Um abraço simbólico na fonte da Praça da Piedade para representar proteção às águas do Rio São Francisco e uma jornada inteira de vigília marcaram o terceiro dia de apoio de diversas entidades ao jejum do bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio. O ato atende também a um chamado feito pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que escolheu nesta segunda-feira, 17, como o dia nacional para vigília e jejum solidário a dom Luiz.
"O pessoal vai se revezando e cada um colabora da maneira que pode. Tem gente que fica sem comer durante seis, 12 horas, outros rezam. Todo mundo aqui também trabalha", define Cátia Cardoso, membro da Cáritas Brasileira, uma das entidades envolvidas. O CD do trio Belo Sertão, com sanfona e violão, tocava alto a música em homenagem a dom Luiz Cappio. "Meu rio de São Francisco / nessa grande turvação / vim dar um gole d'água / e pedir tua bênção".
A vigília consiste em se colocar diante de Deus, em atitude de oração e contemplação. "Refletimos sobre a palavra de Deus para iluminar a realidade. Nessa leitura, o rio, como obra da criação divina, tem que ser revitalizado, e não transposto", esclarece o padre José Carlos, vice-presidente da Ação Social Arquidiocesana. Essa opinião é compartilhada pelo gari Severiano de Freitas, 57 anos. "Foi Deus quem fez assim e assim deve ficar", declara.
Desde sábado, diversas entidades, como a Via Campesina e Comissão Pastoral da Terra, estão no local recolhendo assinaturas e prestando esclarecimentos à população sobre a transposição do rio. "O que nós vemos é uma grande desinformação por parte da população sobre tudo o que está acontecendo", afirma Cátia. Segundo ela, em dois dias já foram recolhidas mais de cinco mil assinaturas num abaixo-assinado a ser entregue ao Supremo Tribunal Federal.
Ato ecumênico - Durante todo o dia, pronunciamentos, cantos e orações se alternaram com a exibição de uma entrevista com o bispo e vídeos sobre o Rio São Francisco. À noite, um vídeo com forte engajamento eleitoral contra o presidente Lula apontava possíveis contradições do mesmo em relação ao tema. "Essa gente do PT fala coisas para tentar enganar você", narrava um locutor do vídeo, exibido antes do ato ecumênico, iniciado pontualmente às 19h.
O horário coincide com o da missa celebrada diariamente na Capela do São Francisco, em Sobradinho, e se realizou para que as pessoas presentes na praça orassem em sintonia com o bispo. O pastor Joel Zeferino, da Igreja Batista de Nazareth, apóia a atitude de dom Luiz, da Igreja Católica, e participou do ato de solidariedade. Ele ressaltou que a mobilização contra a transposição é antiga e não é uma bandeira de apenas uma igreja ou religião. "Qualquer diferença religiosa tem que desaparecer em defesa do povo, em defesa de um cidadão brasileiro que está disposto a dar sua vida pelas comunidades ribeirinhas", ressaltou.