obra, que também deveria abranger os 27 km (do km-704,3 ao km-731,3) estava prevista para 36 meses, ou seja; em junho de 2004, mas continua em aberto e só foi retomada semana passada noutro trecho.
O motorista profissional Joaquim Oliveira Dias, que ontem percorreu todo o trecho assinalado a convite da equipe de A TARDE, não teve dúvidas ao afirmar que o asfalto está muito bom, sem buracos, sem problemas. Utilizando o jargão dos motoristas que trafegam em rodovias, Dias sustentou que a estrada está lisa, perfeita.
Segundo ele, as verbas deveriam ser destinadas para outras estradas em condições bem piores e, além do mais, a placa do Dnit já explica que a estrada recebeu recursos em 2001. Não entendo por que o governo federal está aplicando essa verba aqui, disse.
Apesar das intervenções anunciadas no trecho assinalado, a BR-122 requer atenção e cuidado em outros pontos, como nos que abrangem do Km-173,6 ao Km-210,9, cujas obras para melhoria no acostamento estreito foram transferidas para o Derba, conforme portarias 883/2003 e 85/2005.
O site do Dnit adverte os motoristas para terem atenção nesse trecho. Animais na pista, mato invadindo o acostamento em ambos os lados, sinalização deficiente ou encoberta são alguns riscos encontrados na mesma estrada, sentido Brumado, sudoeste baiano. Depois desse município, seguindo em direção a Vitória da Conquista, a rodovia é estadualizada e passa a se chamar BA-262.
É aí que passa a receber alguns cuidados na operação tapa-buracos. Nas duas viagens à região foram flagradas duas equipes de operários corrigindo imperfeições do asfalto, outrora remendado. O trabalho, conforme informou um dos operários do Derba, se estende de Aracatu ao entroncamento de Malhada de Pedras.
Motoristas que costumam se guiar por meio de mapas de bancas de revistas, é bom ter cuidado porque trechos com problemas graves constam nessas publicações como se estivessem conservados. Noutro ponto da BR-030, em vez de homens a serviço das empreiteiras, um solitário ex-motorista faz um trabalho de formiguinha.
Com um carrinho de mão, uma pá e terra, seu José da Silva, 63 anos, percorre o que restou do asfalto tapando enormes buracos a troco de gorjetas de motoristas. Se eu não tapasse, ninguém passava por aqui, gaba-se.
A rotina se repete há seis meses, segundo ele, das 6 às 18 horas, todos os dias, exceto aos domingos. É o que garante o sustento dele, da mulher e dos quatro filhos.