Com dinheiro ou sem dinheiro, a Mudança do Garcia ganha as ruas com habitual irreverência
Índio Camacã
Peço às musas do Olimpo
Proteção à poesia
Agora vou descrever
O Mudança do Garcia
Que saiu no Campo Grande
Na segunda, pelo dia
Clíope, Clio e Erato
Melpômene, Urânia e Tália
Terpsícore, Polímnia
Dançam na Casa de Itália
Euterpe no 2 de Julho
Limpando sua genitália
Condenados e Caçotes ,
E o bloco dos Bicudos
Junto ao clã dOs Rastafari
O tambor não fica mudo
Milton Moura tá parado
Em etílico estudo
Na Praça Marques de Olinda
Às 10, a concentração
Feijoada e sururu
Vem ao alcance da mão
Tem cerveja e batida
Até conhaque e uiscão
A política este ano
Não reinou e já não minto
Façanhas e citações
Retrataram padre Pinto
Saia justa cai no Papa
É apertado seu cinto
Não teve Oxum e nem Carmens
Com turbantes e bananas
O dizer dizia Pinto,
Rainha das Muquiranas
Eclesiástico assunto
Pelas últimas semanas
Outra faixa na carroça
Sobre o pároco da Lapinha:
Papa é melhor não punir
senão vai virar galinha
Um bêbo e uma mulher
Brigam por uma latinha
Meio-dia soltam fogos
Move-se, então, o cortejo
Negras, brancas e morenas
Deixam Gandhys no ensejo ,
Muquiranas maravilhas
Conseguem lhes roubar beijos
Sigo andando pela turba
Outra faixa no caminho
Chego perto para ver
Vou passando de fininho:
Faça como a galinha
E proteja seu pintinho
De paletó um homem ía
Calourento, o seu estado
João Caldas é o seu nome
Sou do padre advogado!
Jogo água na cabeça
O mormaço tá retado...
Os Negões já vêm da Vasco
Assanhando a multidão
As carroças seguem em fila
Estrume perfuma o chão
A charanga toca forte
Onde bate o coração
Flor do Samba está na rua
É aquele vuco-vuco
A multidão que se abre
Quando ali passa um maluco
Sua boca vem babando
Escorrendo estranho muco
Esquerdona, Esquerdinha
Esquerdista, esquerdóide
Direitinha, disfarçados
Direitistas são andróides
Pelos becos, o fuá
Movido a espermatozóide
Colégio Hildete Lomanto
Junto a Rua dos Artistas
Batidas de muitas cores
Cascos escorrem na pista
Menos de uma légua é
Quanto o Campo Grande dista
Meio dia soltam fogos
É a saída do cortejo
Negras, brancas e morenas
Deixam gandhys no ensejo ,
Muquiranas Maravilhas
Conseguem lhes roubar beijos
Carlos Bonfim com seus chifres
Com o sol ainda morno
Dizia em alto e bom som
Para todos no entorno
Bote aí no seu papel:
Eu nasci para ser corno
No meio da turba vai
Poeta de muitas mágoas
A seu lado travestis
Vestindo suas anáguas
Com sua cabeleira solta
É Carlinhos Cor das Águas
Sob o céu que era sem nuvem
O sol brasa era uma tocha
No Vieira a bandinha
Se safa no som do Arrocha
Muita gente torce o bico
E os travados se afroxam
Este ano, o povo viu
Repetiu-se o vai-não-vai
Burocratas das torneiras
Dinheiro, quase não cai
Na bucha, a Emtursa libera
R$ 20 mil, o bloco sai!
Safadinhas do Matatu ,
Atitude Quilombola
Aeroporto Dois de Julho
Não lhes sai da cachola
Sim, às cotas raciais
Militância faz escola
As 15 já no portão
Todo mundo quer entrar
Tem que espera Bell Marques
Chicleté & Chicletá
Axé babá nos ouvidos
É o jeito agüentar
Lázaro Ramos que foi
Não viu o pai sair na Band
Wagner Moura disfarçou
Com seu turbante do Gandhy
A organização desanda
Já não há quem não desande
O carro tá na Avenida
Firmino puxando as trovas
Artista de Itapuã
Cantando Você tá nova
Levanta quem já boiou
Defunto meche na cova
Luiz Alberto e Pellegrino
Deputados contumazes
De Brasília pra Mudança
Revisitaram as bases
Daniel Almeida vem
Do Pólo trazendo os gases
No camarote, escolhidos
Apreciam a fuzarca
Com cara que viam Noé
Abrindo os portões da arca
16 horas do dia
É o que meu relógio marca
Meus ouvidos presenciam
Na bagunça um colóquio:
O cartaz diz Paulo Souto
Você é um Pinóquio
Submarino do povo,
Levanta teu periscópio!
As gozações não perdoam
A esquerda salvação
Dizem Lula é culpado
De gerar o mensalão
As carroças estão em fila
Embolada a percussão
Negras sambam no asfalto
Sob o som dos Caçotes
Lula, os banqueiros estão
curtindo nos camarotes .
João Henrique criticado
Pelo seu arrocho forte
Quando as portas se abriram
Muquiranas na jogada
E foi aquela mistureba
Travetis, estudantada
Invadiram-se as carroças
Logo ficaram lotadas
A multidão já soldada
Por profanos maçaricos
Mulheres casadas, homens
Acontece o sassarico
Os blocos saem dali
Lhes expulsa o Psirico
Eles entram na avenida
E o povo se esfarela
Uns chegam na Piedade
Outro diz eu sou Varela!
Morgo no Politeama
Doido pra molhar a goela
E a bagunça do desfile
Acarretou em atraso
A Band calou as câmeras
TV Bahia? Descaso
Para os organizadores
Mudança foi um arraso